quinta-feira, 31 de agosto de 2017

São Cosme e São Damião



Dia 27 de setembro

Prece do serviço aos necessitados

Deus, nosso Pai, São Cosme e São Damião passaram no mundo fazendo o bem, curando as doenças e aliviando o sofrimento de sua gente, dando confiança e esperança aos corações atribulados. Fizeram de seu ofício de médico um serviço ao próximo. 

Fazei, Senhor, que também nós, inspirados no exemplo de vida de São Cosme e São Damião, sirvamos os nossos semelhantes de modo desinteressado, buscando sempre o seu bem e a sua felicidade. 

Fazei que lutemos corajosamente pela humanização de uma medicina que coloque o homem - mente e coração, corpo e espírito - no centro de suas preocupações. Que os médicos coloquem em primeiro lugar a vida, o bem de seus pacientes, e não o lucro, a exploração do comércio da morte, visando apenas o dinheiro. 

Que, a exemplo de Cristo, que veio para servir e não para ser servido, colaborem para que se efetue o direito do povo de ter saúde e viver plenamente.

A história dos santos irmãos

São Cosme e São Damião são dois santos orientais, provavelmente martirizados em Egeia, Cilícia, Ásia Menor, região da atual Turquia, a 27 de setembro de 287, durante a perseguição do imperador Diocleciano (284-305). Historicamente, pouco se sabe sobre a vida destes dois irmãos médicos e, segundo a tradição, gêmeos. Seus restos mortais foram levados para Roma, durante o pontificado de João Félix, e depositados na igreja que tem seus nomes. Seu culto divulgou-se intensamente pela Europa, principalmente na Itália, Flandres, França, Espanha e Portugal, onde várias igrejas foram construídas sob seu patronato. Considerados protetores dos cirurgiões, eram padroeiros de diversas confrarias, como por exemplo, a Confrérie et College de Saint Côme, fundada em Paris, em 1226, a mais famosa associação médica da Europa e que existiu até a Revolução Francesa. Nas primeiras décadas do século XIX, pagava-se na Universidade de Coimbra a quantia de 480 réis pelo registro do diploma de medicina e 100 réis pelo exame de boticário, valores devidos à Irmandade dos Santos Cosme e Damião. Estão ligados aos cultos dos deuses da reprodução, fecundação, germinação e moléstias sexuais.

No Brasil, estão mais dedicados a defender da fome, das doenças do sexo e dos partos de gêmeos. No sincretismo religioso, os jeje-nagôs os identificaram como os orixás gêmeos sudaneses Ibeiji, que são a divinização do parto duplo. No seu dia oblacional, recebem festas também no candomblé, com ofertas de alimentos e reunião de amigos para danças, comidas e bebidas. Em grego são chamados de anargiros, o que significa sem dinheiro, por nunca receberem dinheiro em troca de seus serviços. Curavam não somente pessoas, mas também animais. Conta a tradição popular que um dia, São Damião aceitou uma pequena oferta de uma mulher chamada Paládia, a quem havia curado de uma doença. São Cosme recriminou-lhe o gesto, dizendo que não queria ser enterrado junto a ele. Quando os cristãos recolheram seus restos mortais para sepultá-los, um camelo começou a bradar com voz humana, dizendo que enterrassem os dois irmãos juntos, uma vez que Damião recebera a oferta apenas para não humilhar a pobre mulher. 


A história de Luís Gama



Até os dez anos, Luis Gama era uma criança como as outras. A mãe trazia-o nos braços extremosamente; o pai parecia ter por ele um grande afeto.

Foi ao completar aquela idade que o destino lhe mudou brutalmente a vida, arrastando-o de súbito pelo mundo, como os temporais arrastam pelo mar os barcos sem vela e sem leme.

Leiam a sua história.

Entre os pais de Luís Gama havia profundas diferenças.

A mãe era uma negra quitandeira. O pai, um fidalgo português.

Ela trabalhava. Ele, um estroina, jogava todo o dinheiro que lhe caía nas mãos.

O jogo, meus meninos, é realmente uma das maiores ruínas do mundo. O homem que joga acaba perdendo a própria dignidade.

O pai de Luís Gama viciou-se tanto no jogo que, para ter com que jogar, passou a cometer todas as baixezas.

Um dia, entrou ele, pela manhã, em casa da quitandeira. Sentou o filho nas pernas, beijou-o, fez-lhe os carinhos do costume e, de repente, com a maior naturalidade, perguntou-lhe:

‒ Não queres ir com o papai, num barco, ver os navios que estão no porto?

O pequeno pulou de contente. Tinha uma vontade louca de andar no mar e uma vontade maior de entrar num navio.

‒ Quero! Quero! Vamos.

A mãe correu a lavá-lo e a vesti-lo.

Meia hora depois, a mãozinha segura à mão do pai, lá saiu Luís pelas ruas, pulando ingenuamente, alegremente, como um pássaro feliz.

Isso se passava na Bahia, no 10 de novembro de 1840.

No porto havia dois ou três navios. O Saraiva, um patacho(1) que carregava escravos, estava ancorado no fundo da enseada.

– Queres ir àquele navio que está mais distante? Perguntou o pai ao filho, apontando-lhe o patacho.

– Quero!

Para quem sonhava com um passeio no mar, quanto mais longe estivessem os navios, mais encantador seria o passeio.

Um escaler levou-o ao Saraiva.

O garotinho é a vivacidade em corpo e alma. Quer ver tudo e tudo quer saber. Ao pôr os pés a bordo, percorre o barco de ponta a ponta, pegando, examinando, indagando miudeza por miudeza.

