Esta história já foi contada numa
bela canção country americana, composta por Irwin Levine e L. Russel Brown (Tie
a Yellow Ribbon round the Old Oak Tree, de 1973)*, mas vou tentar contar da minha maneira.
*****
Um dia de inverno no Sul, mês de
julho, na última semana, os passageiros, que viajariam para aquela cidade do
interior gaúcho, começaram a tomar seus lugares no ônibus de linha que os
levariam ao seu destino. Pessoas simples, que voltavam ao seu pago para rever
parentes ou retornar às suas residências. Um grupo de jovens, estudantes da
capital, estava no ônibus para aproveitar a última semana de suas férias.
No início da viagem, os estudantes começaram a cantar alegres canções,
antecipando o prazer de voltar para casa e rever seus entes queridos. As
pessoas, que também estavam no ônibus, compartilhavam alegremente o clima que os jovens
transmitiam a uma viagem que poderia ser cansativa. Todos estavam felizes... menos um passageiro.
As paisagens verdejantes do pampa
gaúcho foram vislumbradas por todos que estavam no veículo, a cantoria tomou
conta do ambiente. Um dos estudantes, com seu violão, andou pelo corredor,
incentivando que todos cantassem juntos uma conhecida melodia gaúcha, o que foi
feito por todas as pessoas. Todos cantaram alegres... menos um passageiro.
Numa parada obrigatória, todos
saíram do ônibus para uma chegada nos banheiros, para fazer um rápido lanche ou
tomar um cafezinho. Todos fizeram isso... menos um passageiro.
Na retomada da viagem, um dos jovens
estudantes começou a contar uma história de colégio muito engraçada, todos
riram da sua narrativa do fato cômico... menos um passageiro.
A melancolia daquele homem, sentado
sozinho, de cabeça baixa, sempre olhando para o chão, começou a ser notada
pelos estudantes e por outros passageiros.
Uma jovem resolveu puxar conversa com
o desconhecido. O homem estava pálido, suas mãos estavam trêmulas, ele não conseguia
esconder sua ansiedade e seu nervosismo. Mas a moça foi insistente e paciente,
começou, lentamente, a pegar a confiança do desconhecido. Este, depois de
alguns minutos, resolveu abrir seu coração. Outros jovens, por curiosidade,
também se aproximaram do desconhecido.
O homem, com algum receio, começou a
contar a história de sua vida:
− Amigos, em respeito a essa moça
que, gentilmente, veio falar comigo, vou abrir meu coração com vocês, e dizer o
porquê da minha flagrante ansiedade. O ônibus que estamos viajando passa
defronte a casa em que morei durante muitos anos. Há muito tempo, por ser um
homem de negócios, envolvi-me em uma negociata. Por uma fraqueza de caráter e
ambição, fiz uma coisa que não devia ter feito. Fui denunciado, julgado e
condenado a três anos de prisão, pena a ser cumprida no presídio da capital. No último
dia de liberdade, fiz um pedido à minha esposa que nunca me visitasse na cadeia, pois não a receberia por vergonha do que fiz a mim e à minha família.
Pedi que tocasse a sua vida e me esquecesse.
Cumpri a minha pena, escrevi para ela
que no dia eu fosse solto, e se nós ainda pudéssemos recomeçar nossa vida
juntos, quando o ônibus passasse defronte a nossa casa, na beira da estrada, que ela colocasse no antigo carvalho do nosso pátio, no tronco da árvore, apenas uma fita de cor amarela, na
esperança que eu ainda seria bem recebido e recomeçaria o nosso amor que nunca
deixei de sentir por ela e por nossos filhos.
Os jovens ficaram comovidos com a
história do desconhecido e todos ficaram torcendo por ele. O homem não
conseguia mais controlar seu nervosismo e sua ansiedade. O ônibus estava cada
vez mais próximo de sua casa, seria logo depois de uma curva, o motorista
diminuiu a marcha, todos os olhares estão grudados na janela, a casa aparece ao
longe, avistam o carvalho e, em todo o longo tronco da árvore, não há só uma
fita de cor amarela amarrada em volta, mas centenas fitas amarelas...
