domingo, 2 de julho de 2017

A musa do confronto

Roberto Carlos X Tarso de Castro


Sylvia Amélia, em 1969 no Rio, antes de virar baronesa /Foto: Evandro

→ Está radicada em Paris há mais de 40 anos, desde que se casou com o barão francês Gérard de Waldner, primo do banqueiro David de Rothschild, a baronesa Sylvia Amélia de Waldner, neta do grande sanitarista Carlos Chagas, descobridor da doença de Chagas.

→ Musa de estilistas como Yves Saint Laurent, Valentino e Givenchy, ela ficou conhecida no soçaite carioca pelo apelido de “pantera”, dado pelo colunista Ibrahim Sued nos anos 70 em referência à sua beleza arrebatadora. E põe um ponto final na especulação de que teria sido a musa inspiradora de Roberto Carlos no hit ‘Detalhes’, que, segundo o biógrafo Paulo César de Araújo, o cantor teria composto para conquistá-la. “Nunca fomos nem amigos. Seria uma honra, mas só o conheço como fã e ouvinte”.


Tarso de Castro: 1941-1991 (o outro cabeludo).

A tática da conquista

→ No fundo, no fundo, era variação de tática aplicada ainda em sua coluna na Última Hora para conquistar a socialite Sílvia Amélia Chagas Marcondes Ferraz, neta do sanitarista Carlos Chagas: “Estou a 200 metros de Silvia Amélia”. “Hoje, fiquei apenas 50 metros”. “Hoje, estou a 10 metros”. Houve uma disputa entre Tarso e Roberto, que teria inspirado a canção Detalhes. O rei da censura às biografias nega que Tarso seja o cara do trecho ”Se um outro cabeludo aparecer na sua rua”. O certo é que os dois tiveram cada qual seu romance com a Pantera de Ibrahim Sued. Silvia Amélia hoje é baronesa Silvia Amélia de Waldner. Vive em Paris, casada com o herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da França.

(Texto do Blog do Tarso)

Detalhes

(Erasmo Carlos e Roberto Carlos)

Não adianta nem tentar me esquecer,
Durante muito tempo em sua vida,
Eu vou viver.

Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer,
E a toda hora vão estar presentes,
Você vai ver.

Se um outro cabeludo aparecer na sua rua,
E isso lhe trouxer saudades minhas,
A culpa é sua.

O ronco barulhento do seu carro,
A velha calça desbotada ou coisa assim,
Imediatamente você vai, você vai lembrar de mim.

Eu sei que um outro deve estar falando ao seu ouvido.
Palavras de amor como eu falei, mas eu duvido!
Duvido que ele tenha tanto amor,
E até os erros do meu português ruim,
E nessa hora você vai, você vai lembrar de mim.

À noite envolvida no silêncio
Do seu quarto,
Antes de dormir você procura o meu retrato,
Mas da moldura não sou eu quem lhe sorri,
Mas você vê o meu sorriso mesmo assim,
E tudo isso vai fazer você, você lembrar de mim.

Se alguém tocar seu corpo como eu,
Não diga nada.
Não vá dizer meu nome sem querer
À pessoa errada.

Pensando ter amor nesse momento,
Desesperada você tenta até o fim,
Mas até nesse momento você vai,
Você vai lembrar de mim.

Eu sei que esses detalhes vão sumir
Na longa estrada,
Do tempo que transforma todo amor
Em quase nada.

Mas “quase” também é mais um detalhe,
Um grande amor não vai morrer assim.
Por isso, de vez em quando você vai...
Você vai lembrar de mim...

Não adianta nem tentar me esquecer,
Durante muito, muito tempo em sua vida,
Eu vou viver
Não, não adianta nem tentar,
Me esquecer...

Silvia Amélia Chagas

por Tom Cardoso

→ A lenda da baronesa de Waldner, que vive discretamente em paris e teria inspirado “Aquela canção do Roberto” nos anos 70 (Detalhes).

