segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A menina que não gostava da chuva


Alessandra Montani*


A menina assistiu ao sol se pondo pitando o céu de lilás e laranja. Correu para pegar o estojo cheio de lápis coloridos para desenhar. Para ela, a felicidade era quente e amarela.

Ela não gostava do cinza e ficava triste quando via o céu coberto de nuvens escuras. Era preciso sabedoria para apreciar o que não era belo.

Um dia ganhou uma galocha pink e uma capa de chuva turquesa para seu primeiro passeio na chuva.

Não demorou até que sua calça ficasse encharcada e sua mãe não deixou que ela brincasse mais lá fora.

Era preciso ter paciência para esperar a tempestade passar. Mas a menina tinha pressa de brincar. Ela queria usar seu biquíni vermelho com bolas cor-de-rosa.

Quando a chuva caiu, ela não entendeu que era preciso ter água no lago para nadar.

Um dia a garoa fina fez cócegas na menina que passeava com suas amigas refrescando o calor abafado do verão. O banho surpresa fez com que elas se divertissem muito.

Era preciso senso de humor para rir do inesperado.

Foi uma tarde especial, em tons de prateado, que terminou num banho gostoso e relaxante.

Quando o som do trovão assustou a menina e ela correu para o colo do avô, viu as luzes dos raios riscarem o céu enegrecido. Pequenas pedrinhas pipocaram no vidro da janela. Ploc, ploc, ploc.

Ela ficou fascinada e entendeu que era preciso coragem para enfrentar seus medos. A menina não compreendia a chuva.

Perguntou à avó, que preparava bolinhos açucarados, quem jogava toda aquela água de de cima. Para que serviam as pedras de gelo? Quem tocava o tambor do trovão?

A avó sorriu explicando apenas que era a natureza.

A menina cresceu vendo a chuva cair.

No dia do seu casamento, a chuva quis ver de perto a menina. Olhou para seus olhos e não viu mais preocupação. Ela havia entendido o quanto a chuva havia lhe ensinado.

A menina, então, viu beleza no branco e no preto. Notou que o cinza tinha seus encantos. Entendeu que a alegria e a tristeza se encontravam formando muitos tons.

Um enorme sorriso se abriu quando a menina viu o presente da chuva para ela. Ele era mágico e cintilante. Um arco-íris perfeito se curvou sobre ela num abraço colorido. Então ela entendeu que era preciso humildade para mudar

*****

(Texto da revista Crescer, setembro de 2013)

*Alessandra Montani é empresária e escritora.


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