(Nilo da Silva
Moraes)
*****
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*A ideia da música nasceu de uma
história real, que teve como protagonista um condenado que recebe seu passe
para a liberdade depois de passar um longo período atrás das grades. O
jornalista Pete Hamill publicou um bom artigo no jornal “New York Post” intitulado
'Going home' em outubro de 1971. Foi reimpresso na revista “Reader's Digest” em
junho de 1972 e, alguns meses depois, os compositores Irwin Levine e L. Russell
Brown escreveram um tema com o título “Amarrar uma fita amarela ao redor do
oleiro”. De acordo com Levine e Brown, a música se formou depois de ler essa
história e, obviamente, eles tiraram pedaços dessa história real e misturavam
com outra fantasia, para tornar a música mais comercial.
A canção
Tie A Yellow Ribbon Round The
Ole Oak Tree
Larry R. Brown, Irwin Levine
I'm coming
home. I've done my time.
Now I've
got to know what is and isn't mine.
If you
received my letter telling you I'd soon be free,
Then you'll
know just what to do if you still want me,
If you
still want me.
Oh, tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
Oh, tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
It's been
three long years.
Do you
still want me?
(Still want
me?)
If I don't
see a ribbon 'round the ole oak tree,
I'll stay
on the bus,
Forget
about us,
Put the
blame on me,
If I don't
see a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
Bus driver,
please look for me,
Cause I couldn't
bear to see what I might see.
I'm really
still in prison, and my love, she holds the key.
A simple
yellow ribbon's what I need to set me free.
I wrote and
told her please.
Oh, tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
Oh, tie a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
It's been
three long years.
Do you
still want me?
(Still want
me?)
If I don't
see a ribbon 'round the ole oak tree,
I'll stay
on the bus,
Forget
about us,
Put the
blame on me,
If I don't
see a yellow ribbon 'round the ole oak tree.
Now the
whole damn bus is cheering,
And I can't
believe I see,
A hundred
yellow ribbons 'round the ole oak tree.
I'm coming
home, hmm-hmm.
A tradução
Amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Estou voltando pra casa. Já completei o meu tempo.
Agora eu tenho de saber o que é e o que não é meu.
Se você recebeu a minha carta avisando que eu estaria em
breve livre,
Então você saberá exatamente o que fazer se você ainda me
quer,
Se você ainda me quer.
Oh, amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Oh, amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Foram três longos anos.
Você ainda me quer?
(Ainda me quer?)
Se eu não vir uma fita em volta do velho carvalho,
Vou ficar no ônibus,
Esqueça-nos,
Ponha a culpa em mim,
Se eu não vir uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Motorista do ônibus, por favor, procure para mim,
Porque eu poderia não suportar ver o que eu possa ver.
Estou na verdade ainda na prisão, e meu amor, ela detém a
chave.
De uma simples fita amarela é o que eu preciso para
definir-me livre.
Eu escrevi e disse a ela, por favor.
Oh, amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Oh, amarre uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Foram três longos anos.
Você ainda me quer?
(Ainda me quer?)
Se eu não vir uma fita em volta do velho carvalho,
Vou ficar no ônibus,
Esqueça-nos,
Ponha a culpa em mim,
Se eu não vir uma fita amarela em volta do velho carvalho.
Agora todo o maldito ônibus está aplaudindo,
E eu não posso acreditar no que vejo,
Cem fitas amarelas em volta do velho carvalho.
Estou voltando pra casa, hmm-hmm.
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P.S. Escute essa bela canção, há varias interpretações na internet, a melhor é com o cantor Tony Orlando & Dawn, num antigo vídeo clipe do cantor. Também há, na internet, uma gravação antiga com a orquestra de Ray Conniff e seu coral.
Uma fita
amarela
Como é profundo e aterrorizante o
medo de decepcionar a quem se ama… o medo de perder a admiração de quem
justamente mais desejamos, ardentemente, que nos admire!
Uma velha e adocicada canção country
americana, composta por Irwin Levine e L. Russel Brown (Tie a Yellow Ribbon
round the Old Oak Tree) conta uma singela fábula sobre isso… a letra da canção
narra a história de um homem torturado pelo medo de ter decepcionado a mulher
que amava, e assim ter de enfrentar a possibilidade de que ela não o ame mais.
Em resumo, a letra é narrada do ponto
de vista de um passageiro de ônibus. Este personagem estava preso durante os
últimos três anos, tendo finalmente recebido a liberdade. O ônibus o está
levando de volta para casa. A canção não deixa claro por que motivo o
protagonista estava preso, que delitos cometeu, mas isso nem é relevante.
