Por Rolando Boldrin
Aliás, ele não era de lá, ele era
do sertão da Bahia. E conta-se que os pais dele chegaram com a trupe de
imigrantes, um punhado de baianinho quase tudo do mesmo tamanho, e se acostaram
lá na minha terra. Nesse tempo, o Genésio devia ter uns 14 anos e todo o
pessoal dele trazia aquele sotaque arretado de quem nasceu nos fundões da
Bahia.
Pois bem. Acostaram-se por lá e
ficaram, até restar apenas o Genésio, que devia ter uns 50 anos quando
resolveu, por ser figura muito popular, se candidatar a deputado.
É preciso que se diga que o
simpático Genésio era analfabeto de pai e mãe. E, além de tudo, apesar de já
morar em São Joaquim
da Barra, estado de São Paulo, e já ter vivido e convivido com meus
conterrâneos paulistas uns 36 anos, mesmo assim o nosso Genésio não perdia
aquele sotaque de baiano da molesta. Mas, como tinha adotado a minha cidade
como sua, e por ela tinha um amor declarado, ai de quem tivesse a ousadia de
falar mal da nossa terrinha. O Genésio era capaz de sair, como lá diz o outro,
no pau com o dito cujo.
Isso posto, vamos à campanha
política que deveria eleger aquele simpático baiano sem letras ao título
pretensioso de deputado. Lembrei-me do Genésio só pra contar o tanto que era
curioso o seu discurso nos palanques de lá. Ele estava sempre acompanhado, como
é natural, dos seus grandes cabos eleitorais, onde tem sempre aquele que dá os
palpites apelativos ao pé do ouvido do candidato.
Cabo eleitoral (ao ouvido do Genésio):
– Fala da fome, Genésio.
E ele falava...
Mas o que era muito engraçado, e
atraía a multidão da cidade aos seus comícios, era principalmente o bordão que
o Genésio usava para abrir cada comício.
Genésio (com o sotaque do sertão da Bahia):
– Eu sou a fulô que nasceu na Bahia... e veio dá o botão
aqui em São Joaquim
da Barra.
Era risada geral.
Genésio (em tom sempre discursivo):
– A Assembleia ge-néis-la-tiva,
de Sum Paulo, vai ter lá... se eu ganhá as inleição – um verdadêro trabaiadô
para o povo. Vô trabaiá quiném um leão da Afra (África). E quem quisé vortá
nimim... que vorte... quem num quisé vortá... qui num vorte... Agora... seu eu
ganhá as inleição... ai daqueles qui estão iscondido atrás dos tôco (ameaçava
todo mundo ingenuamente).
Nessas caminhadas discursivas, eis que o Genésio e seus comandados chegam até a cidade de Ituverava, que fica perto de São Joaquim. E lá também foi a mesma lengalenga.
Genésio:
– Eu sou a fulô que nasceu na
Bahia e veio dá o botão em
São Joaquim da Barra. Povo de I-ga-ra-pa-va.
Cabo eleitoral (corrigia ao pé do ouvido dele):
– Genésio! Não é Igarapava, é Ituverava!
Genésio:
– Povo de I-tum-bi-ara...
Cabo:
– Genésio! Você errou de novo. Não é Itumbiara e sim
Ituverava!
Genésio (encerrando o papo bem ao microfone, para todos ouvirem):
– Dêxa de sê burro, ô cabo! Pois tu num sabe que cidade do
interiô é tudo a mêma merda...
Claro que o querido Genésio perdeu as “inleição”.
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