A maioria dos homens que joga usa
o jogo como substituto para o sexo. Mas esta opinião é de uma mulher, a
psicóloga Charlotte Olmsted. É por isso que há muito jogo entre soldados,
marinheiros, presidiários. E é bom, diz ela, pois evita muitas brigas e algum
homossexualismo.
Para outros, a melhor coisa depois de
jogar e ganhar é jogar e perder. Pois o principal é jogar. Alguns psicólogos,
porém, acreditam que o que mantém uma pessoa jogando é a constante expectativa
de ganhar. Mas muitos jogadores admitem ter uma maior inclinação para perder.
Dostoievsky, por exemplo, era um
jogador deste tipo. Gostava de perder. Freud, na obra “Dostoievsky e o
Parricídio”, diz que o escritor via na sorte a figura do pai a quem estava, com
o ato de jogar, pedindo punição. Para muita gente, contudo, o jogo é um desejo
essencialmente infantil, um gozo de quem se imagina ganhando um dinheiro pelo
qual não trabalhou.
Há muita qualidade que é comum a
todos os jogadores: não há um só que não seja supersticioso. Mas também entra
no jogo a vontade que os homens têm de se desgastar. Nesse caso o jogo funciona
com um desafio à sorte, uma necessidade existencialista do homem em desgastar
sua liberdade como bem escolheu.
Para apostadores de
corrida de cavalos a coisa é diferente: na grande maioria são pessoas da classe
baixa e da média-inferior, que escolhem seus palpites para afirmar sua
habilidade em tomar decisões já que vivem numa sociedade despersonalizada em que
nada decidem sozinhos. Para John Cotton, escritor e pesquisador
norte-americano, o jogo é uma doença mágica. Ela faz com que alguns cocem a
cabeça enquanto outros ficam rindo até morrer, como se tivessem sido mordidos
por uma tarântula.
Wayne Pearson, um entendido, membro
da Junta de Controle ao Jogo de Nevada (EUA), tem informações sensacionais:
estatisticamente jogar é coisa normal. As pessoas que não jogam são anormais na
sociedade americana. E mais: para os ricos o jogo pode ser um elegante
passatempo. Para os pobres, sua última esperança. Mas, de qualquer modo, está
presente em todas as classes sociais.
(Texto da revista
Realidade, novembro de 1967)
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