Mas, em certo momento, sente que o pai não está ao seu lado. Em vão procura-o aqui, ali. Corre à popa. Corre à proa. Corre depois à amurada e o vê, já distante, fugindo no escaler que os trouxera.

– Papai! Grita aflitamente.

– Vou à terra, filhinho, mas volto já, respondeu-lhe de longe o fidalgo.

Com aquela pouca idade, Luís sabia o pai que tinha. Num relance, compreendeu a cilada miserável em que caíra.

E, sufocado de lágrima, brada numa grande explosão de revolta:

– Papai, o senhor me vendeu!

Parecia mentira, mas era verdade. Para ter com cem ou duzentos mil réis com que pudesse jogar, o pai havia vendido o filho pequenino!

O negócio fora feito na véspera. Toda aquela história de passeio no mar tinha sido inventada para entregar a criança ao comandante do navio.

O resto do dia o pequeno não parou de chorar.

Atiraram-no depois para o convés, no meio dos escravos que iam ser vendidos no Rio de Janeiro.

À tarde, o barco saiu barra afora.

O pobrezinho, que só conhecia a doçura dos carinhos da mãe, tremeu diante do longo inferno que se desenrolou aos seus olhos.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, levaram-no com outros escravos para ser vendido no mercado.

O alferes Antônio Cardoso, negociante de negros em São Paulo, compra-o para revender. Mas Luís é tão pequeno que, em São Paulo, ninguém o quer.

O alferes deixa-o então em casa para serviços de limpeza, de copa, lavagem e engomagem de roupa.

Não há, portanto, meus meninos, quem tenha, na vida, menos possibilidade de estudar e muito menos de conseguir um nome ilustre.

Mas a força de vontade é uma virtude tão poderosa que nem a própria desgraça consegue vencê-la.

Tinha Luís dezessete anos quando um menino rido chegou para estudar em casa do alferes. Era Antônio Rodrigues Prado Júnior, que os pais mandavam a São Paulo para continuar os estudos.

O estudante e o escravo, em pouco tempo, se tornaram bons camaradas.

No quarto do estudante, o escravo recebeu as primeiras lições de leitura e de escrita. E isso foi rápido: em três ou quatro meses o filho da quitandeira aprendeu o que os outros meninos aprendem em dois ou três anos.

Tempos depois, sente ele necessidade de vida menos caseira do que aquela. Foge de casa e vai ser soldado.

No quartel, a sua sorte é a mesma sorte áspera e penosa. Em seis anos, não consegue chegar senão a cabo de esquadra e, uma vez, é metido por muito tempo na enxovia por ter repelido o insulto de um superior.

Acontece que, certo dia, é escalado para ser ordenança do chefe de polícia, o conselheiro Francisco Maria de Sousa Furtado de Mendonça.

Quem vai olhar para um pobre ordenança? Mas, há em Luís Gama uma tal distinção e uma tal dignidade no proceder, que o conselheiro se impressiona.

Fazem-se amigos. Furtado de Mendonça abre-lhe a biblioteca.

O antigo escravo vive de livro na mão. Não há um instante de folga que não o aproveite para estudar.

Não vai a parte alguma, não se diverte, não conhece os gozos do mundo. Vive, por alta noite, de toquinho de vela aceso, olhos nos livros, devorando-os, devorando-os.

Mais tarde, deixa a farda. Ora serve de escrivão na polícia, ora faz cópias para cartórios.

É a época mais dura da sua vida. Publica nos jornais os seus primeiros versos; defende réus no júri; faz discursos na rua, em favor da liberdade dos escravos.

Fala-se no seu nome por toda a cidade. A sua fama espalha-se pelo país. E, com tudo isso, às vezes, não tem um pedaço de pão para comer.

Mas é preciso estudar mais do que nunca, para colocar-se à altura do nome que conquistou. E estuda incessantemente e trabalha como um louco.

E, estudando e trabalhando, conseguiu tudo que quis ser: poeta, jornalista, advogado, orador, o mais ardente e o mais sincero defensor da raça negra que houve no seu tempo.

E conseguiu tudo isso com uma grande ferida aberta no coração, ferida que a sorte nunca lhe permitiu que sarasse. E que, desde aquele dia infeliz em que o pai o atirou para o convés do navio negreiro não teve mais notícias de sua mãe.

A vida inteira passou a pedir notícias dela e a procurá-la. E o destino cruel nunca mais consentiu que ele a visse. Às vezes, sonhava ouvindo-lhe a voz; delirava, outras vezes, vendo-a ao seu lado carinhosamente. Mas tudo sonho, sonho e nada mais.

(Do livro “Cazuza”, de Viriato Corrêa)

(1)   patacho – pequeno navio de vela, de dois mastros.


Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um rábula, orador, jornalista e escritor brasileiro. Nascido de mãe negra livre e pai branco; foi, contudo, feito escravo aos 10, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Nascimento: 21 de junho de 1830, Salvador, Bahia - Falecimento: 24 de agosto de 1882, São Paulo, São Paulo



quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Emília no País da Gramática



→ Este livro conta a viagem que Pedrinho, Narizinho, Visconde, Quindim e, claro, Emília fazem até o País da Gramática. Lá eles aprendem a língua portuguesa de um jeito muito divertido, usando a imaginação e a criatividade. Como? Caminhando pelos bairros da cidade Portugália, brincando de criar palavras, interjeições, orações e conversando com as senhoras Etimologia, Sintaxe, Ortografia e muitas outras, que ensinam a origem e o significado das palavras e como escrevê-las corretamente, formando frases coerentes e coesas. Como o livro foi lançado pela primeira vez em 1934, muitas regras e conceitos gramaticais antigos foram atualizados e comentados para que o leitor de hoje também viaje por esse país.

