A maior tragédia ocorrida do Regimento Santos Dumont
Hoje, 26° Batalhão de Infantaria Paraquedista
Numa instrução realizada no dia 10 de
março de 1966, no RSD, no anfiteatro da 2ª
Cia, defronte à cadeia, tendo como monitor o 3° Sgt Jorge Mendonça de
Carvalho, Pqdt 1135, do 1954/1 e MS 414, uma granada de boca de fuzil explodiu
no meio dos recrutas. Morreram, além do instrutor, oito soldados e dezenas
ficaram feridos e mutilados.
Falecidos no acidente;
3º Sgt Jorge Mendonça de Carvalho (02/09/1925 - 4/3/1966)
Sd Carlos Alberto Sandoval (12/07/1947 - 4/3/1966)
Sd Edir Franklin de Brito (27/12/1947 - 4/3/1966)
Sd Jorge Oliveira Duarte da Motta (24/09/1947 - 4/3/1966)
Sd José Silva Moreira (22/03/1947 - 4/3/1966)
Sd José Henrique Casanova Mazzei (21/02/1947 - 4/3/1966)
Sd Nelson Pitão Júnior (17/08/1948 - 4/3/1066)
Sd Roberto Fernandes Pereira (10/12/1947 - 4/3/1966)
Sd Walmir e Silva (28/10/1945 - 4/3/1966)
*Todos os soldados foram brevetados pós-mortem.
Testemunho de quem estava lá no dia do acidente:
Nesse dia, eu estava tendo uma
instrução com Sgt Lima Vieira, no Bosque dos Campeões, quando fomos
surpreendidos com a explosão. Ao vermos vários soldados correndo pelo pátio, em
frente à quadra, foi que nos demos conta da gravidade do acidente. Eram soldados
ensanguentados, alguns atingidos no rosto, e que, posteriormente, perderam a
vista. O Comandante era o Tenente Coronel Pamplona, que deu ordem para que os
feridos fossem levados para o Hospital Carlos Chagas, onde vi uma carreira de
soldados mortos, e, posteriormente, para o Hospital Barata Ribeiro, em Mangueira. O Sd
Roberto Fernandes Pereira estudou no mesmo colégio que eu, e eu o vi morto no
Hospital Carlos Chagas junto com os outros. Foi realmente um acidente terrível.
Sérgio de Oliveira
Matos, Pqdt 10919 − 1963/9 − MS 1562
Eu cursava o CFS (Curso de Formação de
Sargentos) realizado no REsI. (Regimento Escola de Infantaria) e fui incumbido
de entrar em contato com a esposa dele, comunicando que ele (3°
Sargento Jorge Mendonça de Carvalho), seria o patrono da nossa turma.
Clarival Vilaça, Pqdt 10313 − 1963/4
O Cabo Soares, hoje Capitão da
Reserva, naquela ocasião estava auxiliando na instrução. Foi chamado na Cia
para resolver um problema de serviço, quando estava regressando para o local da
instrução, a granada explodiu.
Não sei se vocês recordam, e para outros que
ainda não tem conhecimento do ocorrido, era uma instrução de granada de bocal
usada no cano do mosquetão. Não sei se estava com ou sem a proteção do disparo,
caiu no chão (terra batida), ocasionando a explosão. Tanto o sargento como os
demais soldados sofreram mais pelo deslocamento do ar, tendo os seus corpos
abertos. Os demais, como estavam em um anfiteatro, receberam estilhaços. Muitos
foram atingidos nos olhos e nos órgãos genitais. Do outro lado da rua, ficava o
xadrez, havia pedaços de peles coladas na parede. Foi um momento dramático e
triste.
José Alfredo Stron
Nunes, Pqdt 11361 − 1964/2
Fiz o Curso de Cabos (CFC/65) com o
Sargento Mendonça em 1965. Era ele o responsável por alguns detalhes
administrativos do Curso, entre o eles o Livro de Ocorrências, para o qual ele
havia me nomeado escrivão por ter boa letra e redação. Com suas sobrancelhas
grossas e sua cara indiática de Anthony Quinn (este na verdade um mestiço
mexicano, imagino até hoje se seu verdadeiro nome não era Antonio Joaquim),
Mendonça era a imagem da cordialidade.
Certos sargentos e tenentes se
esmeravam, inflexivelmente, em procurar defeitos nos alunos para rebaixar seus
conceitos, matéria eliminatória que podia anular os bons resultados das demais.
