Esta é a única foto
do casamento é a única que os pesquisadores
apontam como autêntica de João Jorge Maurer e Jacobina Mentz
apontam como autêntica de João Jorge Maurer e Jacobina Mentz
→ Os muckers eram uma pequena
comunidade religiosa situada ao pé do Morro Ferrabrás, no até então município de São Leopoldo. A
região era ocupada por imigrantes alemães, que haviam chegado ao Rio Grande do
Sul a partir de 1824.
→ O grupo religioso liderado por
Jacobina Mentz Maurer, foto acima, que se julgava uma reencarnação de Cristo e
que prometia construir a “cidade de Deus” para seus discípulos. Desde criança,
Jacobina passava por supostos “transes”, de modo que, neste estado,
diagnosticava doenças.
→ A família de Jacobina já tinha
um histórico de envolvimento em contendas religiosas na Alemanha. Os avós
imigraram para o Brasil fugindo de perseguições religiosas (ambos deixaram a
igreja evangélica e a escola e estabeleceram uma comunidade religiosa
independente com mais seis ou sete famílias, o que culminou na sua
perseguição). Quando chegaram ao Brasil em 1824, os primeiros imigrantes
alemães, dentre os quais os avós de Jacobina, foram recebidos pelo imperador Dom Pedro I
e pela imperatriz Leopoldina. Em seu encontro com
a imperatriz, Libório Mentz, o avô de Jacobina, confidenciou-lhe que viera para
o Brasil fugindo da repressão religiosa na Alemanha, e a imperatriz lhe
garantiu que no Brasil eles teriam garantida a liberdade de culto.
→ Em 1866, após se casar com João
Maurer, foto acima, sua fama começou a crescer. Na casa do casal se reunia um
grupo de adeptos cada vez maior, até que com o crescimento do número de
seguidores, Jacobina foi proclamada “Cristo”, tendo escolhido seus apóstolos.
Com o auxílio de plantas João Jorge Maurer curava pessoas, e como o médico mais
próximo se encontrava a três horas, a casa do casal passou a ser usada como um
pequeno hospital.
→ Os seguidores do casal seguiam
regras rígidas, tais como: não fumar, não beber e não ir às festas. Além disso,
eles começaram a tirar seus filhos das escolas comunitárias. Desta forma, a
resistência dos demais colonos aos seguidores do casal foi intensificada. Os
seguidores do casal Maurer chamavam os demais colonos de “spotter”
(debochadores), enquanto os colonos os apelidaram de “mucker” (falso religioso
ou santarrão).
O estopim
→ A relação entre os dois grupos
se deteriorava cada vez mais, o que levou o chefe da polícia local a prender
Jacobina e João Maurer, mas por falta de provas, o presidente da província do
Rio Grande do Sul ordenou que o casal fosse liberado.
→ Em seguida, a casa de Martinho
Kassel, um ex-seguidor do casal foi incendiada, tendo seus filhos e sua mulher
morrido no desastre. Após esse incidente, a casa de Carlos Brenner, um
comerciante local, foi também incendiada, e seus filhos faleceram. E ainda,
posteriormente, houve a execução de um tio de João Maurer que não queria fazer
parte da seita. De maneira que todos os crimes foram atribuídos aos muckers.
O perfil dos mucker
→ A historiografia conseguiu
identificar 249 membros do movimento mucker e é bem provável que o número total
de mucker, entre identificados e não identificados, fosse de 700 a 1.000 pessoas. As
crianças até 13 anos de idade representavam 30% dos adeptos; os adultos entre
33 e 47 anos eram 26% e formavam a liderança do grupo. 70% dos mucker adultos
eram casados e 9% eram idosos com mais de 58 anos. Todos os mucker eram de
origem alemã, mas 64% já eram nascidos no Brasil
e 94% destes eram descendentes de famílias antigas, que chegaram antes de 1830. Entre os 36%
nascidos na Alemanha, mais da metade chegou ao Brasil
quando ainda eram crianças.
→ A maioria dos mucker só sabiam
falar alemão; 57,3% eram analfabetos e 23,5%
semi-analfabetos (a própria Jacobina era semi-analfabeta). Apenas 42,5% dos
mucker eram proprietários dos seus próprios lotes e a maioria trabalhava em
terras de parentes ou de terceiros. Quanto à profissão, 69% dos homens adultos
eram lavradores, 13% eram artesões-lavradores e 11% eram artesões. No que
concerne à religião, 85% dos mucker eram protestantes,
sendo que 55% da população de São Leopoldo
pertencia a essa religião.
Desenvolvimento da Revolta dos Muckers
→ Ao escurecer de 28 de junho
de 1874, o coronel Genuíno Olympio de Sampaio, foto
abaixo, ordenou um ataque sobre a casa dos Maurer esperando obter sua prisão.
Mas o coronel Genuíno teve uma surpresa. Os
muckers entrincheirados em troncos de árvores e depressões de terreno que
conheciam muito bem, reagiram violentamente ao custo de 4 mortos e 30 feridos.
Sendo noite, o coronel Genuíno ordenou um retraimento
para 10 km
á retaguarda, em Campo Bom
atual.
