Como uma americana
negra e pobre mudou a história da medicina
com suas células, mas nunca se beneficiou disso.
com suas células, mas nunca se beneficiou disso.
Ela era baixinha, negra, pobre e
morreu aos 31 anos em 1951. Durante décadas ela era conhecida – e mundialmente
admirada – apenas como HeLa.
Na verdade, conhecidas são
as suas células, pois a plantadora de tabaco americana Henrietta Lacks era
basicamente uma desconhecida em seu país e no mundo até o lançamento, este ano,
do livro “The Immortal Life of Henrietta Lacks”, da jornalista Rebecca Skloot
(a tradução em português deve sair em abril de 2011 pela Companhia das Letras.
Henrietta nunca soube que os médicos
do hospital Johns Hopkins, um dos mais importantes dos Estados Unidos, haviam
retirado células do câncer de colo de útero que terminaria por matá-la. Mesmo
seus filhos e marido souberam apenas 20 anos após sua morte que as células de
Henrietta haviam se tornado a primeira linhagem de células imortais crescidas
em cultura e que foram fundamentais para o avanço de medicina em áreas tão
distintas como quimioterapia, clonagem, fertilização in vitro e a vacina da pólio.
Cem prédios Empire State
Atualmente, as células HeLa continuam mais ativas do que nunca em milhares de laboratório de todo o mundo embora ela esteja morta há 59 anos. “Deus e todo mundo as usam”, afirmou o professor Ricardo Brentani, professor emérito de Oncologia da Universidade de São Paulo (USP), presidente do Hospital do Câncer e diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). E completou: “Certamente há muito mais células da Henrietta Lacks nos laboratórios do que ela tinha quando ia ao supermercado”. No livro, Rebecca estima que se todas as células HeLa fossem empilhadas teriam o peso equivalente a cem Empire States Building,
O câncer de colo de útero é um dos
que mais atinge mulheres em todo o mundo. Com cerca de 500 mil casos novos por
ano no mundo, ele é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres,
sendo responsável pela morte de 230 mil mulheres por ano segundo dados do
Instituto Nacional de Câncer (Inca). No Brasil, para 2010, são esperados mais
de 18 mil casos novos, ou seja, 18 casos para cada 100 mil mulheres.
Atualmente, sabe-se que o surgimento
deste tipo de câncer está associado à infecção por um dos 15 tipos oncogênicos
do vírus Human Papilloma Virus (HPV). “A linhagem celular derivada do tumor de
Henrietta contém o DNA do HPV tipo 18, um dos mais oncogênicos.”, explicou a
pesquisadora Luisa Villa, do Instituto Ludwig que trabalha com células HeLa há
mais de 25 anos e liderou as pesquisas no Brasil que levaram à criação da
primeira vacina contra HPV aprovada pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) em 2006 – a vacina é eficaz contra quatro tipos de HPV (6, 11,
16 e 18).
E elas – as células HeLa -
continuam a ser reproduzidas em laboratório e literalmente vendidas por US$ 25
o tubo de ensaio. Sim, as HeLa também se transformaram em um grande negócio
financeiro. Novamente, a família Lacks foi esquecida e pior até: nunca se
beneficiou dela e nenhum dos filhos de Henrietta conseguiu ter plano de saúde e
muito menos ir à universidade.
As células HeLa também foram ao
espaço na primeira missão especial para ver o que acontecia às células humanas em
um ambiente de gravidade zero. O trabalho com células HeLa mudou a medicina,
mas sua dona ficou na sombra durante décadas e sua família nunca se beneficiou
disso. Esta é a incrível e triste história de Henrietta Lacks.
Henrietta e David
Lacks em 1945
Henrietta Lacks (Roanoke, 18 de agosto
de 1920
-
Baltimore, 4 de outubro
de 1951)
foi a doadora involuntária de células cancerosas, mantidas em cultura microbiológica pelo cientista
George Otto Gey para criar uma linhagem
celular imortal a ser utilizada em pesquisas
médicas. Esta linha de células é atualmente conhecida como HeLa.
As células HeLa foram cultivadas
quando a senhora Lacks recebia tratamento para um câncer
cervical no Johns Hopkins Hospital. Seu câncer
produzia metástases
anormalmente rápidas, mais que qualquer outro tipo de câncer conhecido pelos
médicos.
Após o óbito de Henrietta Lacks, suas
células continuaram sendo cultivadas para estudo de sua impressionante
longevidade, sendo distribuídas por vários laboratórios
em todo o mundo. Jonas Salk as utilizou para produzir um vacina
contra a poliomielite. Foram enviadas ao espaço para
experiências sob gravidade zero. Neste meio século desde sua morte, suas
células foram continuamente usadas em experimentos e pesquisas contra o câncer,
AIDS, efeitos da radiação,
mapeamento genético e muito mais. Calcula-se que a quantidade de células
existentes nos laboratórios de todo o mundo supere o número de células da
senhora Lacks em vida.
(Do blog Ciência - IG
Nenhum comentário:
Postar um comentário