segunda-feira, 3 de abril de 2017

Vida de malandro não é mole não...



Nega Dina

Zé Keti

A Dina subiu o morro do Pinto
Pra me procurar,
Não me encontrando,
Foi ao morro da Favela
Com a filha da Estela
Pra me perturbar.

Mas eu estava lá no morro de São Carlos
Quando ela chegou,
Fazendo escândalo,
Fazendo quizumba,
Dizendo que levou
Meu nome pra macumba. (bis)

Só porque faz uma semana
Que não eu deixo uma grana
Pra nossa despesa.
Ela pensa que a minha vida é uma beleza,
Eu dou duro no baralho
Pra poder viver.
A minha vida não é mole não,
Entro em cana toda hora, sem apelação,
Eu já ando assustado, sem paradeiro...
Sou um marginal brasileiro.

Mas... se alguém perguntar pelo malando, ele responderá assim:

Diz que fui por aí...

Zé Kéti

Se alguém perguntar por mim,
Diz que fui por aí,
Levando o violão embaixo do braço.
Em qualquer esquina eu paro,
Em qualquer botequim eu entro,
Se houver motivo,
É mais um samba que eu faço.
Se quiserem saber se volto,
Diga que sim,
Mas só depois que a saudade se afastar de mim.
Mas só depois que a saudade se afastar de mim.

Tenho um violão para me acompanhar,
Tenho muitos amigos, eu sou popular,
Tenho a madrugada como companheira.
A saudade me dói, em meu peito me rói,
Eu estou na cidade, eu estou na favela,
Eu estou por aí,
Sempre pensando nela...

Estas duas músicas são cantadas exatamente como Zé Keti as compôs, há cantores que alteram algumas palavras das letras.

*Estes dois sambas podem ser ouvidos na voz do próprio autor pela internet.

 Abaixo, Zé Keti por Vladimir Vaz


→ Zé Keti, nome artístico de José Flores de Jesus, (Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1921 – Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1999) foi um cantor e compositor de samba brasileiro.

→ Dono de um temperamento tímido, seu pseudônimo veio do apelido de infância "Zé Quieto" ou "Zé Quietinho". Daí a Zé Keti era um pulo...

Abaixo, parte de um texto de Gustavo Autran para Folha de S.Paulo

→ Nascido em Inhaúma (zona norte do Rio), ele foi levado pela primeira vez à Portela, em Madureira, pelo compositor Alvaiade, em 1937.

→ Aos poucos, Zé Keti deixou a timidez de lado e se tornou um artista multimídia. Em 1957, a vida e a obra do compositor serviram de base para o filme "Rio Zona Norte", dirigido por Nelson Pereira dos Santos.

→ Além disso, compôs trilhas para filmes do cineasta Roberto Santos e fez uma parceria inusitada com Cacá Diegues em "A Grande Cidade".

→ As músicas de Zé Keti adquiriram contorno político mais forte a partir dos anos 60. Nessa época ele comandava as noitadas de samba no bar Zicartola, no centro do Rio.

→ Foi Zé Keti que apresentou para o público os sambistas Elton Medeiros e um certo Paulo César - apelidado por ele de Paulinho da Viola.

→ Na badalação do Zicartola, o sambista conheceu Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, que idealizou o show "Opinião", em 1965.

→ O espetáculo contou com Zé Keti, o maranhense João do Vale e a cantora Nara Leão, substituída mais tarde por Maria Bethânia. Logo ele se transformou num ícone da resistência ao regime militar.

→ O show reuniu no mesmo palco um representante dos morros cariocas (Zé Keti), um retirante (João do Vale) e uma carioca engajada de classe média (Nara Leão).

→ "Nara era talentosa e muito bonita. Pena que nunca me deu bola", diz o sambista, fiel à sua fama de mulherengo.

→ Autor de composições emblemáticas do samba, entre elas "Diz que Fui por Aí" e "Mascarada", Zé Keti entra para história da música popular como um dos principais elos de ligação entre as culturas produzidas no morro e no asfalto.




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