O Sérgio Chaves já havia passado por esse pesadelo autoritário de um tenente, a quem detestava, merecidamente, pois, no CFC/64, foi
o primeiro lugar em notas e reprovado em conceito graças à perseguição do
insensível, segundo ele me contou.
Os instrutores e Monitores anotavam
méritos e deméritos nas papeletas e depois me passavam para registrar no Livro
de Ocorrências. Como também era aluno e assistia a todos os atos do curso de
onde vinham os deméritos, ao recebê-las percebia muitas vezes maldade e
perseguição em algumas declarações não condizentes com a realidade. Então, chamava
o Mendonça e lhe explicava o que realmente vira. Ele sempre me autorizava a
aliviar a anotação. Muito cabo, que continuou estudando e depois se tornou
sargento metido a inflexível, não sabe até hoje dos riscos que o Mendonça
correu para me autorizar a aliviá-los. Na época do acidente, também estava
ainda meio doente, cursando o CFS no REsI, recém-alteado do HCEx. Ao fim do dia,
fui ao RSD saber dos detalhes e dos mortos. Tive um choque com a morte do
Mendonça, de quem gostava muito e com quem me identificava. Um colega me
narrou, não lembro quem, que foi ajudar no socorro imediatamente após a explosão
e chegou ao ferido, cujo sangue fluía abundantemente pela carótida. Tapou-lhe a
artéria com a mão e este lhe disse que fosse atender os outros, que estava bem.
O ferido levantou-se com a mão na carótida, deu alguns passos e caiu morto.
Zilton Tadeu Figueiredo de Campos, Pqdt 12810 − 1965/3 − MS 1424
No que diz respeito à história
revivida pelo Zilton, nada a alterar. Foi aquilo mesmo, mas não guardo mágoas.
Daquela reprovação, por conceito subjetivo, tirei lições de que não se deve
transigir com os deveres, mas que se pode transigir com as pessoas.
Nunca encontrei, no meu conhecimento,
justificativa para o proceder de alguns oficiais e sargentos daquela quadra da
minha vida. Mas, daquele infortúnio passageiro, advieram-me maneiras e
procedimentos que muitas felicidades me trouxeram nos 29 anos seguintes em que
permaneci no Exército.
Sérgio Chaves, Pqdt 11205 − 1963/6
Na realidade, os arquivos oficiais
são, em sua maioria, estereotipados e “frios”. Jamais um documento
oficial, que narra o histórico de uma entidade, consegue colocar no papel a
emoção, riqueza de detalhes ou sequer narrativas dos que vivenciaram o fato.
À guisa de detalhes, três fatos
marcaram em minha vida naquele episódio:
O primeiro foi a “pilha” de cadáveres que vi no Hospital Carlos Chagas; o segundo, foi quando ajudava a levar um soldado para a sala de cirurgia do Hospital Barata Ribeiro. Segurando a garrafa de soro e com o braço para cima, minha gandola saiu de dentro da calça. O então Cap. Zamite da “PE” mandou um Sgt, também da “PE”, dizer-me para colocar a “gandola para dentro da calça”. Não prestou! Falei para o Sgt “PE” dizer ao seu capitão que ordem absurda não se cumpre (Hora imprópria para se falar em uso correto de uniforme). E o terceiro, foi quando, já no HCEx e como escrivão, fui falar com o médico legista − no necrotério − sobre o Sgt Mendonça, e ele veio me atender, fumando, com o cigarro todo sujo de sangue.
O primeiro foi a “pilha” de cadáveres que vi no Hospital Carlos Chagas; o segundo, foi quando ajudava a levar um soldado para a sala de cirurgia do Hospital Barata Ribeiro. Segurando a garrafa de soro e com o braço para cima, minha gandola saiu de dentro da calça. O então Cap. Zamite da “PE” mandou um Sgt, também da “PE”, dizer-me para colocar a “gandola para dentro da calça”. Não prestou! Falei para o Sgt “PE” dizer ao seu capitão que ordem absurda não se cumpre (Hora imprópria para se falar em uso correto de uniforme). E o terceiro, foi quando, já no HCEx e como escrivão, fui falar com o médico legista − no necrotério − sobre o Sgt Mendonça, e ele veio me atender, fumando, com o cigarro todo sujo de sangue.
