Uma História da Antiga Porto Alegre
No início da Rua da Praia,
equidistante de uma tríade de relevante valor histórico para a cidade: o Museu
do Trabalho, a Usina do Gasômetro e a Igreja das Dores - existe um recanto que
acolhe distintas lembranças do passado. A Praça Brigadeiro Antônio Sampaio,
reurbanizada em 1965, foi conhecida no passado como Ponta das Pedras, Largo da
Forca, Praça do Arsenal e Praça da Harmonia, Praça Martins Lima e Praça Três de
Outubro.
Segundo o historiador Sergio da Costa
Franco “o primeiro padecente no patíbulo foi o africano Joaquim, de nação Mina,
escravo de Joaquim Machado Leão, que matara a mãe de seu senhor, Maria Joana do
Nascimento Leoa. Cumpriu-se, na oportunidade, a horrorosa determinação da
Junta, de ser exibida ao público a cabeça decepada do condenado. Seguiram-se,
no ano de 1822, outras seis execuções, sendo três de escravos e três de homens
livres, um dos quais o soldado branco Joaquim José Fagundes, cujo suplício
causou uma comoção da cidade, exigindo medidas cautelares de segurança entre a
tropa. Dois escravos foram enforcados em 1826, outros três em 1829. Em 1830, o
Código Criminal do Império, derrogando em parte a legislação tirânica do Livro
V das ordenações Filipinas, reduziu a incidência da pena de morte, embora não a
abolisse, o que só aconteceu com o advento da República. (...) As últimas
execuções de pena máxima, atingindo a três sentenciados, aconteceram em 3 de
novembro de 1857.”
Sérgio da Costa Franco cita o cronista Antônio Álvares Pereira Coruja, segundo o qual, a forca “era habitualmente erguida na Praia do Arsenal, no lugar que ficou conhecido como Largo da Forca, depois Praça da Harmonia e hoje Brigadeiro Sampaio.” Costa Franco conclui que, a partir de
Praça Brigadeiro
Antônio de Sampaio – o patrono da Infantaria
O jornal Correio do Povo, de 03 de novembro de 2005,
página 4, publicou artigo de Landro Oviedo
Na pacata e bucólica Porto Alegre dos
anos 30 do século XIX, tinha vez um espetáculo de horror capaz de mexer com os
nervos da Província e da civilização. Cerca de duas dezenas de negros
transgressores tiveram as parcas vidas abreviadas pela forca no lugar hoje
conhecido como Praça da Harmonia. Uma demão na história para expiar culpas.
Uns dias antes do trágico evento, o
Largo da Forca, então um extenso capinzal, era limpo e preparado. O infeliz
ficava sabendo da sentença de execução e, desde seu anúncio, sua manutenção
ficava a cargo dos irmãos da Misericórdia. Aliás, então, numa compensação
eufemística e tardia, sua alimentação melhorava, liberavam-se-lhe as visitas e
ele recebia pão-de-ló e até vinho do Porto.
No dia da execução, formava-se o
funesto cortejo que o conduziria ao patíbulo. Ladeado por um sacerdote, por um
sacristão com a bandeira da Misericórdia, pelos soldados e por um meirinho, o
qual alardeava que se “iria executar a sentença”, o condenado, exposto à
curiosidade pública, era conduzido para missa de corpo animado e ainda fremente
na Capela dos Passos, “regalia” que recebia consternado.
Logo após, a comitiva retomava seu
rumo sinistro. Sob os dobres dos sinos das igrejas, vinha descendo a Rua da
Praia, hoje Andradas, até chegar ao local da forca. Lá esperavam o juiz da
execução, o escrivão de Justiça, o carrasco, além de escolares e de negros
cativos, levados ao local com o didático fim de constatarem que o mal não
compensa. Mais tarde, levariam corretivos próprios. Dividiam espaços com a
turba ávida de sangue e de desgraças alheias.
Lida a sentença, com o réu de cócoras
frente a um crucifixo, ele era alçado ao cadafalso, vestindo largo casacão de
algodão branco, com mãos amarradas. Um sacerdote rezava o Pai-Nosso, cujo final
era a senha para o carrasco colocar o pé nas mãos manietadas e forçar os ombros
da vítima para baixo, valendo-se de seus pesos. Ele estrebuchava, com olhos
catapultados das órbitas, num balouçar desesperado, até silenciar para sempre o
último fio de vida.
O lugar, dizem, teria ficado depois
por muito tempo assombrado pelas almas desses errantes do outro mundo. Em 1857,
realizou-se ali a última execução, a do pardo Florentino, que matou seu senhor
Antônio Soares de Almeida Leães. Após a morte de um inocente, o imperador Dom
Pedro II proibiu esse tipo de execução. Assim, o Largo da Forca ficou perdido
em algum escaninho da instável memória dos homens, que vive de lembrar e, por
vezes, de esquecer.
FONTES:
- Jornal Correio do Povo;
- Guia Histórico de Porto Alegre,
Sérgio da Costa Franco, 4ª edição – Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2006, pág.
180 e 181;
- Artigo de Landro Oviedo,
publicado no jornal Correio do Povo, de 03 de novembro de 2005, página 4.
(Do Blog webpoa)
Novamente Praça da Harmonia: Em
julho de 1965, por uma lei votada foi oficializado o nome de Praça da Harmonia.
Praça Brigadeiro Sampaio: Em
1975, apesar dos apelos do povo e do reconhecimento dos vereadores, a praça
mudou de nome mais uma vez.
Jornal Correio do Povo
17.08.1980: Com a inauguração do Monumento ao brigadeiro Antônio de Sampaio (1810-1866),
Patrono da Arma da Infantaria do Exército, na nova Praça Brigadeiro Sampaio
(antiga Praça da Harmonia), está de volta à cidade.
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