sábado, 17 de março de 2018

Até o amor acontecia no Nick Bar…



Teatro Brasileiro de Comédia, em seu interior ficava o Nick Bar.

… Joe Kantor fora o proprietário do bar de localização mais singular da cidade.

Bastava atravessar uma porta à esquerda da sala de espera do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, na rua Major Diogo, para compartilhar do ambiente mais fervilhante da boemia paulista. Você estava em pleno Nick Bar*, assim batizado por ter sido o título nacional da primeira peça de real sucesso no TBC, The time of your life, de William Saroyan. Mesas quase grudadas umas nas outras, um serviço mais ou menos, um delicioso sanduíche de galinha, muita bebida, fumaça, um tremendo vozerio, nada incomodava ninguém, naquele ambiente de alegria sem fim, de encontros tão inesperados quanto possíveis. Atores de cinema e de teatro, cantores de rádio, gente badalada, a grã-finagem, os abonados e os desabonados completavam o cenário com trilha sonora de sambas-canção executados pelo sofisticado pianista italiano Enrico Simonetti. Eis o que ficou para sempre na memória de quem frequentou o Nick Bar. Foi a inspiração quase inevitável que levou o humorista José Vasconcelos a arriscar uma parceria inusitada com o prodigioso violonista e vanguardista compositor Garoto, num dos sambas-canção que mais marcaram a carreira de Dick Farney, “Nick Bar”, que se inicia com o diálogo de um freguês chegando sozinho e pedindo ao garçom uma mesa próxima ao piano.

* “Nick Bar”, composição de Garoto e José Vasconcelos, gravada por Dick Farney em outubro de 1951 com Radamés Gnattalli (piano), Garoto (violão), Vidal (baixo) e Trinca (bateria).

(Do livro “Copacabana A trajetória do samba-canção”,
de Zuza Homem de Mello)

Nick Bar

Garoto e José Vasconcelos

(Diálogo entre garçom e cliente)

Garçom: − Boa noite!
Freguês: − Boa noite!
Garçom: − Ué, sozinho hoje?
Freguês: − Estou!
                            E... queria aquela mesa perto do piano.
Garçom: − Pois não!
Freguês: − Maestro!

(Cliente cantando…)

Foi neste bar pequenino,
Onde encontrei meu amor,
Noites e noites sozinho,
Vivo curtindo uma dor.
Todas as juras sentidas,
Que o coração já guardou,
Hoje são coisas perdidas,
Que o eco ouviu e calou.
Você partiu e me deixou,
Não sei viver sem seu olhar,
E o que sonhei só me lembrou
Nossos encontros no Nick Bar.

              (Cliente saindo do bar...)

Garçom: − Boa noite!
Freguês: − Boa noite!

No número 311 da rua Major Diogo, vizinho ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), o Nick Bar foi, entre 1949 e 1964, uma espécie de extensão do camarim para artistas, intelectuais e público em geral.



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