Exame e Pontuação

Depois de brincarem por algum tempo naquele jardim de Períodos, e de discutirem novamente a campeação do Visconde, os meninos resolveram ir ao bairro das Sílabas sherlockar o rapto do Ditongo – como dizia a Emília.
– Não ainda – propôs Dona Sintaxe. – Quero correr um exame nos meus alunos. Venham todos cá – e o senhor também, Seu Rinoceronte.
Os meninos e o paquiderme perfilaram-se diante da grande dama.
– Muito bem – disse ela. – Vou agora ver se essas cabecinhas guardaram o que ensinei, e para isso temos que analisar uma frase.
E voltando-se para um grupo de frases passeadeiras:
– Aproxime-se um Período para ser analisado! Depressa!...
Apresentou-se incontinenti aquele assanhadíssimo Período que dizia assim: Tia Nastácia faz bolinhos que todos acham muito gostosos.
– Vamos ver, Emília, quantas Orações há neste Período?
– Duas! – respondeu imediatamente a boneca. – A primeira é a Principal e a segunda é a Subordinada.
– Muito bem. E qual o Sujeito da primeira, Pedrinho?
Tia Nastâcia.
– Muito bem. E qual o Sujeito da segunda, senhor paquiderme?
Todos – rosnou o rinoceronte com um bamboleio de corpo.
– Muito bem. E qual o Predicado da primeira, Narizinho?
Faz bolinhos – disse a menina com água na boca, porque estava chegando a hora do jantar.
– Muito bem. E qual o Predicado da segunda, Quindim?
Acham muito gostosos – respondeu o rinoceronte, lambendo os beiços.
– Muito bem. E qual o Complemento Verbal da primeira, Emília?
Bolinhos! – berrou a boneca. – Bolinhos é o Objeto Direto do Verbo Faz — quem não sabe disso?
– Muito bem. E qual o Complemento Verbal da segunda, Pedrinho?
Que.
– Esse Que a que se refere?
– Refere-se a Bolinhos.
– Bravos! – exclamou Dona Sintaxe. – Vejo que não perdi o meu tempo. Podem ir brincar.
Foi uma gritaria, e todos saíram aos pinotes. Emília espreguiçou-se e Quindim deu uma chifrada no ar, de brincadeira.

– E agora? – disse Narizinho. – Ela nos mandou brincar; mas brincar de quê, nesta cidade de palavras? Uma ideia!... Vamos ver a Pontuação! Onde fica a Pontuação, Quindim?
– Aqui perto, num bazar. Eu sei o caminho – respondeu o paquiderme.
No tal bazar encontraram os Sinais de Pontuação, arrumados em caixinhas de madeira, com rótulos na tampa. Emília abriu uma e viu só Vírgulas dentro.
– Olhem que galanteza! – exclamou. – Vírgulas, Vírgulas e mais Vírgulas! Parecem bacilos do cólera-morbo, que Dona Benta diz serem virgulazinhas vivas.
Emília despejou um monte de Vírgulas na palma da mão e mostrou-as ao rinoceronte.
– Essas Vírgulas servem para separar as Orações, as Palavras e os Números – explicou ele. – Servem sempre para indicar uma pausa na frase. A função delas é separar de leve.
Emília soprou o punhadinho de Vírgulas nas ventas de Quindim e abriu a outra caixa. Era a do Ponto e Vírgula.
– E estes, Quindim, estes casaizinhos de Vírgula e Ponto?
– Esses também servem para separar. Mas separar com um pouco mais de energia do que a Vírgula sozinha.
Emília despejou no bolso de Pedrinho todo o conteúdo da caixa.
– E estes aqui? – perguntou em seguida, abrindo a caixinha dos Dois Pontos.
– Esses também servem para separar, porém com maior energia do que o Ponto e Vírgula.
Metade daqueles Dois Pontos foram para o bolso do menino. Emília abriu uma nova caixa.
– Oh, estes eu sei para que servem! – exclamou ela, vendo que eram Pontos Finais. – Estes separam duma vez – cortam. Assim que aparece um deles na frase, a gente já sabe que a frase acabou. Finou-se...
Em seguida abriu a caixa dos Pontos de Interrogação.
– Ganchinhos! – exclamou. – Conheço-os muito bem. Servem para fazer perguntas. São mexeriqueiros e curiosíssimos. Querem saber tudo quanto há. Vou levá-los de presente para Tia Nastácia.
Depois chegou a vez dos Pontos de Exclamação.
– Viva! – gritou Emília. – Estão cá os companheiros das Senhoras Interjeições. Vivem de olho arregalado, a espantar-se e a espantar os outros. Oh! Ah! Ih!
A caixinha imediata era a das Reticências.
– Servem para indicar que a frase foi interrompida em certo ponto — explicou Quindim.
– Não gosto de Reticências – declarou Emília. – Não gosto de interrupções. Quero todas as coisas inteirinhas – pão, pão, queijo, queijo – ali na batata! – e, despejando no assoalho todas aquelas Reticências, sapateou em cima.
Depois abriu outra caixa e exclamou com cara alegre:
– Oh, estes são engraçadinhos! Parecem meias-luas...
Quindim explicou que se tratava dos Parênteses, que servem para encaixar numa frase alguma palavra, ou mesmo outra frase explicativa, que a gente lê variando o tom da voz.
– E aqui, estes pauzinhos? – perguntou Emília, abrindo a última caixa.
– São os Travessões, que servem no começo das frases de diálogo para mostrar que é uma pessoa que vai falar. Também servem dentro duma frase para pôr em maior destaque uma Palavra ou uma Oração.
– Que graça! – exclamou Emília. – Chamarem Travessão a umas travessinhas de mosquito deste tamanhinho! Os gramáticos não possuem o “senso da medida”.
Quindim olhou-a com o rabo dos olhos. Estava ficando sabida demais...



terça-feira, 29 de agosto de 2017

Rivellino



(...)

