domingo, 15 de abril de 2018

Maria de Tal



Maria de tal é seu nome!
Pedaço de trapo,
Monturo de gente,
Quer vive ao relento,
Morrendo de fome,
Na chuva e no vento...

- A vida... – alguém lhe dizia –
É triste, Maria!
É triste, depois...
E, uma porção de apelidos,
A vida lhe pôs.

“Maria-caolha”,
- Dizem no beco –
Já teve seu lar,
Muitos pimpolhos
E um nome comprido
Para assinar.

“Maria-faminta”,
Às vezes, é assim:
Nem bebe, nem come...
É negro o seu fim.

“Maria-sujona”,
- De nomes feios,
Sua boca anda cheia,
Quando a garotada da rua,
A garotada malvada,
Tenta fazê-la de bola de meia...
E, quantas vezes, o guarda-civil,
- Um pobre diabo sem eira nem beira –
Ainda lhe xinga um bocado,
Se alguma pudica donzela,
Fica corada,
Chegando à janela...
São coisas da vida, Maria!...

“Maria-vintém”,
“Parada sem dono”,
Não tem mais ninguém,
Rolando no mundo...
Sua história é dorida,
Você se confunde
Com a poeira da vida...

“Maria-cachaça”,
Tim-tim por Tim-tim,
De sua tragédia,
A cidade conhece
E acha graça!

“Maria-pedinte”,
Que dorme e amanhece,
Pedindo uma esmola,
Rezando uma prece...

- A vida... – alguém lhe dizia –
É triste, Maria!
É triste, depois...
E, uma porção de apelidos,
A vida malvada lhe pôs.

Maria de tal!
Nunca mais me esqueci de seu nome!

E, se acaso, a revejo
Me lembro da fome,
Fugindo da vida,
Na esquina perdida,
Da rua sem nome...

João Lopes Filho




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