quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Deu no jornal



→ No dia do pagamento, o operário contava e recontava e não conseguia descobrir o aumento do novo salário. Era o mínimo.

→ Todos os dias, à mesma hora, o colegial chegava e ficava remexendo os livros. O livreiro olhava e não dizia nada. Era freguês de caderno.

→ No fim de tarde, na bolsa de valores sobravam papéis por todos os lados. O mendigo chegava, olhava e ia embora. Não tinha saco.

→ Todos os dias, à mesma hora, o ladrão entrava no banco, piscava pro caixa e levava todo o dinheiro. Ninguém sacava.

→ Todos os dias, em seus aparelhos, à mesma hora, os militantes sintonizavam a rádio de Cuba. Deu cadeia.

→ Na hora do chá, a dona de casa desceu do carro, entrou no supermercado e foi direto à confeitaria. Parou, olhou e não comprou nada. O sonho acabou.

→ Na alfândega, o Bispo chegava, mostrava o embrulho, dava um sorriso e ia em frente. O guarda nem olhava. Era um santo.

(Pacheco no “QI 14”)


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