Capa assinado pelo jornalista
uruguaio Rodolfo Porley Corbo, explica a ilustração da capa, em que o sorriso
de um humorista contrasta com a carranca de um militar quando o desenho é
virado.
Humor de Carlos Nobre:
“Se, como afirmava Darwin, o
homem descende do gorila, então não houve evolução alguma. O gorila apenas
botou um uniforme.” (Última Hora, 10/7/1963)
“Ah, meus amigos, quando a gente
olha o Brasil para 64, fica-se torcendo para que os bombeiros não cheguem muito
atrasados.” (Última Hora, 30/12/1963 – o golpe militar foi dado três meses
depois)
“Gorilas do Brasil e da Argentina
festejam a derrubada do Jango. Bom, se vale a expressão dos argentinos a nosso
respeito, os gorilas deles são gorilas mesmo, mas os nossos são apenas
macaquitos.” (Última Hora, 27/3/1964)
“O recesso parlamentar de julho
foi interrompido pelas cassações. Engraçado, eu pensei que as cassações é que
davam o maior recesso ainda.” (Zero Hora, 27/71964)
“Sim, só falta agora alguns
governadores telegrafarem ao Castelo Branco solidarizando-se com sua feiura.”
(Zero Hora, 7/4/1965)
“Milhares e milhares de pessoas
cumpriram seu alistamento eleitoral recentemente na renovação de seus títulos.
Agora estão aptas finalmente a não votar.” (Zero Hora, 9/9/1965)
“A nova lei de imprensa é clara:
fará com que os jornais falem dos defeitos do governo como se eles fossem
defeitos maravilhosos.” (Zero Hora, 17/10/1966)
“Com a nova lei de imprensa os
jornais das TVs continuarão em circuito aberto. Os jornalistas é que poderão
ser fechados.” (Zero Hora, 24/10/1966)
“Já está autorizado convênio
autorizando jornalistas a gozar 20% de desconto no Pronto Socorro Particular.
Esse negócio veio em boa hora. Os cassetetes estão cada vez mais
aperfeiçoados.” (Zero Hora, 12/11/1966)
“No Rio de Janeiro o DOPS prendeu
dois estudantes. Motivo: eles estavam soltos.” (Zero Hora, 12/7/1965)
“A eleição veio em boa hora. Já
não há muito deputado aí para ser cassado.” (Zero Hora, 10/10/1966)
“Padres foram presos em Volta Redonda. Que
ironia, hein? Justamente em
Volta Redonda os padres estão vendo o sol nascer quadrado.”
(Zero Hora, 27/11/1967)
“A ONU diz que brasileiro é o
povo do mundo formado com a maior mescla de raças. Não duvido: aqui temos
pretos, amarelos, brancos e agora já estão começando a aparecer os roxos de
tanto apanhar.” (Zero Hora, 6/2/1968)
“Estudantes agora vão fazer
plebiscito. Escolherão se preferem cassetete de borracha ou de madeira.” (Zero
Hora, 14/4/1968)
“A sorte de muitos estudantes
presos é que os presídios não cobram entrada.” (Zero Hora, 27/5/1968)
“O Ministro da Justiça vai
publicar o livro branco justamente para desmentir este negócio de torturas. Eis
algo que eu acho muito prudente, pois se tratando de um país de analfabetos,
imaginem se o livro fosse escrito.” (Folha da Tarde, 5/10/1970)
“Acho uma baita injustiça dizer
que até agora não se descobriu muita coisa sobre os chamados esquadrões da
morte… E este baita número de cadáveres descobertos todos os dias?” (Folha da
Tarde, 10/7/1970)
“Sorte é Jesus Cristo não passar
pela Rua da Praia, senão pode ir em cana como cabeludo subversivo.” (Folha da
Tarde, 23/1/1971)
“Conselho para perfeita liberdade
de expressão na democracia. 1 – Não pense. 2 – Se pensar, não fale. 3 – Se por
acaso alguém descobrir seu pensamento, desminta logo. 4 – Se o pensamento
aparecer publicado, pelo amor de Deus, diga que é apócrifo. 5. Se não
acreditarem prepare um baita desmentido. 6 – Se mesmo assim não adiantar,
refugie-se na Embaixada do Senegal.” (Folha da Tarde, 20/7/1973)
“Ao receber a notícia de que as
eleições continuariam indiretas, o MDB se declara perplexo. Besteira do MDB.
