Conta um filósofo que, passando certa
vez por um cemitério, viu uma mulher sentada junto a um túmulo e abanando-lhe a
terra fresca. A curiosidade é a alma da filosofia. O filósofo aproximou-se e
pediu respeitosamente à mulher contar-lhe por que abanava aquele túmulo. A
mulher enrubesceu, mas não respondeu. E o filósofo prosseguiu no seu caminho.
Mas foi logo alcançado por uma jovem que lhe disse: “Ouvi-o dirigir uma
pergunta a minha ama. Posso responder-lhe por ela se me der cinco moedas que
pagarei no templo para obter o perdão dos meus pecados.”
O filósofo sorriu e entregou as
moedas; e a jovem disse:
“Minha ama era casada com um homem
que amava e de quem era amada apaixonadamente. Quando ele adoeceu e estava
agonizando, minha ama entrou em violento desespero.
− Prometo-lhe seguir-te ao túmulo,
dizia, pois para mim a vida sem ti é pior que a morte.
Mas meu amo disse-lhe: “Minha
querida, não prometas tanto.”
− Deixa-me pelo menos prometer que
nunca me casarei de novo. Pois quero ter um só marido como tenho uma só alma.
Mas meu amo disse-lhe: “Minha
querida, não prometas tanto. Promete-me apenas guardar fielmente minha memória
enquanto a terra não secar por cima de meu túmulo.”
Minha ama fez uma promessa solene, e
meu amo morreu.
O sepultamento foi atendido por
muitos amigos. Um deles, cavalheiro de grande distinção, falou à minha ama um
pouco de seu marido e muito de si mesma. E prometeu voltar breve.
Para não quebrar sua promessa, minha ama
está abanando a terra do túmulo para que seque antes do cavalheiro voltar.”
(Lenda antiga contada
por Anatole France)
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