segunda-feira, 12 de março de 2018

O retorno dramático



Esta história já foi contada numa bela canção country americana, composta por Irwin Levine e L. Russel Brown (Tie a Yellow Ribbon round the Old Oak Tree, de 1973)*, mas vou tentar contar da minha maneira.

*****

Um dia de inverno no Sul, mês de julho, na última semana, os passageiros, que viajariam para aquela cidade do interior gaúcho, começaram a tomar seus lugares no ônibus de linha que os levariam ao seu destino. Pessoas simples, que voltavam ao seu pago para rever parentes ou retornar às suas residências. Um grupo de jovens, estudantes da capital, estava no ônibus para aproveitar a última semana de suas férias.

No início da viagem, os estudantes começaram a cantar alegres canções, antecipando o prazer de voltar para casa e rever seus entes queridos. As pessoas, que também estavam no ônibus, compartilhavam alegremente o clima que os jovens transmitiam a uma viagem que poderia ser cansativa. Todos estavam felizes... menos um passageiro.

As paisagens verdejantes do pampa gaúcho foram vislumbradas por todos que estavam no veículo, a cantoria tomou conta do ambiente. Um dos estudantes, com seu violão, andou pelo corredor, incentivando que todos cantassem juntos uma conhecida melodia gaúcha, o que foi feito por todas as pessoas. Todos cantaram alegres... menos um passageiro.

Numa parada obrigatória, todos saíram do ônibus para uma chegada nos banheiros, para fazer um rápido lanche ou tomar um cafezinho. Todos fizeram isso... menos um passageiro.

Na retomada da viagem, um dos jovens estudantes começou a contar uma história de colégio muito engraçada, todos riram da sua narrativa do fato cômico... menos um passageiro.

A melancolia daquele homem, sentado sozinho, de cabeça baixa, sempre olhando para o chão, começou a ser notada pelos estudantes e por outros passageiros.

Uma jovem resolveu puxar conversa com o desconhecido. O homem estava pálido, suas mãos estavam trêmulas, ele não conseguia esconder sua ansiedade e seu nervosismo. Mas a moça foi insistente e paciente, começou, lentamente, a pegar a confiança do desconhecido. Este, depois de alguns minutos, resolveu abrir seu coração. Outros jovens, por curiosidade, também se aproximaram do desconhecido.

O homem, com algum receio, começou a contar a história de sua vida:

− Amigos, em respeito a essa moça que, gentilmente, veio falar comigo, vou abrir meu coração com vocês, e dizer o porquê da minha flagrante ansiedade. O ônibus que estamos viajando passa defronte a casa em que morei durante muitos anos. Há muito tempo, por ser um homem de negócios, envolvi-me em uma negociata. Por uma fraqueza de caráter e ambição, fiz uma coisa que não devia ter feito. Fui denunciado, julgado e condenado a três anos de prisão, pena a ser cumprida no presídio da capital. No último dia de liberdade, fiz um pedido à minha esposa que nunca me visitasse na cadeia, pois não a receberia por vergonha do que fiz a mim e à minha família. Pedi que tocasse a sua vida e me esquecesse.

Cumpri a minha pena, escrevi para ela que no dia eu fosse solto, e se nós ainda pudéssemos recomeçar nossa vida juntos, quando o ônibus passasse defronte a nossa casa, na beira da estrada, que ela colocasse no antigo carvalho do nosso pátio, no tronco da árvore, apenas uma fita de cor amarela, na esperança que eu ainda seria bem recebido e recomeçaria o nosso amor que nunca deixei de sentir por ela e por nossos filhos.

Os jovens ficaram comovidos com a história do desconhecido e todos ficaram torcendo por ele. O homem não conseguia mais controlar seu nervosismo e sua ansiedade. O ônibus estava cada vez mais próximo de sua casa, seria logo depois de uma curva, o motorista diminuiu a marcha, todos os olhares estão grudados na janela, a casa aparece ao longe, avistam o carvalho e, em todo o longo tronco da árvore, não há só uma fita de cor amarela amarrada em volta, mas centenas fitas amarelas...

Então, ele sentiu que ainda era muito amado e seria bem-vindo àquele lar.


