sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Campeonato em Três Tempos



Em 1958, entrava no ar, pela Rádio Gaúcha de Porto Alegre, aquele que seria um dos melhores e mais populares programas humorísticos da história do radiojornalismo do Estado: Campeonato em Três Tempos. Produzido e apresentado por Carlos Nobre, tinha como tema o cenário esportivo gaúcho retratado de maneira caricaturada. Com personagens como “Greminho”, “Miss Copa” e “Coloradinho”, lotava o auditório da emissora (Edifício União, 11° andar da Avenida Borges de Medeiros) quando era veiculado.


Fábio Silveira, o Coloradinho; e Carlos Nobre, o Greminho.

Eu, Nilo Moraes, assisti a vários programas do “Campeonato em Três Tempos” na Rádio Gaúcha, apresentado às terças-feiras, às 21 horas. Ia cedo para a rádio, pois os lugares do auditório eram cerca de 100. Não se pagava ingresso e não existia censura para menores. Antes do programa, havia um show musical com uma cantora, apresentado pelo radialista Cândido Norberto, acompanhada pela orquestra da PRC-2, regida pelo maestro Karl Faust, um alemão que, depois de alguns anos, voltou para o seu país.

No final dos anos 50, a Miss Copa, a locutora Leonor de Souza, que não era muito jovem nem muito bonita, mas, no rádio, tinha uma voz de mocinha sensual, casava-se sempre o Greminho, pois só Grêmio é que ganhava títulos naqueles anos. No final do campeonato, no dia do casamento, o programa era apresentado diretamente do Cinema Castelo, 3.500 lugares, no Bairro Azenha.


Radio-atores com as camisas de seus times

Algumas frases do humorista Carlos Nobre:

• Lamentável a policia. Acredita que a imprensa tem este nome justamente para ser imprensada.

• Depois do salário-mínimo e do salário-família, está na hora do governo inventar o salário- verdade.

• Já notaram. Atualmente o prato típico do Brasileiro é o prato vazio.

• Hoje, pode ser oficialmente, o enterro dos ossos. Mas enterro dos ossos no duro tem o ano inteiro. É só enterrar qualquer Brasileiro que recebe o salário mínimo.

• O ministro da fazenda diz que não há desemprego no Brasil (....) numa dessas vai acabar dizendo, também, que o povo não tem fome no Nordeste. Tem é falta de apetite.

• Emprego no Brasil anda tão difícil de se arranjar que já tem empresa exigindo fiador por candidato.

• O verdadeiro milagre Brasileiro está acontecendo é agora, com a gente conseguindo sobreviver no meio deste arrocho desgraçado que tem por aí.

• O negócio não é rezar para que as coisas melhorem no Brasil. O negócio é a gente rezar para que as coisas piorem cada vez menos.

• Tendo eleição, me agrada até de uma funerária.

• Nunca concordei que houvesse no Brasil uma maioria silenciosa. Para mim o que houve foi uma maioria silenciada.

• Os Brasileiros têm de achar uma saída. Política ou econômica? Nenhuma das duas. Uma saída para o Brasil.

• Os tempos andam tão difíceis que até pra gente ser pessimista tá ruim.

• Mulher é o Homem passado a limpo.

• Antes do pecado original, Adão era só decorativo.

• Foi criado no Brasil um grupo de trabalho para investigar, porque os grupos de trabalho não trabalham?

• Deus é bom sim. Ele está é mal cercado.

• Na primavera os botões da roupa do poeta Mário Quintana desabrocham.

• Pro Brasil só falta o presidente da CBF, o técnico e o time pra conseguir uma bola.

• Pelo menos a estiagem tá acabando com um problema que ninguém resolveu nas vilas clandestinas de Porto Alegre o “esgoto”.

• Ontem os mendigos estendiam a mão. Hoje estendem o revólver.

• Não te preocupa não. É só olhar a inflação do Brasil que o touro também vai pro brejo.

• O bom do fim de semana fora, é que a gente volta pra casa  pra descansar.

• Brasileiro não tem como escapar das promessas da nova república. Quem este ano não caiu no primeiro de abril, cairá no primeiro de janeiro.

• Na visita que Jânio Quadros fez para o Sarney, parece que ele tava bem melhor, prova que foi  sem camisa-de-força e os dois enfermeiros parrudos que acompanhavam o distinto até ficaram na outra sala.

• Sujeito louco por música é aquele que, ao ouvir uma dona boa cantando no banheiro, põe o ouvido na fechadura.

• O saco não aguenta mais o Papai Noel.

• Nunca pergunte a um antiquário o que há de novo.

• A posição de goleiro é tão arriscada que, depois do trapezista, o goleiro é o único que trabalha com rede.

• Quem ama o feio é porque bonito não lhe aparece.

• Nas agências bancárias que tem no aeroporto Salgado Filho aceitam-se cheques voadores.

• No Chile, (no tempo da ditadura) as baionetas caladas são as que falam mais alto.

• Quando o médico pediu para Carlos Nobre que se afastasse do cigarro, ele mais que depressa, comprou duas piteiras. 



3 comentários:

  1. Eu era um garoto de 9 anos em 1958, gostava de futebol e não perdia um programa. Como Colorado eu sempre ficava triste ao final de cada ano. Pois só o Greminho casava com a Miss Copa, q no meu imaginário era uma "deusa". Tempos bons, sem maldade, sem malícia. Carlos era um gênio. Obrigado pela lembrança, Nilo Ruschel

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    1. Meu amigo leitor, em 1958 eu tinha 13 anos e fui algumas vezes assistir ao Programa ao vivo, no auditório da Rádio Gaucha, no 12(ou 13) andar do edifício União, no ício da Borges de Medeiros, quase defronte à Prefeitura. Realmente, só o Greminho casava com Mis Copa, Leonor de Souza, um senhora até bem nutrida, mas com uma voz que dava a impressão que era uma deusa.

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  2. Desculpe errei seu nome, Nilo Moraes

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