“JB” Rodrigues, Pqdt 5113 − 1958/6 − MS 1148
A explosão da granada
No início de março de 1966, estava
conferindo e organizando a munição de dotação do Pelotão, em companhia do meu
armeiro, quando ouvi uma grande explosão. Determinei ao Ariosi para que fosse
verificar o que tinha ocorrido. O soldado voltou correndo e gritando:
“Sargento, explodiu uma granada e tem gente morrendo!” Rapidamente fui
verificar. Quando me deparei com aquele quadro horroroso, vendo companheiros
despedaçados ou se arrastando pelo chão com os corpos mutilados, feridos ou
atordoados, a reação imediata que senti foi de imobilidade. Entretanto, me veio
logo à consciência de que eu poderia ser um daqueles acidentados, necessitando,
portanto, de socorro. Voltei e fui prestar auxílio. Rapidamente chegaram
viaturas que estavam disponíveis na garagem e que foram utilizadas na
emergência, para transportar os feridos com a máxima urgência para o hospital.
Eram colocados nessas viaturas conforme as condições e a situação permitiam e
com a urgência que o caso exigia.
O acidente aconteceu, quando um
Sargento estava dando uma instrução com granada de bocal. O manuseio acidental
ocasionou a explosão desse artefato, resultando na morte instantânea do
Sargento (caiu para trás, com o abdome dilacerado.) com mais seis soldados e
outros trinta e quatro mutilados.
Mas porque
explodiu a granada? Provavelmente devido a um defeito de fabricação.
Luiz Antônio Lima
Vieira, Pqdt 7717, 1961/5
MS 1227 − Prec 89 − SL 99 e Comando 85
MS 1227 − Prec 89 − SL 99 e Comando 85
No dia de instrução da colocação
dessa granada no cano do mosquetão (1964), estava chovendo, por isso a
instrução foi realizada no dormitório da 1ª
Cia. Um sargento a colocava no cano e depois a retirava. Com a granada na mão,
ele retirava um dispositivo de segurança, segurando-a firmemente, dizendo que
se ele a largasse, ela explodiria.
Sentado no chão, na primeira fila,
atento às instruções, eu. Se desse algum problema, seguramente, eu seria um dos
primeiros a morrer.
Nilo da Silva Moraes, Pqdt 11779 − 1964/4
Adendo final
Normalmente, a instrução com essa
granada, no cano do mosquetão, era feita com uma réplica da mesma. Parece-se
com a real, possui todos os dispositivos, mas não tem a carga explosiva.
Naquele dia, não se sabe por qual motivo, o sargento realizou a demonstração
com uma granada verdadeira. Tirou o seu dispositivo de segurança e a colocou em
cima da mesa, quando apanhou a granada, com a parte frontal para baixo,
impulsionou o percussor de encontro à carga explosiva ocasionando o trágico
acidente. Há outra versão de que a granada, com o dispositivo de disparo
armado, caiu da mesa com a cabeça da granada para baixo, explodindo na hora.
Além desses nove (9) mortos, 80 soldados, recrutas e veteranos, foram feridos e alguns mutilados seriamente.
Brevetação dos acidentados
Não quis o destino que esses bravos tivessem a sorte de
tantos outros.
Vitimados pela traiçoeira
explosão de uma granada, ficarão esses impossibilitados de continuarem formando
em nossas fileiras.
Recebendo o brevê de paraquedistas
honorários − fato inédito na História do Regimento – passaram a figurar na
galeria dos nossos heróis.
O Ten-Cel. Pamplona, comandante
do RSD presidiu a brevetação dos baixados, vítimas da explosão da granada. O
Maj. Mauro – Relações Públicas do Regimento fez entrega de flâmulas aos novos
paraquedistas no HCEx.
Militares acidentados
da 2ª Cia de Fuzileiros do 1º Batalhão,
que foram brevetados
paraquedistas honorários.
Sd Antônio Rufino Filho
Sd Alceu Mendes Vitorino
Sd Gilvan Correia da Silva
Sd paulo César da Silveira
Sd Deoclécio Ubiratan Pereira
Sd Remi Dias de Oliveira
Sd Reinaldo Firmino de Souza
Sd Laércio Rodrigues da Silva
Sd Jundair Castro do Prado
Sd Expedito da Silva Rodrigues
Sd Ivan Luiz Barros
Sd Marcos Abelardo Alves
E só restou, in memorian,
uma placa com seus nomes no Bosque dos Campeões...
Eu servi em 76 e sempre ouvi falar sobre esse terrivel acidente......
ResponderExcluirServi no Santos Dumont em 1966,eu vi o acidente, eu era da companhia de apoio regimental que ficava perto da cadeia ,nos doamos sangue para os colegas acidentados...foi um dia difícil de esquecer.
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