Jesus caminha a custo. O espancamento
exauriu-lhe as forças. Seu corpo está marcado por profundos sulcos roxos.
Doem-lhe as articulações. A coroa de espinhos, que não lhe tiraram da cabeça,
fere-o continuamente e o sangue lhe escorre vivo pelo rosto. Caminha curvado,
arrastando o pesado madeiro, cambaleando, com a respiração opressa e o pulso
acelerado e, após cento e poucos passos, titubeia, perde o equilíbrio e tomba,
esmagado pelo fardo.
Jesus vem vindo, arrastando
penosamente a cruz, e arrastando, mais pesada ainda, a procissão que se
estende, que se desdobra atrás dele carregada de cólera. Está desfigurado. O
sangue vivo cobre-lhe o semblante; mistura-se com a poeira do caminho e
emplasta-se sobre os coágulos enegrecidos que mancham a barba. Cambaleia,
hesita, dobra os joelhos, soergue-se em arrancos, num vagar minucioso de
movimentos, marcado pela cadência da respiração que se entrecorta num ranger
rouco de espasmos.
Ao chegar em frente à mulher, detém-se e fita-a. As mães conhecem esse olhar, quando seus filhos vão morrer. Conhecem-no, também, de certa forma, aqueles que foram, alguma vez, objetos de afeição máxima dos agonizantes.
A palavra humana não sabe reproduzir a tonalidade desse afeto dos moribundos. É um olhar que beija, que se despede, que pede desculpa pela dor que causa, que rememora toda uma existência e desperta em turbilhão todos os pormenores vividos e todos os sentimentos experimentados.
A mulher só tem duas palavras:
‒ Meu filho!
Essas palavras saem num grito e resumem a sensibilidade universal.
Jesus responde, a voz rouca, entrecortada de cansaços extremos:
‒ Minha... mãe.
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