Onde já se viu ficar perplexo com as coisas que acontecem neste país, né? Vai ficar
perplexo a vida inteira.” (Folha da Tarde, 5/5/1972)
“Leio no jornal que o resultado
da eleição para as prefeitura sairá oito dias depois. Por isso é que o
resultado da eleição para governador é melhor. O resultado sai uma porção de
dias antes.” (Zero Hora, 2/1/1976)
“A transmissão do ballet ‘A Morte
do Cisne’ foi proibida pela censura. Aliás, a censura nem sabia que o cisne
tava doente.” (Zero Hora, 3/4/1976)
“Ontem saiu nesta coluna que
anteontem foi o dia da liberdade de imprensa. Em seguida todo mundo me
cumprimentou. Foi a maior piada que eu escrevi até hoje.” (Zero Hora, 4/4/1976)
“Leio que a greve de 200 presos
políticos agora é nacional. Isto não é nada. Precisa ver a fome sem greve de
milhões que não tão nem presos.” (Zero Hora, 6/5/1978)
“Dizem que o AI-5 vai cair. Então
sai de baixo, porque durão como ele é, se cair na cabeça de alguém mata na
hora.” (Zero Hora, 14/11/1977)
“Com tudo o que o Figueiredo anda
dizendo fica difícil ser humorista neste país com a concorrência cada vez mais
forte.” (Zero Hora, 17/6/1978)
“Se os democratas deste país estão
loucos para que prendam os terroristas que enviam cartas e pacotes explosivos
pelo correio, imaginem os carteiros.” (Zero Hora, 30/8/1980)
“No ABC paulista Lula foi em cana. Em Ouro Preto
50 estudantes também. Não tô entendendo bem esta abertura. Vai ver que sou
burro mesmo.” (Zero Hora, 22/4/1980)
“Delfim diz que não é o culpado
pela inflação. Claro que não. Todo mundo sabe que o culpado pela inflação sou
eu.” (Zero Hora, 16/1/1981)
“Dom Urbano Algayer espera a
confirmação das eleições de 1982. Padre é assim mesmo: quase sempre acredita em
milagre.” (Zero Hora, 30/12/1981)
“Nunca concordei que houvesse no
Brasil uma maioria silenciosa. Para mim o que houve foi uma maioria
silenciada.” (Zero Hora, 16/7/1982)
“E se não tiver eleições no
Brasil? Ué, nada de mais. O país volta à normalidade.” (Zero Hora, 3/8/1982)
“Quando se diz que alguns povos
não estão preparados para a democracia, quer dizer que estão preparados para a
ditadura?” (Zero Hora, 18/10/1982)
“Pichar um muro a favor das diretas é fácil. É só correr o
risco.” (Zero Hora, 8/7/1984)
“Eleições só em 1988, mas até lá,
dada a incapacidade de governar este país, já devemos ter devolvido ele aos
índios.” (Zero Hora, 18/4/1984)
“No regime da baioneta calada, a
imprensa também tem que calar a boca.” (Zero Hora, 24/4/1984)
“O general Ludwig votando no
Clube Militar: ‘Gostei de votar, já nem lembro quando foi a última vez’. Nós
também, general. Aliás, brasileiro precisaria ter uma memória de elefante para
se lembrar de uma coisa dessas.” (Zero Hora, 19/5/1984)
“Junto meu desejo ao do
Presidente Figueiredo. Também tô contando os dias para que este governo acabe
logo.” (Zero Hora, 8/8/1984)
“A preocupação agora no Brasil é
que, além da democracia, voltem a funcionar também os intestinos do Tancredo.”
(Zero Hora, 27/3/1985)
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