Ele explica aos demais passageiros do
ônibus que o que mais o fere é a possibilidade de que sua mulher tenha deixado
de lhe amar nestes três anos – de que ver seu homem cometer um crime e ser
humilhado perante a sociedade tenha partido seu coração de forma irremediável.
Está implícito o quanto ele se sente envergonhado, que considera justa a punição
(cumpri minha pena, paguei o que devia) – mas não obstante ter recuperado a
liberdade, ela nada lhe valerá sem o amor da mulher que deixou para trás. Ele
não se julga mais digno do amor dela.
A dúvida que ele tem é, basicamente,
se ainda MERECE o amor daquela senhorita que foi forçado a abandonar três anos
atrás. Incapaz de perguntar diretamente à moça, temeroso de conhecer de antemão
a verdade, ele tece um pequeno estratagema: pouco antes de ser solto, escreve
uma carta à sua amada. Não pede nem aguarda uma resposta… diz apenas que no dia
tal, a tal horário, estará dentro do ônibus que passará em frente a sua antiga
casa. Ora, no quintal desta casa, muito imponente e sereno, está fincado um velho
carvalho sob o qual o casal teria passado horas românticas em tempos passados.
Ele pede a ela um único sinal:
Se você ainda me amar, amarre uma fita
amarela ao redor do velho carvalho. Essa fita, eu a verei de longe. Se eu não
vir uma fita amarela ao redor do carvalho, eu ficarei no ônibus, nem vou
descer. Esquecerei tudo o que houve entre nós, pode pôr a culpa em mim, siga
sua vida, seja feliz. Se houver uma fita amarela no carvalho, eu descerei e
conversaremos. Se não houver uma fita amarela ao redor do carvalho, ficarei no
ônibus e de algum modo tocarei minha vida adiante.
Nosso herói, então, termina de contar
a história para todos os passageiros do ônibus, que compreensivelmente estão
ansiosos para saber o desfecho da cena. Quando o ônibus vira a esquina de sua
casa, ele, incapaz de encarar o carvalho, pergunta aos demais passageiros se há
ou não uma fita ao redor da árvore. E então ouve dezenas de estrondosas
risadas… todo o ônibus está rindo alegremente. Ele abre os olhos e mal pode
acreditar no que vê:
Há centenas
de brilhantes fitas amarelas amarradas ao redor do velho carvalho!
Arlei Rockenbach, no
Blog Polifonias
O significado
da fita amarela
→ Nos Estados Unidos, a fita
amarela é usada como símbolo de solidariedade para com alguém que está longe de
casa. Significa a esperança de que a pessoa retorne em segurança e rapidamente.
Com o passar dos anos, inúmeras causas fizeram com que esse símbolo fosse se
perdendo gradativamente. Porem, em 2001, após o envio de tropas para o oriente
médio, o simbolismo da fita ressurge com muita força. Os americanos em sua
grande maioria voltaram a associar a fita amarela ao retorno dos militares para
casa.
Tie A Yellow Ribbon Round The Ole Oak Tree
ResponderExcluirValeu pela dica, amigo Damazio, li esta história numa Seleções nos anos 50 e nunca mais me esqueci dela. Reescrevi de memória, e a bela história estava, também, numa música!
ResponderExcluirEscutei,
ResponderExcluirRealmente uma Bela Canção!
Fica a dica!!!
Desde os anos 80, era fã desta canção na interpretação de Ray Conniff, embora na época não compreendesse a letra da música. Agora em 2021, pesquisando letra, tradução e história da música, identifiquei-me com ela: estive "preso" por cinco anos, mas não pude "descer do ônibus", pois não avistei o "laço de fita amarelo em volta do velho carvalho" e, portanto, permaneci no ônibus e segui viagem. Infelizmente, não tive a mesma felicidade do personagem da história. Coisas da vida...
ResponderExcluirBonita a sua história, amigo Álamo, todos nós deveríamos ter sempre, em alguma época de nossas vidas, um carvalho com fitas amarelas a nos esperar...
ResponderExcluirUma das mais belas canções dos anos 70, acompanhada de tão belo conto
ResponderExcluirValeu pelo comentário, amigo Delnero.
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