terça-feira, 8 de maio de 2018

Ainda sobre Noel Rosa

Rio de janeiro, 11 de dezembro de 1910
 Rio de janeiro, 4 de maio de 1937.


Noel Rosa, 1916, com seis aninhos...

Versos verdes e imperfeitos de um jovem poeta

Violão meu amigo e conselheiro
Que sempre partilhou de minha dor
Na serenata sempre foi bom companheiro
Numa modinha, o meu melhor inspirador.

Nem bandolim nem violino bem tocado
Nem mesmo um cavaquinho em boa mão
Me fizeram ficar tão inspirado
Quanto fiquei com o som do meu violão.

Ele quem me ditou o canto e a rima
Ele quem a vibrar se acostumou
Soluça no bordão, geme na prima...

É quem me anima e me seduz
Juro deixar o mundo alegremente
Desde que tenha o violão por cruz.

Noel Rosa, o gozador


Noel Rosa, aluno do Colégio São Bento.

Esta nova turma está destinada a ser uma das melhores que já passaram pelo São Bento. Dela sairá gente fadada a vencer: médico, engenheiro, almirante, general, brigadeiro, advogado, professor, homem de empresa. E Noel Rosa. Que os novos colegas conhecem logo na primeira aula do surdo Mário Barreto, ele se levanta lá do fundo para perguntar:
− Professor, posso mijar no seu bolso?
− Sim, mas não demore.

Noutro dia, convencido de que Barreto está cada vez mais surdo, incapaz de distinguir o que sai de sua boca apenas entreaberta, torna a se levantar, a mão direita para o alto:
− Professor, posso comer a sua mãe?
− Pode ir, mas rápido.

Ao ver que a turma se une numa gargalhada, Barreto adverte:
− Não riam, meninos. Afinal, qualquer um pode ter a mesma necessidade.


Noel e sua Carteira de Identidade

Versos proféticos

Eu nascendo pobre e feio,
ia ser triste o meu fim.
Mas, crescendo, a bossa veio.
Deus teve pena de mim.


Trechos do livro “Noel Rosa uma biografia”,
de João Máximo e Carlos Didier.

 O último desejo de Noel Rosa 


Noel Rosa, já muito doente, pouco antes de sua morte.

Ainda segundo João Máximo e Carlos Didier, Aracy de Almeida* ouviu de Noel “Último desejo” no derradeiro encontro entre os dois. Dias depois, também em sua casa, o parceiro Vadico foi chamado a passá-lo para a pauta à medida que Noel lhe ditava os versos e a melodia dessa obra-prima de seu final de vida, e Vadico prometeu ao compositor escrever depois a parte de piano antes de encaminhá-la à editora. “Quero mais um favor seu, Vadico. Gostaria que você desse uma cópia da letra a Ceci.” Vadico cumpriu a promessa. A letra autobiográfica para uma melodia magistral terminava com um último pedido a quem Noel mais amou.

*Aracy de Almeida gravou "Último desejo" em 1º de julho de 1937. Noel Rosa havia falecido em 4 de maio.


Ceci, a musa de seu último desejo...

Último Desejo

Noel Rosa e Vadico

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João.
Morre hoje sem foguete,
Sem retrato e sem bilhete,
Sem luar, sem violão.
Perto de você me calo,
Tudo penso e nada falo,
Tenho medo de chorar.
Nunca mais quero o seu beijo,
Mas meu último desejo
Você não pode negar.

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não.
Diga que você me adora,
Que você lamenta e chora
A nossa separação.

Às pessoas que eu detesto,
Diga sempre que eu não presto,
Que meu lar é o botequim.
Que eu arruinei sua vida.
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim.

Noel Rosa tinha apenas 26 anos de idade

(Do livro “Copacabana – A trajetória do Samba-canção”,
de Zuza Homem de Mello)



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