sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Envelhecer



Envelhecer

Bastos Tigre*

Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.

Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!

Que a neve caia! O teu ardor não mude!
Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.

Envelhecer (II)

Bastos Tigre

Boa noite, velhice, vens tão cedo!
Não esperava, agora, a tua vinda.
Eu tão despreocupado estava, ainda,
Levando a vida como num brinquedo…

Tens tão meigo sorriso e um ar tão ledo;
Nos teus cabelos como a prata é linda!
Ao meu teto, velhice, sê bem-vinda!
Fica à vontade. Não me fazes medo.

E ela assim me falou, em tom amigo:
- Estranha me supões, mas, em verdade,
Há muito tempo que, ao teu lado, eu sigo.

Mas, da vida na estúrdia alacridade,
Não me viste viver, seguir contigo…
Eu sou, amigo, a tua mocidade.

Soneto da velhice

Nildo Cordel

Passa o tempo de segundo em segundo
Vai
ficando nossa idade tão comprida!
Vai diminuindo com ele nossa vida
E a nossa passagem pelo mundo.

Vai sumindo a inocência de criança
Vão morrendo os amigos preferidos
E por nós vão sendo esquecidos
Os tão lindos tempos da infância...

Resistentes, abraçamos a velhice,
Não há mais quem queira nos amar
E o que faremos chamarão de caduquice...

O que nos resta então é lamentar
Pois quando chega a nossa natalice
Ninguém lembra de parabéns nos desejar.

Velhice solitária

Cristina Lima

Ela carregava nos ombros, o peso da idade.
Caminhava devagar, com passos atrasados,
deixando para trás a longínqua mocidade,
e seguindo a estrada sem tempo para os atalhos.

Levava em suas tralhas, velhos pensamentos,
que só lhe era possível lembrar, graças aos retratos
entulhados num canto, que lhe serviam de unguento,
nas horas solitárias em cubículos fechados.

Mas nada a deixava fraquejar,
pois tudo em sua face era forte e consistente.
Há muito, deixara para trás o sorriso inocente.

Agora só lhe resta velhas lembranças
de tempos idos e novas feridas,
estampadas no rosto como cartão de visitas.

Velhice

Amaro Vaz

Tantos pardais, - nenhuma andorinha-
Vejo nas praças da minha velhice
Vem a saudade, eu vôo à meninice
E ao voar, tremula a velha asinha.

Cresci, envelheci, eu sei... dignamente
Por isso eu me orgulho do passado
Até aquele antigo passo errado
Promove o conhecer-me plenamente.

Voltando às andorinhas de outrora
Eu tento descobrir o dia e a hora
Do voo cego... da minha despedida.

Espero, que não me expulsem, os pardais
Sou uma velha andorinha, nada mais...
Deixe-me, em paz, dizer adeus à vida.

Bastos Tigre nasceu no Recife (PE), a 12 de março de 1882, filho de Delfino da Silva Tigre e Maria Leontina Bastos Tigre. Faleceu no Rio de Janeiro, a 2 de agosto de 1957. Foi homem de múltiplos talentos, pois foi jornalista, poeta, compositor, teatrólogo, humorista, publicitário, além de engenheiro e bibliotecário.

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