Luiz Coronel
(Seu posto era ali,
na fronteira com a Banda
Oriental Del Uruguay)
Até parece que seu Goya tinha
posto goma arábica nas almofadas. Não saía do cargo nem puxado por cinco juntas
de bois.
A impressão que se tinha era de
que, se o homem nascesse de novo, já nos cueiros seria fiscal aduaneiro.
Viesse chuva ou sol aberto, seu
posto era ali, na fronteira com
a Banda Oriental del Uruguay.
Com seus óculos tão espessos que
pareciam fundo de garrafa, lá estava ele, com sua autoridade que, sem ser
insolente, impunha respeito.
Mas acontece que, na dança dos
câmbios, o contrabando andava “livre, leve e solto”.
Numa noite em que a lua fora
visitar seus parentes em outras cercanias e não havia, nos céus, uma única
estrela para alumiar os passos de São Genaro, protetor dos contrabandistas,
vinha pela carreteira de Melo uma caminhonete Chevrolet da mais alta suspeição.
Ao se aproximar da linha divisória,
seu Goya fez valsear sua lanterninha, que mais parecia um bando de vaga-lumes
em saracoteios.
Três uruguaios levavam, no banco
traseiro, uma ovelha de contrabando.
Ao sentirem o perigo,
Tertuliano, Paquito e Caballero, mais do que depressa, cobriram a ovelha com o
poncho lanudo e enfiaram os óculos no ovino passageiro.
Seu Goya alumiou o interior da
condução.
- Lo que se pasa, paisanos?
- Nosotros estamos llevando
nuestra tia
Mercedes para el hospital de Bagé. Es cosa urgente, señor.
- Pasen, muchachos, pasen –
disse o velho fiscal.
Ao voltar para a cabine onde
Esteban se espreguiçava ante uma Norteña vazia, comentou Seu Goya:
- A la pucha, que cara de oveja tiene esta tal
Doña Mercedita!
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Do livro “O Cavalo
Verde”, de Luiz Coronel
Mecenas Editora e
Projetos Culturais
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