sexta-feira, 3 de novembro de 2017

A Capital que muitos de nós nunca conhecemos

Jéssica Rebeca Weber

O trem da Tristeza


→ Uma locomotiva a vapor já circulou pela Zona Sul. O trenzinho da Tristeza surgiu no final do século 19, para levar o esgoto até o Guaíba. Mais tarde, faria o transporte de cargas e passageiros – virou um dos melhores passeios turísticos de Porto Alegre, proporcionando banho e piqueniques na beira do Guaíba. Era composto por uma locomotiva maria-fumaça pequena que puxava dois ou três vagões. Alem da estação na Pracinha da Tristeza, também havia a Estação do Riacho (junto à Ponte de Pedra) e a Estação Ildefonso Pinto, ao lado do Mercado Livre, no Centro. Em 1933, a locomotiva foi incorporada à Viação Férrea do Rio Grande do Sul e, em 1936, encerrou as atividades. Em abril (de 2017), reportagem da ZH mostrou que o trenzinho apodrecia a céu aberto em Carlos Barbosa.

O circo de touros


→ No Campo da Redenção, próximo à Rua da República, havia um espaço para touradas no final do século 19. Construção de madeira, sem cobertura – conforme o livro Porto Alegre Ano a Ano, de Sérgio da Costa Franco −, o Circo de Touros era uma das atrações mais populares dos domingos à época. A edição do jornal A Federação de 13 de outubro de 1891 grafava: “Esteve divertida a funcção tauromachica de ante-hontem. Quasi todos os touros prestaram-se às lides. Aranha e Matheus applicaram muitas farpas”. A praça de touradas foi desativada no começo do século 20.

O bebedouro do Floresta


→ Onde se juntam as avenidas Cristóvão Colombo e Benjamin Constant com as ruas Quintino Bocaiúva e Coronel Bordini, no bairro Floresta, havia um bebedouro que não era para gente. Em uma época em que cavalos e mulas tinham grande papel na mobilidade urbana, era preciso levá-los para tomar água em algum lugar – como ali, onde hoje fica a Praça Athos Damasceno Ferreira. Na área, havia ainda um mercado abastecido por carroças. Vale lembrar que, até o começo do século 20, cavalos e burros puxavam os bondes – os elétricos surgiram a partir de 1908.

O zoológico do Menino Deus


→ Em janeiro de 1913, “altas autoridades civis e militares, representantes do clero, da imprensa e o povo” participaram da inauguração do jardim zoológico do bairro Menino Deus, que ficava onde hoje passa a Avenida Ganzo. O acontecimento, registrado pelo jornal A Federação, teve até presença do então governador, Carlos Barbosa Gonçalves. O parque pertencia ao coronel Juan Ganzo Fernández, e a entrada era na Avenida Getúlio Vargas (que, na época, se chamava Avenida 13 de Maio). Ele batizou o empreendimento de Vila Diamela, em homenagem à filha. Além de uma “variada coleção de quadrúpedes, aves e palmípedes”, o zoo também tinha lago e pavilhão de patinação. Mas não teve vida longa: funcionou até a década de 1920.

 O bunker do Viaduto da Borges


→ O Viaduto Otávio Rocha, conhecido como viaduto da Borges de Medeiros, teve um abrigo para proteger moradores de eventuais ataques dos aviões nazistas de Adolf Hitler. Entre as arcadas, foi escavado um túnel na parede da estrutura, visando à segurança da população em caso de ataque durante a II Guerra Mundial. A arrecadação de dinheiro para os abrigos antiaéreos começou em setembro de 1942, um mês depois de o presidente Getúlio Vargas aderir aos aliados. Os gaúchos doavam dinheiro, além  de joias e ouro.

A gruta da Praça XV


→ Na época em que a Praça XV de Novembro ainda era chamada de Praça Conde D´Eu, havia por lá uma pitoresca gruta, formada por um amontoado de pedras e folhagens. Ela foi construída em 1881, junto com uma ponte ornamental. Teriam sido projetos encomendados pela prefeitura ao cenógrafo italiano Oreste Colliva. Em 1925, a gruta foi demolida, e o chafariz que ficava ao lado, transferido para o centro da Praça Parobé – depois, no início dos anos 1940, migrou para a Redenção. Daquela época, na praça ao lado do Mercado Público, restou apenas o Chalé da Praça XV.

A piscina da Redenção


→ Alinhada ao Monumento ao Expedicionário, já existiu uma piscina na Redenção, com até quatro metros de profundidade, conforme publicação de ZH de 50 anos atrás. Ela teria sido construída no começo do século pelo Colégio Militar de Porto Alegre, recebendo importantes competições de natação. Mais tarde, com a proliferação de piscinas em clubes e o desenvolvimento do parque, o tanque ficou “apenas como ornamentação” – embora fotos de antigamente mostrem muita gente brincando e nadando em dias de tempo bom. A piscina seria desativada em 1967, depois que uma criança morreu afogada no local.

Um presídio ao lado do Gasômetro


→ Ao lado do principal cartão-postal de Porto Alegre, a Usina do Gasômetro, ficava o presídio da capital. A Casa de Correção foi inaugurada em 1855. Acolheu inicialmente 195 detentos, mas, décadas depois, chegaria a abrigar mais de um mil. Como lembrou o historiador Sérgio da Costa Franco, em artigo publicado no ano passado (2016) em ZH, um viajante alemão que esteve em Porto Alegre, possivelmente, em 1889, descreveu o local como ameno e leniente, chamando-o de “presídio alegre”, pois dele emanavam cantorias e brincadeiras dos detentos. A partir dos anos de 1940, mal conservado e pequeno para a população carcerária que aumentava, começou a ser um tema polêmico na Capital. O presídio foi dinamitado em 1962.

(Do jornal Zero Hora, outubro de 2017)


2 comentários:

  1. Adorei saber de tantos detalhes da época de meus pais. Minha mãe nasceu em 1910 e meu.pai em 1912.

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  2. Nós, editores deste almanaque, ficamos muito felizes com o teu comentário. Continua nos prestigiando...

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