segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Por que jogamos



A maioria dos homens que joga usa o jogo como substituto para o sexo. Mas esta opinião é de uma mulher, a psicóloga Charlotte Olmsted. É por isso que há muito jogo entre soldados, marinheiros, presidiários. E é bom, diz ela, pois evita muitas brigas e algum homossexualismo.

Para outros, a melhor coisa depois de jogar e ganhar é jogar e perder. Pois o principal é jogar. Alguns psicólogos, porém, acreditam que o que mantém uma pessoa jogando é a constante expectativa de ganhar. Mas muitos jogadores admitem ter uma maior inclinação para perder.

Dostoievsky, por exemplo, era um jogador deste tipo. Gostava de perder. Freud, na obra “Dostoievsky e o Parricídio”, diz que o escritor via na sorte a figura do pai a quem estava, com o ato de jogar, pedindo punição. Para muita gente, contudo, o jogo é um desejo essencialmente infantil, um gozo de quem se imagina ganhando um dinheiro pelo qual não trabalhou.

Há muita qualidade que é comum a todos os jogadores: não há um só que não seja supersticioso. Mas também entra no jogo a vontade que os homens têm de se desgastar. Nesse caso o jogo funciona com um desafio à sorte, uma necessidade existencialista do homem em desgastar sua liberdade como bem escolheu.

Para apostadores de corrida de cavalos a coisa é diferente: na grande maioria são pessoas da classe baixa e da média-inferior, que escolhem seus palpites para afirmar sua habilidade em tomar decisões já que vivem numa sociedade despersonalizada em que nada decidem sozinhos. Para John Cotton, escritor e pesquisador norte-americano, o jogo é uma doença mágica. Ela faz com que alguns cocem a cabeça enquanto outros ficam rindo até morrer, como se tivessem sido mordidos por uma tarântula.

Wayne Pearson, um entendido, membro da Junta de Controle ao Jogo de Nevada (EUA), tem informações sensacionais: estatisticamente jogar é coisa normal. As pessoas que não jogam são anormais na sociedade americana. E mais: para os ricos o jogo pode ser um elegante passatempo. Para os pobres, sua última esperança. Mas, de qualquer modo, está presente em todas as classes sociais.


(Texto da revista Realidade, novembro de 1967)

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