domingo, 11 de fevereiro de 2018

O primeiro ônibus no Bairro da Tristeza

Roberto Pellin


Era “ômnibus” que se escrevia e começou a rodar no mês de agosto de 1926.

Aos domingos, o trem andava superlotado e para cá vinham também alguns ônibus e caminhões de carga em excursão. Os irmãos Anatalino e Arquimino Tavares da Gama julgaram que a exploração da linha seria um bom negócio, por isso compraram um ônibus (Chevrolet-4 cilindros) para transportar passageiros. Era um ônibus aberto, com longos estribos laterais e sanefas de lona. Tinha cinco bancos, com a capacidade de cinco passageiros por banco. Quando lotava, os passageiros viajavam de pé nos estribos; e se chovesse, azar... A passagem custava 400 réis, enquanto no trem, custava 300 réis. O fim da linha, a princípio, era na Rua Dr. Mário Totta, mas no ano seguinte passou a ser na Pedra Redonda.

Seu Ricardo Gutzeit tinha um “Restaurant Morro do Sabiá”, meio hotel, na beira da praia, para onde vinham veranistas até do Rio de Janeiro e da Argentina. As pessoas desciam na Pedra Redonda e iam a pé, com malas, para o Morrinho, como era chamado. Seu Ricardo teve a ideia de colocar um transporte para seus hóspedes. Em sociedade com o senhor Joaquim Rodrigues comprou o ônibus dos irmãos Gama. Daí em diante – 1927 – a linha passou a ser feita: Porto Alegre-Tristeza-Morro do Sabiá.

No ano seguinte, os irmãos Gama compraram um “Stewart” e recomeçaram a exploração da linha Tristeza. Mais um ano e o senhor Pascoal Biachi surgiu com um “Fiat”, fazendo concorrência. Em seguida foi aquela correria, cada qual queria aumentar mais sua frota. Em 1930, o senhor Biachi tinha 14 carros e o senhor Ricardo e Joaquim tinham 11, quando este último vendeu sua parte para o senhor Antonio Garrafielo (seu Nico).

No auge dos ônibus, os motoristas ganhavam comissão pelo movimento, por isso vinham devagar e abriam a buzina cinquenta metros antes das paradas. Se um familiar avisasse: − Espere um pouquinho que ele já vem; não havia problemas. Lá vinha o valioso passageiro arrumando as calças ou botando a gravata...

A faixa de cimento da Tristeza foi construída em 1930-31. Antes dela o tráfego no inverno era penoso. Os motoristas (que se chamavam choferes) levavam pranchas, pedras e paus para as eventualidades nos atoladores do Cristal, isto quando não mandavam os passageiros empurrar...

Mais tarde aparecerem outros empresários: senhor José Fernandes e Rosendo Sola di Sola. Com o senhor João Pinto foi criada uma Sociedade de ônibus Limitada (SOL), que durou pouco, terminando encampada pela Prefeitura em 1943, sob a legenda de DATC – Departamento Autônomo de Transporte Coletivos.

(Almanaque do Correio do Povo de 1973)



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