segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Cuscos gaúchos

Cusco Cego


Autoria: Apparicio Silva Rillo
  
Este cusco brasino, cara branca,
pequenote e rabão,
que o parceiro está vendo enrodilhado
aí perto do fogão,
foi mordido de cobra na paleta
quando troteava atrás de uma carreta,
cruzando um macegão.

Resultou de tal manobra
que o veneno dessa cobra
cegou meu cusco rabão!

Faz um tempão
que se deu esse tropeço...
Dava pena, no começo,
ver o cusco, atarantado,
pechar de frente e de lado,
chorando como um cristão.

Agora,
vagueia solitário pelo pátio,
perdido nessa noite sem aurora
que um dia lhe desceu sobre a retina.
Por isso,
quando a noite se embalsama de perfumes
e os pequenos e inquietos vaga-lumes
acendem lamparinas nos brejais,
eu maldigo a injustiça do destino
que não ouço o uivo triste do brasino
chorando a lua que ele não vê mais.

Expressões Idiomáticas

“Cavalo bom e homem valente a gente só conhece na chegada.”

“Quem faz o cavalo é o dono.”

“Mulher, arma e cavalo de andar, nada de emprestar.”

“Pata de galinha nunca matou pinto.”

“Cachorro que come ovelha uma vez, como sempre, só morto que se endireita.”

“Vaca de rodeio não tem touro certo.”

“Cada homem, como o cavalo, tem o seu lado de montar.”

“Faca que não corta, pena que não escreve, amigo que não serve, que se perca pouco importa.”

“Ninguém é perfeito: só santo e lugar de santo é no altar ou no céu, não neste mundo. Homem sem defeito não é bem homem.”

“Onde se viu o cavalo do comissário perder a corrida?”

“Com esta corja, palavra não basta; ponta de faca e bala é que resolve.”

“Quando se pega na rabiça do arado, deve-se ir até o fim do rego.”

“Fala ao teu cavalo como se fosse gente.”

“Quando estiveres para embravecer, conta três vezes os botões da tua roupa...”

“Quando falares com homem, olha-lhe para os olhos, quando falares com mulher, olha-lhe para a boca... e saberás como te haver...”

Lenda do Cachorro

Conta uma lenda, tão velha como “andar a pé”, que quando Deus acabou de criar a bicharada, perguntou a cada animal em particular como queria ter sua moradia.

O macaco disse que iria viver no mato. O pica-pau, nos ocos das árvores. O tatu, em covas feitas no solo. Os passarinhos alegaram que construiriam seus ninhos nos galhos das árvores. Os peixes escolheram os rios. O jacaré, a beira das lagoas. E, assim, cada bicho relatava sua escolha e maneira de viver. Deus a todos ouvia com atenção e aprovava. Quando chegou a vez do cachorro, este alegou firmemente: “Não farei nada disso. E nada disso me agrada. Vou morar na casa do homem”.

E, desde então, o cachorro passou a viver em companhia do homem. E a fidelidade do cão é tão sincera que, sendo ele criado em um rancho, onde há privação, jamais o abandona por outro onde haja fartura. Os gaúchos estimam muito seus cães, que os ajudam nos trabalhos de campo e nas caçadas, não obstante serem um tanto rudes ao tratá-los. Por qualquer desobediência ou teimosia de parte do cão, o gaúcho descarrega-lhe desaforos, em tom de voz tão agressiva quanto os termos empregados na repreensão. E não raras vezes joga-lhe uma pedra ou pedaço de pau, se não lhe passar o relho. E o pobre animal, humilhado, não demonstra rancor por aquela falta de tato e inteligência de seu amo, onde a brutalidade supera a compreensão. Basta o homem encilhar o cavalo e calçar as botas para que o cão já esteja a seu lado, latindo e pulando de alegria, pronto a acompanhá-lo, já esquecido da afronta recebida. Durante todo o dia o cachorro cuida do rancho, ladrando assim que alguém se aproxima. À noite, vigia o sítio e as galinhas que, no geral, dormem empoleiradas nas árvores, sujeitas a um ataque traiçoeiro das raposas ou gatos do mato.

Entre os animais domésticos, o cachorro é o que melhor conhece, entende e obedece ao seu dono. O cão demonstra prazer em estar perto dele e grande satisfação e confiança em acompanhá-lo a qualquer parte, seja onde for.
  
O Cachorro, in Mala de Garupa: costumes campeiros,
de Raul Annes Gonçalves.

É por essas e outras que o cachorro − especialmente o Ovelheiro Gaúcho, foto abaixo, dos Gaúchos do Rio Grande - é considerado o melhor amigo do Homem.


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