domingo, 21 de janeiro de 2018

“Águia de Haia”

(Samba-de-breque de Luís Filipe de Lima e Nei Lopes)


Saí do baile no rumo de Copacabana,
E em pleno Campo de Santana recebi um santo.
Quem viu me disse que foi um espanto,
Que eu falei coisas meio um tanto ou quanto, sei lá.
Dizem que eu falava discursando
Com sotaque de baiano intelectual,
E de repente, sem ter dó nem piedade,
Eu entrei na Faculdade de Direito Nacional.

(breque).

[Data venia, homo sapiens, libertas quae sera tamen!
Dura lex sed lex, in vino veritas!
Alea jacta est, ad libitum, renda per capita,
ipsis litteris, etcoetera...]

Na Faculdade, escrevi regras e tratados,
Dei lições pro doutorado com muita ciência.
Só me chamavam de Vossa Excelência,
Fui convidado pra livre-docência, pois é.
Discursei três horas sem dar pausa,
Fui doutor Honoris Causa e quase fui reitor,
Porém, no meio dessa história gloriosa,
O caboclo Ruy Barbosa de mim desincorporou.

(breque)

[Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?
Revertere ad locum tuum! Vade retro, alter ego!
persona non grata! Curriculum vitae? Delirium tremens!
Quo vadis? Scania Vabis! Canabis! Vade mecum!
Dominus tecum!]

Eu que já era um mestre consagrado,
Fui então chamado de Doutor Bebum,
De catedrático eu passei a ser lunático,
Um caso psiquiátrico, um alcoólatra comum.
Tudo isso culpa de um traçado,
Também, fui misturar conhaque com rum.
Agora, quando eu passo levo vaia:
Águia de Haia, Ruy Barbosa um-sete-um!

(breque)

[Post scriptum: toma cuidado, meu camarada,
porque é como dizia o grande filósofo afro-latino Neilópius:
cullus bebedorum dominus non habet!* Data venia!]

* cullus bebedorum dominus non habet! = cu de bêbado não tem dono!

A gravação dessa música está na internet na voz de Nei Lopes, o autor da letra. 

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