quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Cartas de Amor



Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21-10-1935
(Um dos heterônimos de Fernando Pessoa)

Fragmentos de outras Cartas de Amor

“Não me importa quem venha a saber ou que uso se faça disto – é por ti, somente por ti, tu mesma. Eu fui e sou livre e inteiramente teu, para obedecer, honrar, amar e fugir contigo, quando, onde e como determines.”

(Lorde Byron para Lady Caroline Lamb)

“Nesta palavra, linda em todas as línguas, e principalmente na tua ‒ amor mio – se resume a existência nesta e na outra vida. Sinto que existo aqui; e sinto que existirei no além, para qualquer propósito que decidas (…) Pensa um pouco em mim quando os Alpes e o oceano se interpuserem entre nós; mas eles nunca o farão, a menos que tu o queiras.”

(Lorde Byron para a italiana Teresa)

“Oh! Como teria gostado de passar meio dia ajoelhado a teus pés, com a cabeça sobre teus joelhos, sonhando lindos sonhos, contando-te meus pensamentos com lassitude, com arrebatamento, às vezes sem dizer nada, mas pressionando meus lábios contra teu vestido!… Minha alma voa para ti com esses papéis; como um louco, digo-lhes milhares de coisas; como um louco, penso que eles chegam a ti para repeti-las; para mim, é impossível compreender como essas páginas fecundadas dentro de onze dias estarão em tuas mãos enquanto eu permaneço aqui…”

(Honoré de Balzac para Condessa Ewelina Hanska)

“Eu a amo, é verdade, até mesmo eu; pelo bem dela estou disposto a tudo sacrificar alegremente – tudo, até mesmo a esperança de ser amado. (…) Meu dever é seguir-lhe de perto os passos, cercar a existência dela com a minha, servir-lhe de barreira contra todos os perigos, oferecer-lhe minha cabeça como apoio, colocar-me incessantemente entre ela e todas as tristezas, sem demandar qualquer prêmio, sem esperar qualquer recompensa.”

(Victor Hugo para a esposa, Adèle Foucher)

“Teu amor acaba de infiltrar-se em mim como uma chuva tépida e encharca-me até o fundo do coração. (…) Então, não tendes tudo o que me é necessário para amar-vos – corpo, mente, ternura? És uma alma simples, mas uma mente resoluta, muito pouco poética e extremamente poeta; não há em ti nada que não seja bom. (…) Às vezes, tento imaginar teu rosto envelhecido e me parece que te amarei tanto quanto, ou talvez até mais, do que te amo hoje.”

(Gustave Flaubert para Louise Colet)

Diz-me, que estrela regeu teu nascimento para unir em tua pessoa tantas qualidades diferentes, tão numerosas e tão raras? Despedimo-nos num momento em que muitas coisas estavam a ponto de brotar de nossos lábios. Nem todas as portas entre nós foram abertas. Tu me inspiras um grande respeito e não ouso interpelar-te.”

(Gustave Flaubert para George Sand)
  
“Já se passaram seis anos desde que alcancei meu primeiro grande sucesso na vida ao conquistar-te. (…) Hoje és mais cara para mim, minha criança, do que eras no dia do teu aniversário passado, quando eras mais querida do que no anterior – foste tornando-te progressivamente mais querida desde o primeiro aniversário e não tenho dúvida de que essa preciosa progressão continuará até o fim. Esperemos pelos próximos aniversários, com a idade e os cabelos grisalhos, sem medo e sem depressão, confiantes e convictos de que o amor que compartilhamos será suficiente para abençoá-los.”

(Mark Twain, para a esposa, Livy)

Mais querido dos meninos, tua carta foi deliciosa, como vinho tinto e branco para mim. (…) Preciso ver-te logo. És o divino objeto do meu desejo, um ser de graça e beleza. (…) Em alguns momentos, pensei que seria melhor nos separarmos. Ah! Momentos de fraqueza e de loucura! Agora vejo que isso teria mutilado minha vida, arruinado minha arte, destruído os acordes que compõem uma alma perfeita. Mesmo coberto de lama, eu te louvarei; dos abismos mais profundos, clamarei por ti. Na minha solidão, tu estarás comigo. Estou decidido a não me revoltar, mas aceitar todos os ultrajes pela devoção ao amor”

(Oscar Wilde para Lord Alfred Douglas)


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