(Nilo da Silva Moraes)

*****

*A ideia da música nasceu de uma história real, que teve como protagonista um condenado que recebe seu passe para a liberdade depois de passar um longo período atrás das grades. O jornalista Pete Hamill publicou um bom artigo no jornal “New York Post” intitulado 'Going home' em outubro de 1971. Foi reimpresso na revista “Reader's Digest” em junho de 1972 e, alguns meses depois, os compositores Irwin Levine e L. Russell Brown escreveram um tema com o título “Amarrar uma fita amarela ao redor do oleiro”. De acordo com Levine e Brown, a música se formou depois de ler essa história e, obviamente, eles tiraram pedaços dessa história real e misturavam com outra fantasia, para tornar a música mais comercial.

A canção

Tie A Yellow Ribbon Round The Ole Oak Tree

Larry R. Brown, Irwin Levine

I'm coming home. I've done my time.
Now I've got to know what is and isn't mine.
If you received my letter telling you I'd soon be free,
Then you'll know just what to do if you still want me,
If you still want me.
Oh, tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
It's been three long years.
Do you still want me?
(Still want me?)
If I don't see a ribbon 'round the ole oak tree,
I'll stay on the bus,
Forget about us,
Put the blame on me,
If I don't see a yellow ribbon 'round the ole oak tree.

Bus driver, please look for me,
Cause I couldn't bear to see what I might see.
I'm really still in prison, and my love, she holds the key.
A simple yellow ribbon's what I need to set me free.
I wrote and told her please.
Oh, tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
It's been three long years.
Do you still want me?
(Still want me?)
If I don't see a ribbon 'round the ole oak tree,
I'll stay on the bus,
Forget about us,
Put the blame on me,
If I don't see a yellow ribbon 'round the ole oak tree.

Now the whole damn bus is cheering,
And I can't believe I see,
A hundred yellow ribbons 'round the ole oak tree.
I'm coming home, hmm-hmm.

A tradução

Amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.

Estou voltando pra casa. Já completei o meu tempo.
Agora eu tenho de saber o que é e o que não é meu.
Se você recebeu a minha carta avisando que eu estaria em breve livre,
Então você saberá exatamente o que fazer se você ainda me quer,
Se você ainda me quer.
Oh, amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Foram três longos anos.
Você ainda me quer?
(Ainda me quer?)
Se eu não vir uma fita em volta do velho carvalho,
Vou ficar no ônibus,
Esqueça-nos,
Ponha a culpa em mim,
Se eu não vir uma fita amarela em volta do velho carvalho.

Motorista do ônibus, por favor, procure para mim,
Porque eu poderia não suportar ver o que eu possa ver.
Estou na verdade ainda na prisão, e meu amor, ela detém a chave.
De uma simples fita amarela é o que eu preciso para definir-me livre.
Eu escrevi e disse a ela, por favor.
Oh, amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Foram três longos anos.
Você ainda me quer?
(Ainda me quer?)
Se eu não vir uma fita em volta do velho carvalho,
Vou ficar no ônibus,
Esqueça-nos,
Ponha a culpa em mim,
Se eu não vir uma fita amarela em volta do velho carvalho.

Agora todo o maldito ônibus está aplaudindo,
E eu não posso acreditar no que vejo,
Cem fitas amarelas em volta do velho carvalho.
Estou voltando pra casa, hmm-hmm.


*****

P.S. Escute essa bela canção, há varias interpretações na internet, a melhor é com o cantor Tony Orlando & Dawn, num antigo vídeo clipe do cantor. Também há, na internet, uma gravação antiga com a orquestra de Ray Conniff e seu coral.

Uma fita amarela


Como é profundo e aterrorizante o medo de decepcionar a quem se ama… o medo de perder a admiração de quem justamente mais desejamos, ardentemente, que nos admire!

Uma velha e adocicada canção country americana, composta por Irwin Levine e L. Russel Brown (Tie a Yellow Ribbon round the Old Oak Tree) conta uma singela fábula sobre isso… a letra da canção narra a história de um homem torturado pelo medo de ter decepcionado a mulher que amava, e assim ter de enfrentar a possibilidade de que ela não o ame mais.

