quinta-feira, 15 de junho de 2017

A última viagem de bonde em Porto Alegre



Bonde ornado com flores para a última emocionante viagem...

Dia oito de março de 1970 é uma data importante na Cia. Carris. Um dos motivos é a comemoração do Dia Internacional da Mulher que é sempre lembrado na empresa com a realização de homenagens às colegas trabalhadoras. Outro motivo é a lembrança de que foi num dia oito de março a última vez que os bondes elétricos circularam pelas ruas de nossa cidade.

Há quarenta sete anos, no dia oito de março de 1970, ocorreu a última viagem de bonde elétrico da Cia. Carris. Consultando o livro: “Memória Carris: Crônicas de uma História Partilhada com Porto Alegre”, temos a seguinte descrição do ocorrido:

“(...) O bonde circulou pela última vez em Porto Alegre, depois de 98 anos de serviço prestado à comunidade, em 8 de março de 1970. O dia foi um misto de luto, saudosismo e euforia. Trajando suas melhores roupas, pais, filhos, curiosos, ricos, pobres e pessoas das cidades vizinhas se acotovelavam na frente da sede da Carris, na Avenida João Pessoa, e nas paradas esperando a última viagem de bonde. Houve solenidade de despedida, à qual compareceram o Prefeito, o secretariado, autoridades civis, militares e eclesiásticas. O Sindicato dos Metroviários hasteou a bandeira do pavilhão a meio-pau, em sinal de luto. Circularam pela cidade, neste triste dia, as linhas G ‒ Gasômetro, T ‒ Teresópolis, e P ‒ Partenon. Toda a população pode usufruir do serviço dos elétricos gratuitamente. Às 20h30min, o último elétrico foi recolhido ao depósito de bondes. Alguns motorneiros e tripulação choravam solitários na frente da sede da Carris (...)”*.

A partir do texto, podemos constatar que este foi um dia de muita emoção. Um misto de entusiasmo com o futuro e saudades e apego pelo passado que se despedia. Quando saímos com o nosso ônibus memória, muitas pessoas nos perguntam o porquê do fim da circulação dos bondes. Depois da leitura de vários textos e da conversas com pessoas que viveram aquela época, constatamos que a união de vários motivos diferentes justificaram a substituição total do sistema de bondes pelo uso de ônibus. Interesses econômicos e a própria visão da população da época, que associava os bondes ao passado e o transporte rodoviário ao futuro, influenciaram nessa decisão. A verdade, entretanto, é que os bondes elétricos continuam muito presentes na lembrança dos porto-alegrenses mais antigos.

*SILVA, Cinara Santos da/ MACHADO, João Timotheo Esmerio, “Memória Carris: Crônicas de uma História Compartilhada com Porto Alegre”. Porto Alegre, Prefeitura Municipal, 1999. Pags; 75-76.

Fotos dos últimos bondes a circular em Porto Alegre


Última viagem do bonde da linha Partenon.


Última viagem de bonde da linha Gasômetro.
Na porta, o jornalista Archimedes Fortini. 


No centro da foto, de camisa branca sem mangas, 
Telmo Thompson Flores, o prefeito que acabou com os bondes.

Adendo final:

Várias capitais europeias e até algumas cidades dos  Estados Unidos (São Francisco)  possuem bondes. O  Rio Janeiro tem até hoje o famoso bondinho de Santa Tereza. 

Porto Alegre deveria ter mantido o Circular que fazia a linha do Gasômetro. Seria a mais linda linha turística da cidade: o bonde sairia do Chalé da Praça XV, passaria defronte à Prefeitura, entraria na  Rua Sete de Setembro, passando pelo Santander Cultural, MARGS e o antigo prédio dos Correios. Ao lado do QG do Exército, dobraria para a Rua da Praia, passando pela Igreja das Dores, Casa de Cultura Mário Quintana. Subiria a Rua Duque de Caxias, passando pelo Palácio Farroupilha, Palácio Piratini, Catedral Metropolitana e o Museu Júlio de Castilhos. Desceria a  Rua Marechal Floriano, cruzando a Rua da Praia, e, novamente, terminaria o passeio no Chalé, defronte ao Mercado Público. Não seria fantástico?


Bonde no Chalé da Praça XV:
o início e o fim da viagem...



2 comentários:

  1. O termino dos Bondes é o efeito da modernização do transporte público. É a consequência dos novos tempos, contudo é importante dizer que era possível ter preservado algum espaço na cidade, não só pelo que significou, mas, e principalmente, como memória para as gerações que não tiveram a oportunidade de conhecê-los. O turismo seria um dos elementos a ser estudado, a história da cidade um outro motivo. Creio que uma linha que circulasse pela borda (orla) do nosso Guaíba seria muito interessante. Penso em uma linha turística do centro até Ipanema, quem sabe mais além. Mas isso deveria estar em alguma pauta de um desses administradores (Prefeitos) que desde 1972, lá se vão 50 anos, no mínimo uma dúzia desses, não tiveram a sensibilidade de resgatar essa história, qualquer desculpa desses é só estórias.....!

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    1. A linha Duque (Gasômetro) já tinha os trilhos e a parte elétrica que fazia os bondes andarem. Não haveria custos extras para o município era só manter e preservar...

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