Música e letra de Zé Ramalho
Um país que crianças elimina,
E não ouve o clamor dos
esquecidos.
Onde nunca os humildes são
ouvidos,
E uma elite sem Deus é que
domina.
Que permite um estupro em cada
esquina,
E a certeza da dúvida infeliz.
Onde quem tem razão passa a
servis
E maltratam o negro e a mulher.
Pode ser o país de quem quiser,
Mas não é, com certeza, o meu
país!
Um país onde as leis são
descartáveis
Por ausência de códigos corretos.
Com noventa milhões de
analfabetos,
E multidão maior de miseráveis.
Um país onde os homens confiáveis
não têm voz,
Não têm vez,
Nem diretriz,
Mas corruptos têm voz,
Têm vez,
Têm bis,
E o respaldo de um estímulo
incomum.
Pode ser o país de qualquer um,
Mas não é, com certeza, o meu
país!
Um país que os seus índios
discrimina,
E a Ciência e a Arte não
respeita.
Um país que ainda morre de
maleita
por atraso geral da Medicina.
Um país onde a Escola não ensina,
E o Hospital não dispõe de Raios
X.
Onde o povo da vila só é feliz,
Quando tem água de chuva e luz de
sol.
Pode ser o país do futebol,
Mas não é, com certeza, o meu
país!
Um país que é doente,
Não se cura.
Quer ficar sempre no terceiro
mundo,
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite
escura.
Um país que perdeu a compostura,
Atendendo a políticos sutis,
Que dividem o Brasil em mil
brasis
Para melhor assaltar, de ponta a
ponta.
Pode ser um país de faz de conta,
Mas não é, com certeza, o meu
país!
Um país que perdeu a identidade,
Sepultou o idioma Português,
Aprendeu a falar pornô e Inglês,
Aderindo à global vulgaridade.
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz,
E não sabe curar a cicatriz,
Desse povo tão bom que vive mal,
Pode ser o país do carnaval,
Mas não é, com certeza, o meu
país!
P.S. Há, na internet, essa música
cantada pelo próprio autor, Zé Ramalho. Há, ainda, uma declamação, à gaúcha, só da letra
por João de Almeida Neto.
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