Mas, antes, vou falar um pouco do Riva (Rivelino), porque finalmente recebi do meu amigo Maurício Noriega o seu livro Rivellino.

Noriega, se você não sabe, é um dos melhores comentaristas de futebol da TV brasileira. Ele faz com o Milton Leite uma dupla harmônica como faziam Zico e Rivellino na Seleção.

Pois Noriega, homem do vídeo e da fala, pôs-se a escrever, e o fez bem.

Em geral, livros sobre o mundo do futebol, no Brasil, não passam de rematada picaretagem. Não há preocupação com o texto ou com a pesquisa, a intenção dos autores é faturar com a popularidade do tema. No caso do Noriega, não. O leitor percebe que houve trabalho e critério. Quem gosta de futebol vai gostar de ler.

Uma das tantas histórias que Noriega conta sobre o Riva se passou às vésperas da Copa de 1970. Rivellino ainda não era titular daquele que foi considerado o maior time de futebol de todos os tempos. Outros dois legítimos craques candidatavam-se a jogar naquela posição: Edu, ponta-esquerda clássico de drible irresistível, mas que não voltava para marcar, e Paulo César Caju, meia de habilidade incomum e jogo cadenciado, que seria campeão do mundo pelo Grêmio na década seguinte.

Rivellino teria sua chance de mostrar que era melhor do que os concorrentes em uma partida preparatória contra a Áustria, em que foi escalado para sair jogando.

Ele, de fato, era melhor, mas às vezes um grande jogador desanda quando sofre a pressão de ter de provar sua capacidade em um único jogo.

Por isso, no dia da partida, Rivellino sentia-se apreensivo em meio ao ambiente da concentração. Só relaxava no momento em que se reunia com jornalistas e outros jogadores para comentar a respeito de uma morena sinuosa que circulava pelo hotel naqueles dias. Mais do que o adversário, ela era o assunto das conversas. Todos olhavam para a morena, e a cobiçavam.

Rivelino, no entanto, estava mais preocupado com a partida. Depois do almoço, ele se recolheu ao quarto, deitou-se e ficou pensando como deveria jogar. Estava estendido na cama, quando ouviu baterem à porta. Foi atender e, ué?, não havia ninguém no corredor. Deitou-se outra vez. Mal cruzou as mãos atrás do pescoço e, maldição!, novas batidas. Agora, já irritado, gritou, enquanto se erguia:

– Tem jogo daqui a pouco! Vão descansar!

Abriu a porta. E, com mil lançamentos em profundidade, não havia ninguém.

Deitou-se novamente, intrigado, e novamente soaram as batidas na madeira. Então, Rivellino percebeu que o som não vinha da porta da frente e sim de uma lateral, que se comunicava com o quarto contíguo. Foi até lá. Abriu-a e... sim, sim, mil vezes sim! Era ela. A morena. Sorria um sorriso de promessas.

Cumpridas.

Após algumas horas de prazer carnal, Rivellino entrou em campo flutuando. Procure as cenas no YouTube. Você verá um conjunto de lances que nenhum jogador acumula num único jogo nos dias de hoje. E, para arrematar uma apresentação perfeita, aos 12 minutos do segundo tempo, ele recebeu a bola de Gérson, driblou um adversário, enquadrou o corpo e chutou com o lado de dentro do pé. A bola fez uma negaça para se esquivar do goleiro e entrou no canto: 1 a 0 para o Brasil. Rivellino seria titularíssimo da Seleção das Seleções, na Copa das Copas.

(...)


(Excerto de uma crônica de David Coimbra,
em Zero Hora, agosto de 2017)



segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Ouvindo falar de Deus



Olhando para os céus e observando as estrelas, ou olhando para as flores e prestando atenção nos seus detalhes, ou, ainda, acompanhando a gestação, o nascimento e crescimento de uma criança, não há como evitar nosso reconhecimento ao Criador da vida. Ouvir sobre as conquistas científicas feitas por Willian Morton, com a descoberta da anestesia cirúrgica, ou por Alexander Fleming, que descobriu a penicilina. Lembrando Howard Florey e Ernst Chain, que conseguiram purificar a penicilina, uma etapa importante para seu uso mais seguro em seres humanos. Von Mehring e Minkowski e a descoberta da insulina; Robert Hooke, que construiu o primeiro microscópio. Alexander Graham Bell, que inventou o telefone e Santos Dumont e a invenção do avião... É ouvir falar de Deus.

Ouvir falar das ações nobilíssimas de madre Teresa de Calcutá e sua dedicação aos pobres em todo o mundo; de Martin Luther King e sua luta pelos direitos dos negros. Lembrar de Kofi Annam, secretário geral da ONU, e sua luta pela paz entre as nações. Pensar em Dalai Lama, e sua pregação pela vida em harmonia; em Shirin Ebadi e seus esforços pela democracia e os direitos humanos, especialmente por sua  luta pelos direitos das mulheres e das crianças, em Chico Xavier e sua vida dedicada à caridade... É ouvir falar de Deus.

Ouvir falar das ações humanitárias da campanha internacional de banimento das minas terrestres e da organização “médicos sem fronteiras”...  É ouvir falar de Deus.

