segunda-feira, 5 de março de 2018

O primeiro samba-canção brasileiro



¨Linda Flor”

Além de ser uma bela composição, Linda Flor entra para a história da música popular brasileira como o primeiro samba-canção a fazer sucesso. Mas até conquistar a preferência do público, esta composição recebeu três versões de diferentes letristas: a primeira, de Cândido Costa, com o título de “Linda flor”, lançada por Dulce de Almeida na comédia A Verdade do Meio Dia e gravada por Vicente Celestino; a segunda, de Freire Júnior, com o título de Meiga Flor, gravada por Francisco Alves; e a terceira e definitiva, de Luiz Peixoto, cantada por Aracy Cortes na revista Miss Brasil e no disco, com o título de Iaiá, mas que se tornou conhecida como Ai, Ioiô.

Na realidade, essa terceira versão só existiu porque Aracy rejeitou as anteriores. Como a canção estava no repertório de Miss Brasil, o libretista da peça, Luiz Peixoto, teve de criar às pressas os novos versos, que foram escritos no intervalo de um ensaio, em pleno palco do Teatro Recreio. Bem feminina, Linda Flor tem entre suas intérpretes algumas deusas da canção brasileira como Isaura Garcia, Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Zezé Gonzaga e, naturalmente, Aracy Cortes, que a popularizou. Como curiosidade, para os que acham que o termo “samba-canção” só surgiu em meados dos anos trinta, reproduzimos uma nota publicada no n° 16, de 30 de março de 1929, da revista Phonoarte: Ai, Ioiô (Linda Flor), o samba canção que todos conhecem, acha-se impresso pela Casa Vieira Machado”.

(Do Blog Museu da Canção)

“Meiga Flor”, de Henrique Vogeler e Freire Júnior − Esta música foi gravada por Francisco Alves em janeiro de 1929, (disco Parlophon n° 12.909. Com a mesma melodia, foi gravada também outra letra que é a mais conhecida, “Ai Ioiô”, Henrique Vogeler e Luiz Peixoto. Mas a gravação histórica de Linda Flor é de Aracy Cortes, em 1929, sendo considerado o primeiro samba-canção gravado no Brasil, segundo pesquisa do livro “Copacabana A trajetória do samba-canção (1929-1958)”, de Zuza Homem de Mello.

Linda Flor*

Henrique Vogeler − Cândido Costa

Linda flor,
Tu não sabes, talvez,
Quanto é puro o amor,
Que me inspira, não crês...
Nem sobre mim teu olhar
Veio um dia pousar...
E ainda aumenta a minha dor
Com cruel desdém!

Teu amor,
Tu por fim me darás,
É o grande fervor
Com que te amo verás...
Sim, teu escravo serei,
A teus pés cairei
Ao te ver, minha enfim.
Felizes então, minha flor,
Verás a extensão deste amor,
Ditosos os dois e unidos enfim
Teremos depois só venturas sem fim!

Meiga Flor**

Henrique Vogeler – Freire Júnior

Meiga flor,
Não te lembras, talvez,
Das promessas de amor,
Que te fiz, já não crês.
Se queres me abandonar,
Procurando negar,
Que juraste a mim também,
Minha ser, meu bem...

Meu amor,
Porque negas, ó flor,
Sempre fui tão sincero,
Eu te quis, eu te quero.
Sei que sem ti morrerei,
És o meu ideal,
Minha vida, afinal.

Se amas alguém, meiga flor,
Se mais te convém outro amor,
Eu quero partir
Para não mais te ver,
Eu quero é fugir
E bem longe morrer...

Ai, Ioiô (Linda Flor)***

Henrique Vogeler – Luiz Peixoto

Ai, Ioiô,
Eu nasci pra sofrer,
Fui olha pra você,
Meus olhinho fechou,
E, quando os olhos eu abri,
Quis gritar, quis fugir,
Mas você, eu não sei por quê,
Você me chamou.

Ai, Ioiô,
Tenha pena de mim,
Meu Senhor do Bonfim,
Pode inté se zangá,
Se ele um dia souber
Que você é que é,
O Ioiô de Iaiá.

Chorei toda a noite e pensei,
Nos beijos de amor que eu te dei,
Ioiô, meu benzinho,
Do meu coração,
Me leva pra casa,
Me deixa mais não!

*      Na voz de Francisco Alves
**    Na voz Vicente Celestino
***  Na voz de Aracy Cortes


P.S.1: Também aparecia nos libretos como Yayá.

P.S.2: Há, na internet, as três gravações dessa música nas vozes de Vicente Celestino, Francisco Alves e Aracy Cortes.


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