segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Monstro é aquele que não sabe amar*


Samba Enredo 2018 da Escola Campeã do Carnaval
 do Rio de Janeiro

Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar*

(Os Filhos Abandonados da Pátria Que Os Pariu)

G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (RJ)


Oh pátria amada, por onde andarás?
Teus filhos já não aguentam mais!
Você que não soube cuidar,
Você que negou o amor,
Vem aprender na Beija-Flor.

Oh pátria amada, por onde andarás?
Teus filhos já não aguentam mais!
Você que não soube cuidar,
Você que negou o amor,
Vem aprender na Beija-Flor.

Sou eu, espelho da lendária criatura,
Um monstro carente de amor e de ternura.
O alvo na mira do desprezo e da segregação,
Do pai que renegou a criação,
Refém da intolerância dessa gente.
Retalhos do meu próprio Criador,
Julgado pela força da ambição,
Sigo carregando a minha cruz,
À procura de uma luz, a salvação!

Estenda a mão, meu senhor,
Pois não entendo tua fé,
Se ofereces com amor,
Me alimento de axé,
Me chamas tanto de irmão,
E me abandonas ao léu,
Troca um pedaço de pão
Por um pedaço de céu.

Estenda a mão, meu senhor,
Pois não entendo tua fé,
Se ofereces com amor,
Me alimento de axé,
Me chamas tanto de irmão,
E me abandonas ao léu,
Troca um pedaço de pão
Por um pedaço de céu.

Ganância veste terno e gravata,
Onde a esperança sucumbiu.
Vejo a liberdade aprisionada,
Teu livro eu não sei ler, Brasil!
Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora,
Feito um arrastão de alegria e emoção, o pranto rola.
Meu canto é resistência no ecoar de um tambor,
Vem ver brilhar mais um menino que você abandonou.

* Compositores: Di Menor, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija-Flor, JJ Santos, Julio Assis e Diogo Rosa − Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

→ A Beija-Flor de Nilópolis venceu o Carnaval carioca, desfilando no segundo dia do Grupo Especial, na Sapucaí, com o enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, do carnavalesco Cid Carvalho. Num resultado disputado, nesta quarta-feira (14), a escola de Nilópolis venceu por um décimo a Paraíso do Tuiuti.

→ A campeã Beija-Flor aproveitou os 200 anos do romance “Frankenstein”,* de Mary Shelley, para fazer um paralelo com as mazelas brasileiras. O enredo fez uma extensa crítica à sociedade brasileira, incluindo o campo político e a intolerância religiosa.

Jornal do Brasil

*Na obra, um cientista dá vida a uma criatura construída com partes de pessoas mortas, tornando-se uma figura feia. No desfile, a figura foi usada para críticas a problemas sociais como corrupção e desigualdades.


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