Cada país, cada região do mundo, por intermédio de ditos e feitos nas mais variadas áreas do pensamento e da ação humana, de maior ou menor expressão, terá ouvido falar de Deus, com certeza.

No entanto, a história da humanidade não é feita somente com grandes realizações. Ela é composta, principalmente, pelas ações quase anônimas, que acontecem dentro dos lares, nas relações fraternas entre as pessoas, no dia-a-dia de cada um. Por menores que sejam serão importantes para a vida, desde que nossas ações possam também falar de Deus a quem as presencia ou delas tome conhecimento. Assim, reveja sua autoestima, veja-se na condição de quem está auxiliando na construção do mundo, e nunca diga “impossível” para seus planos, sempre que estiverem alicerçados em bons propósitos.

Pense nisso!

Não existe nada mais horrível do que gente que diz: “é impossível”. Com sua postura altiva reprovam qualquer tentativa. Não veem a menor validade na história da humanidade. Por eles não haveria a invenção do carro, do rádio, da televisão, nem do computador e sua memória. Viveríamos na pré-história.

Se as pessoas que dizem: “impossível”, governassem, o mundo seria um lugar bem sem graça. Descortine a janela da alma com mãos operosas no bem, para que ali se faça mais presente o sol da vida. Retire as vendas do preconceito dos olhos para que possa enxergar a vida em toda a sua verdadeira grandeza, e você entenderá muito bem a assertiva de Jesus de que é preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. E, com olhos de ver e ouvidos de ouvir, você mais e mais encontrará Deus em sua vida. “A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”, ensinou Albert Einstein.

Texto de “O Livro das Virtudes para Crianças”, de Wlliam J Bennett.



O candombe da mãe Rita

Um fato da antiga Porto Alegre

(1881)

Por Antônio Álvares Pereira, o Coruja.


Uma Mãe-de-Santo da época
  
O candombe (1) da mãe Rita era na Várzea (2), defronte da casa e curral do antigo matadouro (3), mais ou menos no terreno então baldio e depois ocupado pelas casas do Firmo e a olaria do Juca (José de Sousa Costa), ou Juca da Olaria (4), nomes quase iguais à Baiana do Presépio ou Presépio da Baiana (5).

Ali se reuniam nos domingos à tarde pretos de diversas nações, que com seus tambores, canzás, urucungos e marimbas cantavam e dançavam esquecendo as mágoas da escravidão, sem que causassem maiores cuidados à polícia, como e à mesma hora acontecia aos parelheiros da Várzea em frente à chácara do velho Leão (6), com os tantos patacões aos pés do bico blanco, do zaino, do mano Juca, etc., apostas que quase sempre acabavam em rolo.

Nesse candombe também se ensaiavam os cocumbis (7) que pelo Natal nas festas da Senhora do Rosário, levando à frente o Rei e a Rainha vestidos à caráter, com a juíza do ramalhete e a competente aristocracia negra, iam dançar, ou antes, sapatear no corpo da igreja (8) com guizos nos tornozelos, enquanto dali não os expulsou o falecido vigário José Inácio, de saudosa memória.

Esta expulsão ou proibição deu causa a que o tesoureiro da irmandade, Francisco José Furtado, promovesse a ereção da atual Igreja do Rosário (9), mas quando anos depois na se concluía, já não dançavam aí mais os pretinhos, porque os tempos já eram outros, e só em Viamão se viu um arremedo do cocumbis, em que o rei e a rainha se caracterizavam com as colchas das sinhás-moças.

Não sei se o vigário tinha razão nesta expulsão ou proibição, pois como era octogenário devia saber que em julho de 1756, quando pela capitania andou o conde de Bobadela, foi no povo de Santo Ângelo obsequiado ele e a oficialidade que o acompanhava, pelo padre Bartolomeu Piza, superior daquela missão, com um sermão dentro da igreja. À entrada da porta principal, e que as índias e índios dançavam minuetos e contradanças nobilíssimas em honra de Santo Inácio de Loyola, patriarca da Companhia de Jesus de quem reza a igreja no dia último desse mês.

E o vigário José Inácio não devia ser mais católico nem mais cristão do que os próprios jesuítas.

Notas

1. Candombe equivale à designação atual batuque, observa Sérgio da Costa Franco. É de ver que a palavra candombe sobreviveu no Uruguai, onde designa um gênero musical afro-americano.

2. Grande área alagadiça que compreendia o atual parque Farroupilha e era maior que ele.

3. Parece ser aquele que funcionou até 1824 na altura da atual Rua Avaí, perto da João Pessoa.

4. Não era este o mais antigo proprietário de uma olaria na região, onde hoje corre a Rua Lima e Silva.

5. Trata-se de Ana Maria de São José, senhora que vivia no antigo caminho da Azenha, atual João Pessoa, que de fato abria à visitação um presépio, por ocasião do Natal, segundo Coruja. Era uma “mulata velha” que sobreviveu como parteira depois de ter sido preterida numa herança rica a que tinha direito.

6. Atrás do atual Colégio Militar.

7. Na região de Osório se manteve esta tradição, a das congadas ou moçambiques e dos cocumbis permaneciam só em Viamão, que era o município a que pertencia a região litorânea toda.

8. Esta igreja era a antiga Matriz, que existia até a década de 1920 no mesmo local da atual.

9. Atual na época da redação, claro. Coruja está falando da antiga Igreja do Rosário, construída pela irmandade dos pretos (livres ou escravos), construída na atual Rua (ironia da história?) Vigário José Inácio entre 1817 e 27 e destruída irracionalmente nos 1950, para dar lugar à atual.


Como se passar por inteligente em uma reunião social.