→ No começo da década de 70, um jornalista e um cantor travaram uma batalha fratricida pelo coração da mulher mais bonita e elegante do Rio de Janeiro. As armas foram escolhidas. Tarso de Castro, o jornalista, valeu-se do reconhecido e infalível charme, o mesmo com que laçara Leila Diniz, Ana Maria Magalhães e Norma Bengell. Já o cantor, Roberto Carlos, muniu-se do talento para escrever canções de amor, o que lhe conferia uma certa vantagem. Com o olhar pidão de sempre, decerto cantou sua nova canção no ouvido da musa inspiradora. “Se um outro cabeludo aparecer na sua rua/ E isso lhe trouxer saudades minhas/ A culpa é sua...”.

→ Mas nem o rei Roberto, nem Tarso, o cabeludo, a fisgaram. O escolhido foi um barão. E francês. A moça e o jovem Gérard de Waldner, herdeiro de uma das mais tradicionais famílias da França, casaram-se em 1973, em Paris, onde vivem felizes até hoje e, provavelmente, para sempre. Tarso foi chorar as mágoas com Paulo Francis e Jaguar, seus colegas de “O Pasquim”. Roberto Carlos seguiu se apaixonando e escrevendo canções de amor, sem jamais esquecer “os detalhes tão pequenos” daquela tórrida paixão.

→ Silvia Amélia Chagas valia por uma guerra inteira. Era linda, rica e bem-nascida, neta de Carlos Chagas, o renomado médico sanitarista que combateu no Brasil a tripanossomíase (conhecida popularmente, por sua causa, como Doença de Chagas). Foi a alegria de todos os colunistas sociais de sua época, de Jacinto de Thormes a Ibrahim Sued, que a transformou em “A Pantera”. “Não havia no Rio de Janeiro uma mulher que chegasse aos pés de Silvia Amélia. Ela sabia disso. Era cortejada por todos os grandes partidos da cidade, inclusive por meu irmão [o economista Roniquito de Chevalier], mas nunca se deslumbrou, não levantava o nariz para ninguém”, diz a atriz e jornalista Scarlet Moon de Chevalier.

→ Discreta, só por alguns anos se entregou a badalações e à vida boêmia da Ipanema dos anos 70 ‒ exatamente no intervalo do fim do primeiro casamento com o empresário Paulo Marcondes Ferraz e a vida de baronesa em Paris, quando Tarso e Roberto (e metade dos homens da zona sul carioca) queriam tê-la nos braços.

Entrevista pelo correio

→ Silvia Amélia, 64, não gosta de falar do passado. É ela própria quem atende à ligação da reportagem de Serafina, de sua mansão no oitavo distrito, uma das regiões mais elegantes de Paris. Estava de malas prontas para mais uma viagem pelo sul da França, onde a família Waldner tem uma série de propriedades, incluindo um suntuoso castelo, o mesmo onde o príncipe Charles foi flagrado nu por um paparazzo, em 2004 ‒ o ex-marido de Diana é afilhado da baronesa Louise de Waldner, sogra da ex-Pantera de Ibrahim.

→ A conversa com a baronesa durou alguns segundos. Silvia Amélia pediu para que o repórter enviasse as perguntas pelo correio ‒ não o de e-mail, mas o convencional. Prometeu, sem muita segurança, que, quando chegasse de viagem, as responderia. Despediu-se educadamente, sem antes ouvir:

‒ Foi para a senhora que Roberto Carlos compôs “Detalhes”?

‒ Não.

→ O próprio Roberto e o historiador Paulo César Araújo, autor da biografia proibida pelo rei, negam que “Detalhes” tenha nascido do efêmero caso de amor. Há controvérsias. A canção, de 1971, foi feita na mesma época em que o cantor e a socialite eram vistos quase todas as tardes na suíte presidencial do Copacabana Palace. Se Roberto não escreveu a canção para Silvia Amélia, quem seria a homenageada? Para a mãe, Lady Laura, é que não foi. E o cabeludo, que vivia aparecendo pela bandas da Vieira Souto, onde moravam os Chagas, provavelmente era Tarso. Desde os tempos de colunista da “Última Hora”, ele anunciava, otimista: “Estou a 200 metros de Silvia Amélia”. “Hoje, fiquei apenas a 50 metros”. “Hoje, estou a 10 metros”.


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