Havia um peixe no ar,
um papagaio no mar,
uma lâmpada no olhar,
um cogumelo a chorar.
‒ Mãe, em que história seria?
A princesa na floresta
bebia orvalho e cantava,
de sua boca tombando
o que de sonho tombava.
‒ Mãe, em que história eu fugia?
Doze anões e uma antiga
branca de neve, quem sabe?
Havia um gato de botas
onde o meu pé já não cabe.
‒ Mãe, em que história aparecia?
Ah, montanhas de cristal
onde um cavalo espantava
e um espelho que tudo via
mil respostas me não dava.
‒ Mãe, em que história eu
dormia?
Os dois irmãos
Eu conheço dois meninos
que em tudo são diferentes.
Se um diz: “Dói-me o nariz!”
o outro diz: “Ai, meus dentes!”
Se um quer brincar em casa,
o outro foge para o monte;
e se este a casa regressa,
já o outro foi para a fonte.
É difícil conviver
com tanta contradição.
Quando um diz: “Oh, que calor!”
“Que frio!” – diz o irmão.
Mas quando a noitinha chega
com suas doces passadas,
pedem à mãe que lhes conte
histórias de Bruxas e Fadas.
E quando o sono esvoaça
por sobre o dia acabado,
dizem “Boa noite, mãe!”
e adormecem lado a lado.
As pedras
As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.
Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?
As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.
Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como as aves
e nem mais tarde regressam.
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como as aves
e nem mais tarde regressam.
Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.
Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.
As pedras falam? pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
uma coisa para dizer.
Maria Alberta Rovisco Garcia Menéres
de Melo e Castro (Portugal, 1930) nasceu na cidade de Vila Nova de Gaia. É
professora, jornalista e escritora. Sua obra inclui poesia, contos, histórias
em quadrinhos, teatro, novelas, e
adaptação de clássicos da literatura.
Maria Alberta Meneres, de seu
nome completo Maria Alberta Rovisco Garcia Meneres de Melo e Castro nasceu em Vila Nova de Gaia, em
1930.
Licenciou-se em Ciências
Histórico-Filosóficas , pela Universidade Clássica de Lisboa.
Foi professora do ensino secundário e colaborou em diversas publicações
nomeadamente Távola Redonda, Diário de Notícias, Cadernos do Meio-Dia e Diário
Popular, tendo neste último sido responsável, durante dois anos, pela secção Iniciação
Literária.
A sua primeira obra data de 1952
e intitula-se Intervalo, tendo sido premiada, em 1960, com o seu livro
Água-Memória, no Concurso Internacional de Poesia Giacomo Leopardi.
Maria Alberta Meneres tem
dedicado grande parte da sua obra à literatura infantil e juvenil e produziu
nesta área programas de televisão, sendo em 1975 sido nomeada chefe do
departamento de programas infantis e
juvenis da RTP.
Ao longo da sua carreira tem recebido
inúmeros prêmios nomeadamente o Prêmio de Literatura Infantil da Fundação
Calouste Gulbenkian, em 1981. Em colaboração com Ernesto de Melo e Castro,
organizou, em 1979, uma Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa.
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