Utilizando este pequeno teste, você pode aprender a usar o
chavão certo e aprimorar os seus clichês:

A arte... pode ser:

• milenar
• burguesa
• contemporânea
• a sétima

A estrutura... pode ser:

• arcaica
• familiar
• rígida
• econômica

Uma experiência... pode ser:

• gratificante
• inesquecível
• sexual
• científica

A conjuntura... pode ser:

• atual
• clássica
• acadêmica
• ultrapassada

As bases... podem ser:

• consultadas
• sólidas
• insuficientes
• nucleares

A situação... pode ser:

• limite
• complexa
• favorável
• insustentável

O ego... pode ser:

• inflado
• afagado
• super
• alter

Uma obra... pode ser:

• polêmica
• insólita
• do governo
• prima

Um hábito... pode ser:

• contumaz
• desagradável
• irritante
• do monge

Um episódio... pode ser:

• isolado
• dramático
• curioso
• longo

Os juros... podem ser:

• escorchantes
• imorais
• altos
• baixos

O plano... pode ser:

• mirabolante
• de saúde
• furado
• cruzado

 (Texto de Jô Soares – na revista Veja)


Como foi inventado o candomblé



Pintura de Carybê

No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras.

Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu imaculado do Orixá fora conspurcado. O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum. Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra.

Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida. E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos. Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados. Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram. Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados. Foram queixar-se com Olodumaré, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.

Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos. Foi a condição imposta por Olodumaré. Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás.

Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão. De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás. Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas, cortou seus cabelos, raspou suas cabeças, pintou seus corpos. Pintou suas cabeças com pintinhas brancas, como as pintas das penas da conquém, como as penas da galinha-d’angola. Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços, enfeitou-as com joias e coroas. O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa. Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e nos pulsos, dúzias de dourados indés. O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais. Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori, finas ervas e obi mascado, com todo condimento de que gostam os orixás. Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê. Finalmente as pequenas esposas estavam feitas, estavam prontas, e estavam odara. As iaôs eram a noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia imaginar. Estavam prontas para os deuses. Os orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê, podiam cavalgar o corpo das devotas.

Os humanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs. Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos. E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás, enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam. Os orixás podiam de novo conviver com os mortais. Os orixás estavam felizes. Na roda das feitas, no corpo das iaôs, eles dançavam e dançavam e dançavam. Estava inventado o candomblé.

(Reginaldo Prandi, Mitologia dos orixás, págs. 524-528)




O primeiro gol de bicicleta brasileiro



Leônidas, no Pacaembu, dando uma de suas famosas bicicletas.

De costas para o gol, o jogador se joga para trás, impulsiona o ar com uma perna e bate na bola com a parte de cima do outro pé. Há quem diga que quem criou o gol de bicicleta foi o brasileiro Petronilho de Brito. Outros historiadores e esportistas afirmam que o inventor foi o espanhol naturalizado chileno Ramón Unzaga Asla. Ele teria marcado um gol de bicicleta contra a Argentina durante a Copa América de 1920. Por causa dele, a jogada foi batizada de "chilena", e é assim que é chamada até hoje pela população de países de língua espanhola.

De toda forma, no Brasil, quem imortalizou e tornou mundialmente conhecida a bicicleta foi o jogador brasileiro Leônidas da Silva. É que ele executava a manobra com tanta perfeição e frequência que acabou fazendo dela sua marca. A primeira vez que o atacante apresentou a sua bicicleta foi em 24 de abril de 1932, numa partida entre Bonsucesso e Carioca. Ele repetiu o feito nos clubes em que passou e também na Copa do Mundo de 1938, impressionando torcedores das mais variadas nacionalidades. Devido à elasticidade da jogada, ele também era chamado de Homem-Borracha por parte da imprensa esportiva.

O primeiro gol de bicicleta brasileiro aconteceu em 1931 e foi marcado por Leônidas da Silva. Ele defendia o Bonsucesso numa partida contra o Esporte Clube Carioca. 


Leônidas da Silva por Baptistão

Leônidas da Silva, um dos maiores jogadores da história do futebol, morreu na tarde do dia 24 de janeiro de 2004, aos 90 anos. O também conhecido como Diamante Negro estava internado no Recanto São Camilo, clínica geriátrica em Cotia, São Paulo, onde passou os últimos 10 anos, época em que começou a agravar-se a doença que sofria, o Mal de Alzheimer.

Leônidas foi o criador do gol de bicicleta, em nosso país, ele é um dos maiores nomes da história do futebol brasileiro. Ele conquistou primeiro o Rio, ao brilhar em 1931 e 32 no Bonsucesso, que o descobriu no antigo Sírio Libanês.

Em seguida, teve breve passagem pelo Peñarol, mas voltou para casa e desfilou por Vasco (campeão estadual em 1934), Botafogo (campeão em 1935) e Flamengo (campeão em 1939, pelo qual marcou 142 gols em cinco temporadas).

Depois, foi a vez de encantar os paulistanos, com a camisa do São Paulo, clube que defendeu de 42 a 50, nesse período ganhou os títulos paulistas de 43, 45, 46, 48 e 49.

Pela seleção brasileira, jogou as Copas da Itália-34 e da França-38, foi quando terminou como artilheiro da competição, com oito gols.

Leônidas nasceu em São Cristóvão, no Rio. Começou jogando nos Campos de Várzea, bem próximo a Ponte dos Marinheiros. Habilidoso, ágil, elegante, genioso, perseverante são alguns adjetivos que servem para definir sua vida, sua carreira, sua personalidade. Sua habilidade com a bola começou na infância. Trocava as aulas pelas peladas de rua com bola de meia. Seu sonho era ser jogador e conseguiu, para felicidade de milhões de torcedores que o viram exibir sua elegância nos gramados nas décadas de 30 e de 40.