→ Decorrido 21 dias, em 19 de julho de 1874, o coronel Genuíno com reforços recebidos,
inclusive 150 colonos alemães voluntários, atacou novamente o reduto mucker na
casa do casal Maurer. O ataque e reação foram violentos, sendo que morreram 12
homens e 8 mulheres muckers. Foram presos 6 homens e 36 mulheres e poucos
conseguiram fugir.
→ Cerca de 17 muckers se
retiraram para outro reduto. Eles constituíam parte das lideranças mais
expressivas. Para o coronel Genuíno pareceu que a vitória
tinha sido completa.
→ Ao amanhecer de 20 de julho de 1874, o acampamento legal foi atingindo por tiros de tocaia, disparados de
mato próximo. E teve lugar cerrado tiroteio. O coronel Genuíno teve cortada com um tiro
uma artéria da coxa, vindo a perecer, após esvair-se, em sangue, sem o socorro
do médico que se deslocava para São Leopoldo com os feridos.
→ A tropa do Exército, após
combater no dia 21, retraiu novamente para Campo Bom Assumiu o comando o
coronel César Augusto.
→ Em 21 de setembro de 1874, um novo ataque ao reduto dos muckers foi repelido,
com 5 mortos e 6 feridos do Exército. Quatro dias depois, no dia 25, a força civil composta de
colonos de Sapiranga, Taquara, Dois Irmãos e outras picadas, tentaram, sem
êxito, um ataque ao reduto mucker. Foi aí que o capitão Francisco Clementino
Santiago Dantas, que participara dos ataques iniciais ao lado do coronel Genuíno, se ofereceu ao Presidente
da Província para comandar o ataque final.
→ E em 2 de agosto
de 1874, decorrido 35 dias do início das operações contra os muckers, o capitão
Santiago Dantas atacou o último reduto dos fanáticos. No renhido combate
pereceram 17 muckers, dos quais 13 homem e 4 mulheres.
→ Os muckers, presos antes e
durante a luta, após processo em que foram condenados, apelaram e foram
liberados em 1883. Os muckers sobreviventes, para fugir às perseguições dos
habitantes do lugar, mudaram-se para a Terra dos Bastos, em Lajeado. Lá , no Natal
de 1898, foram atacados e chacinados por colonos da picada de Maio, por
acreditarem terem sido os assassinos bárbaros da senhora Shoreder, vitima, em
verdade, de seu marido, que a matara para casar com outra. Verdade que só veio
à luz depois do linchamento dos muckers remanescentes inocentes.
→ Participaram do combate aos
muckers os mais tarde coronéis Carlos Teles, que será sitiado por 46 dias
em Bagé, e João Cezar Sampaio, que o
libertou em 8 de janeiro de 1894, à frente da Divisão
do Sul.
→ O último era genro do
indigitado coronel Genuíno, morto no Ferrabraz.
Ambos, Carlos Teles e Sampaio, destacar-se-iam
por feitos heroicos em
Canudos. Nesse tempo, as tropas do Exército da guarnição do
Rio Grande do Sul sentiam os maléficos efeitos do Regulamento de Ensino do
Exército de 1874, de cunho bacharelesco.
→ No episódio do Ferrabraz,
tropas do exército, sem disporem de um desejável sistema de informações, foram
lançadas numa operação sangrenta, fruto da inabilidade das autoridades de São
Leopoldo e da Província. Em Canudos, isso se repetirá em maiores proporções. A
lição deste episódio foi ignorada em Canudos.
→ A resistência dos muckers
contou com o concurso de colonos veteranos da Guerra do Paraguai. Os muckers foram colonos
que ocuparam o Ferrabraz no centro do triângulo balizado por Novo Hamburgo,
Taquara e Gramado, povoado por imigrantes alemães agricultores. Estes colonos
sem assistência médica, religiosa e educacional entraram num processo de
decadência social e de empobrecimento.
→ Nesse quadro de abandono
despontaram as lideranças de João Maurer, um curandeiro a quem os colonos
confiavam sua saúde. A par disso, sua esposa Jacobina, na falta de padres e
pastores, passou a interpretar a Bíblia e assim a desfrutar grande
credibilidade que aumentou com seus ataques epilépticos, atribuídos e
explorados como encontros com Deus.
→ Jorge Maurer, cuidando do
corpo, e sua esposa, do espírito de um povo abandonado nas matas e grotas,
facilmente exerceram liderança que resultou no triste episódio de revolta que
tantas vidas imolou.
Bibliografia
Episódio do Ferrabraz - Os Muckers. São Leopoldo, de
Leopoldo Petry Ed. Rotermund. 1957.
A Nova face dos Muckers. São Leopoldo, de Moacyr Domingues,
Ed. Rotermund, 1977.
Leia também:
Capa do livro "Jacobina Maurer", de Elma Sant´Ana
Esta seria outra foto
de Jacobina,
mas aparentemente não existe confirmação.
mas aparentemente não existe confirmação.
→ O livro Os Mucker do padre
jesuíta Ambrosio Schüpp, o primeiro a ser escrito sobre o episódio mucker, era
abertamente contra Jacobina e seus seguidores e alimentou muito das ideias que
a região adotou e preservou sobre o conflito.
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