Em resumo, a letra é narrada do ponto de vista de um passageiro de ônibus. Este personagem estava preso durante os últimos três anos, tendo finalmente recebido a liberdade. O ônibus o está levando de volta para casa. A canção não deixa claro por que motivo o protagonista estava preso, que delitos cometeu, mas isso nem é relevante.

Ele explica aos demais passageiros do ônibus que o que mais o fere é a possibilidade de que sua mulher tenha deixado de lhe amar nestes três anos – de que ver seu homem cometer um crime e ser humilhado perante a sociedade tenha partido seu coração de forma irremediável. Está implícito o quanto ele se sente envergonhado, que considera justa a punição (cumpri minha pena, paguei o que devia) – mas não obstante ter recuperado a liberdade, ela nada lhe valerá sem o amor da mulher que deixou para trás. Ele não se julga mais digno do amor dela.

A dúvida que ele tem é, basicamente, se ainda MERECE o amor daquela senhorita que foi forçado a abandonar três anos atrás. Incapaz de perguntar diretamente à moça, temeroso de conhecer de antemão a verdade, ele tece um pequeno estratagema: pouco antes de ser solto, escreve uma carta à sua amada. Não pede nem aguarda uma resposta… diz apenas que no dia tal, a tal horário, estará dentro do ônibus que passará em frente a sua antiga casa. Ora, no quintal desta casa, muito imponente e sereno, está fincado um velho carvalho sob o qual o casal teria passado horas românticas em tempos passados. Ele pede a ela um único sinal:

Se você ainda me amar, amarre uma fita amarela ao redor do velho carvalho. Essa fita, eu a verei de longe. Se eu não vir uma fita amarela ao redor do carvalho, eu ficarei no ônibus, nem vou descer. Esquecerei tudo o que houve entre nós, pode pôr a culpa em mim, siga sua vida, seja feliz. Se houver uma fita amarela no carvalho, eu descerei e conversaremos. Se não houver uma fita amarela ao redor do carvalho, ficarei no ônibus e de algum modo tocarei minha vida adiante.

Nosso herói, então, termina de contar a história para todos os passageiros do ônibus, que compreensivelmente estão ansiosos para saber o desfecho da cena. Quando o ônibus vira a esquina de sua casa, ele, incapaz de encarar o carvalho, pergunta aos demais passageiros se há ou não uma fita ao redor da árvore. E então ouve dezenas de estrondosas risadas… todo o ônibus está rindo alegremente. Ele abre os olhos e mal pode acreditar no que vê:

Há centenas de brilhantes fitas amarelas amarradas ao redor do velho carvalho!

Arlei Rockenbach, no Blog Polifonias

O significado da fita amarela


→ Nos Estados Unidos, a fita amarela é usada como símbolo de solidariedade para com alguém que está longe de casa. Significa a esperança de que a pessoa retorne em segurança e rapidamente. Com o passar dos anos, inúmeras causas fizeram com que esse símbolo fosse se perdendo gradativamente. Porem, em 2001, após o envio de tropas para o oriente médio, o simbolismo da fita ressurge com muita força. Os americanos em sua grande maioria voltaram a associar a fita amarela ao retorno dos militares para casa.




7 comentários:

  1. Tie A Yellow Ribbon Round The Ole Oak Tree

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  2. Valeu pela dica, amigo Damazio, li esta história numa Seleções nos anos 50 e nunca mais me esqueci dela. Reescrevi de memória, e a bela história estava, também, numa música!

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  3. Escutei,

    Realmente uma Bela Canção!


    Fica a dica!!!

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  4. Desde os anos 80, era fã desta canção na interpretação de Ray Conniff, embora na época não compreendesse a letra da música. Agora em 2021, pesquisando letra, tradução e história da música, identifiquei-me com ela: estive "preso" por cinco anos, mas não pude "descer do ônibus", pois não avistei o "laço de fita amarelo em volta do velho carvalho" e, portanto, permaneci no ônibus e segui viagem. Infelizmente, não tive a mesma felicidade do personagem da história. Coisas da vida...

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  5. Bonita a sua história, amigo Álamo, todos nós deveríamos ter sempre, em alguma época de nossas vidas, um carvalho com fitas amarelas a nos esperar...

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  6. Uma das mais belas canções dos anos 70, acompanhada de tão belo conto

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