Pelé, no Maracanã, também fez seu gol de bicicleta.


Escoteiros e Bandeirantes



O escotismo foi fundado por Lord Robert Baden-Powell na Inglaterra em 1908 e trazido para o Brasil logo depois. A Federação das Bandeirantes do Brasil foi criada em 1919 e a União dos Escoteiros do Brasil em 1924. O texto seguinte é a forma atualizada dos juramentos e leis.

Promessa Escoteira

Þ Prometo pela minha honra fazer o melhor possível para cumprir meus deveres para com Deus e a minha pátria, ajudar ao próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei escoteira.

 Lei Escoteira


Þ O escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua própria vida.

Þ O escoteiro é leal.

Þ O escoteiro está sempre alerta para ajudar ao próximo e pratica diariamente uma boa ação.

Þ O escoteiro é amigo de todos e irmãos dos demais escoteiros.

Þ O escoteiro é cortês.

Þ O escoteiro é bom para os animais e as plantas.

Þ O escoteiro é obediente e disciplinado.

Þ O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.

Þ O escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.

Þ O escoteiro é limpo de corpo e alma.

 Promessa de Bandeirante

Þ Prometo, sob a minha palavra de honra, que farei o melhor possível para ser leal a Deus e a minha pátria, ajudar o próximo em todas as ocasiões, e obedecer ao código dos Bandeirantes.

Código Bandeirante

Þ O sentimento de honra do bandeirante é sagrado e sua palavra merece toda confiança.

Þ O bandeirante é leal e franco.

Þ O bandeirante ajuda ao próximo em todas as ocasiões.

Þ O bandeirante estima a todos e é irmão para os outros bandeirantes.

Þ O bandeirante é cortês.

Þ O bandeirante vê Deus na criação, protege as plantas e os animais.

Þ O bandeirante obedece às ordens.

Þ O bandeirante enfrenta alegremente todas as dificuldades.

Þ O bandeirante é econômico.

Þ O bandeirante é puro em pensamentos, palavras e ações.


Esselentíssimo Senhor Juiz



Certa vez, ao transitar pelos corredores do fórum, um advogado e professor de Direito foi chamado por um dos juízes ao seu gabinete.

− Olha só que erro ortográfico grosseiro temos nesta petição.

Estampado, logo na primeira linha do petitório, lia-se:

“Esselentíssimo Juiz”. Gargalhando, o magistrado me perguntou:

− Por acaso esse advogado foi seu aluno na Faculdade?

− Foi sim – reconheci. Mas onde está o erro ortográfico a que o senhor se refere?

O juiz pareceu surpreso:

− Ora, meu caro, acaso você não sabe como se escreve a palavra excelentíssimo?

Então, expliquei-me:

− Acredito que a expressão pode significar duas coisas diferentes. Se o colega desejava se referir a excelência dos seus serviços, o erro ortográfico efetivamente é grosseiro. Entretanto, se fazia alusão à morosidade da prestação jurisdicional, o equívoco reside na junção inapropriada de duas palavras. O certo, então, seria dizer “esse lentíssimo juiz”.

Depois disso, aquele magistrado nunca mais aceitou, com naturalidade, o tratamento de excelentíssimo juiz. Sempre pergunta:

− Devo receber a expressão como extremo de excelência ou como superlativo de lento?

(Retirado da revista da OAB-SC, dezembro de 2002)


domingo, 27 de agosto de 2017

A história de uma canção


A história da vida e de uma música de Dolores Duran


Dolores Duran, nome artístico de Adiléa da Silva Rocha e conhecida no meio artístico como “bochechinha”, carioca, nascida em 1930, filha de um sargento da Marinha, começou ainda menina a atuar em programas infantis, onde desenvolveu sua aptidão musical; e desde os três anos de idade ela já cantava.

Por ter uma saúde um pouco frágil, consultou um médico que, após exames, constatou que a vida a artista levava não era compatível com o seu corpo. Ela era cardíaca, pois nascera com um sopro no coração. Ao saber disso, que poderia ter uma vida curta, aí mesmo que a artista resolveu viver sua vida intensamente.

Cantava em boates cariocas todas as noites até de manhã. Amou com muita intensidade, mas teve uma vida uma vida curta, morreu aos 29 anos de idade.

Ao chegar ao amanhecer, ao seu apartamento, em Copacabana, avisou à empregada: “Estou tão cansada que vou dormir até morrer...”. E, realmente, morreu dormindo.

Um casal, seus amigos, morreu num trágico acidente deixando uma filha órfã ainda pequena. Dolores adotou a criança e um dia, a vê-la dormindo na santa paz, ela fez a música abaixo, que muitos julgaram ser feita para dos inúmeros amores, mas foi feita para uma menina.

A Noite do meu Bem

Samba-Canção de 1959
Letra e música de Dolores Duran

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem.

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E abandono das flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem.

Quero a alegria de um barco voltando,
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem.

Ah! Eu quero o amor...
O amor mais profundo.
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem!

Quero a alegria de um barco voltando,
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem.

Ah! Como este bem demorou a chegar.
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a pureza que eu quero lhe dar.

Curiosidades sobre Dolores Duran

Þ Adiléa Silva da Rocha nasceu no Rio de Janeiro (07/06/1930). Começou a cantar aos 6 anos. Em 1940, no programa de calouros mais famosos da época, Calouros em Desfile, de Ary Barroso, Adiléa cantou Vereda Tropical em português e espanhol e tirou a nota máxima.

