Alessandra Montani*
A menina assistiu ao sol se pondo
pitando o céu de lilás e laranja. Correu para pegar o estojo cheio de lápis
coloridos para desenhar. Para ela, a felicidade era quente e amarela.
Ela não gostava do cinza e ficava
triste quando via o céu coberto de nuvens escuras. Era preciso sabedoria para
apreciar o que não era belo.
Um dia ganhou uma galocha pink e uma
capa de chuva turquesa para seu primeiro passeio na chuva.
Não demorou até que sua calça ficasse
encharcada e sua mãe não deixou que ela brincasse mais lá fora.
Era preciso ter paciência para
esperar a tempestade passar. Mas a menina tinha pressa de brincar. Ela queria
usar seu biquíni vermelho com bolas cor-de-rosa.
Quando a chuva caiu, ela não entendeu
que era preciso ter água no lago para nadar.
Um dia a garoa fina fez cócegas na
menina que passeava com suas amigas refrescando o calor abafado do verão. O
banho surpresa fez com que elas se divertissem muito.
Era preciso senso de humor para rir
do inesperado.
Foi uma tarde especial, em tons de
prateado, que terminou num banho gostoso e relaxante.
Quando o som do trovão assustou a
menina e ela correu para o colo do avô, viu as luzes dos raios riscarem o céu
enegrecido. Pequenas pedrinhas pipocaram no vidro da janela. Ploc, ploc, ploc.
Ela ficou fascinada e entendeu que
era preciso coragem para enfrentar seus medos. A menina não compreendia a
chuva.
Perguntou à avó, que preparava
bolinhos açucarados, quem jogava toda aquela água de de cima. Para que serviam
as pedras de gelo? Quem tocava o tambor do trovão?
A avó sorriu explicando apenas que
era a natureza.
A menina cresceu vendo a chuva cair.
No dia do seu casamento, a chuva quis
ver de perto a menina. Olhou para seus olhos e não viu mais preocupação. Ela
havia entendido o quanto a chuva havia lhe ensinado.
A menina, então, viu beleza no branco
e no preto. Notou que o cinza tinha seus encantos. Entendeu que a alegria e a
tristeza se encontravam formando muitos tons.
Um enorme sorriso se abriu quando a
menina viu o presente da chuva para ela. Ele era mágico e cintilante. Um
arco-íris perfeito se curvou sobre ela num abraço colorido. Então ela entendeu
que era preciso humildade para mudar
(Texto da revista Crescer,
setembro de 2013)
*Alessandra Montani é empresária e escritora.
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