Þ Quando seu pai morreu, a cantora tinha 15 anos. Foi então que passou a sustentar a família, cantando em programas de calouros e atuando em novelas de rádios.

Þ Adiléa adotou o nome Dolores Duran aos 16 anos, quando assinou contrato com a boate Vogue (RJ), após ganhar um concurso de boleros. Precisou falsificar documentos para poder trabalhar.

Þ Por causa de suas bochechas redondas, a cantora ganhou o apelido de “Bochecha” e Bochechinha”.

Þ A canção My Funny Valentine, uma das mais famosas do repertório da black music americana, era cantada por Dolores. Segundo a cantora Ella Fitzgerald, a brasileira era a melhor intérprete da música.

Þ Dolores e Tom Jobim se conheceram em 1957, quando o maestro ainda não era famoso. Ele mostrou para Dolores uma melodia que havia feito com Vinicius de Moraes. Logo depois, Dolores compôs a letra de Por causa de você, e sugeriu que Tom a usasse sobre a melodia – ele não pensou duas vezes. A parceria rendeu ainda Se é por falta de adeus e Estada do Sol.

Þ Dolores cantava em inglês, francês, italiano, espanhol e português, aprendeu os idiomas ouvindo músicas.

Þ Dolores Duran morreu no Rio de Janeiro, no dia 24 de outubro de 1959, após uma crise depressiva. Ela chegou em casa depois de uma noitada e disse à empregada: “Não me acorde, estou cansada. Vou dormir até morrer”. Cumpriu a promessa. A cantora tinha 29 anos, e teve um ataque cardíaco causado pelo uso de álcool e remédios em excesso.



Galo de Rinha


Jayme Caetano Braun


Valente galo de rinha,
Guasca vestido de penas!
Quando arrastas as chilenas
No tambor de um rinhadeiro,
No teu ímpeto guerreiro
Vejo um gaúcho avançando
Ensanguentado, peleando,
No calor do entrevero !

Pois assim como tu lutas
Frente a frente, peito nu.
Lutou também o chiru
Na conquista deste chão...
E como tu sem paixão
Em silêncio ferro a ferro,
Cala sem dar um berro
De lança firme na mão!

Evoco neste teu sangue
Que brota rubro e selvagem.
Respingando na serragem,
Do teu peito descoberto,
O guasca de campo aberto,
De poncho feito em frangalhos.
Quando riscava os atalhos
Do nosso destino incerto!
Deus te deu, como ao gaúcho,
Que jamais dobra o penacho,
Essa de altivez de índio macho
Que ostentas já quando pinto:
E a diferença que sinto
E que o guasca bem ou mal!
Só lutas por um ideal
E tu brigas por instinto!

Por isso é que numa rinha
Eu contigo sofro junto,
Ao te ver quase defunto.
De arrasto , quebrado e cego,
Como quem diz: Não me entrego,
Sou galo, morro e não grito
Cumprindo o fado maldito
Que desde a casca eu carrego!

E ao te ver morrer peleando
No teu destino cruel.
Sem dar nem pedir quartel.
Rude gaúcho emplumado.
Meio triste, encabulado,
Mil vezes me perguntei
Por que é que não me boleei
Pra morrer no teu costado?

Porque na rinha da vida
Já me bastava um empate!
Pois cheguei no arremate
Batido, sem bico e torto...
E só me resta o conforto
Como a ti, galo de rinha,
Que se alguém me
Dobrar-me a espinha
Há de ser depois de morto!

Humor de velórios



Um velhinho, amigo de longa data do morto, resolve homenageá-lo quando seu caixão está baixando à sua morada final. Ele, então, improvisa um discurso ao pé da cova.
Nesse instante, cai no caixão a sua dentadura, e ele, rápido, improvisa:
– E leva contigo o meu último sorriso!

*****

Num velório, ao lado do morto, chega um sujeito com o celular em uma das mãos, tentando navegar na internet. Ele, então, pergunta a uma senhora que está chorando ao lado do falecido:
– Qual é a senha do wi-fi?
A senhora responde:
– Respeite o morto!
O navegador:
– Tudo junto?
*****

Em outro velório, de um político famoso, todos os presentes começam a enaltecer as qualidades morais do falecido. São elogios dos mais elevados quilates: “homem de conduta moral elevada”, “protetor dos pobres”, “guardião da moral e dos bons costumes”, “marido fiel”, “cidadão exemplar”, e por aí vai...
A viúva, que está sentada num dos cantos da sala, chama um dos seus filhos e cochicha ao pé do ouvido:
– Meu filho, vai até o caixão e verifica se é mesmo o teu pai que está sendo velado.

*****

Uma mulher, chorando muito, chega num velório e olha para o morto, incrédula:
– O Carlinhos morreu?
Um dos presentes, com os olhos cheios de lágrimas, confere que sim com a cabeça.
A mulher, aliviada, fala:
– Graças a Deus! Pensei que ele tinha me bloqueado no Facebook!

*****

No velório de um velho militar, começou uma música, um bêbado levantou-se, cambaleando e trocando as pernas, e se dirigiu a uma senhora de preto pedindo:
– Hic! A madame me dá o prazer desta dança?
E ouviu a seguinte resposta:
– Não, por três motivos: primeiro, o senhor está bêbado em pleno velório; segundo, porque não se dança a Marcha Fúnebre; e em terceiro lugar porque madame é a senhora sua mãe! Eu sou o padre da cerimônia.

*****

Silêncio total no velório, quando toca o celular da viúva. Ela atende e dá um sorriso amarelo a todos os presentes:
– Era para o falecido...

*****