Por Neil Gaiman
→ Anote suas ideias. Se elas vão
ser histórias, tente contar as histórias que você gostaria de ler. Termine as coisas
que você começar a escrever. Faça isso muitas vezes e você será um escritor. A
única maneira de fazer isso é fazendo.
→ Imagine, estou brincando.
Existem maneiras muito mais fáceis de escrever. Por exemplo: no topo de uma
montanha distante cresce uma árvore de folhas prateadas. Uma vez por ano, no
amanhecer do dia trinta de abril, essa árvore dá cinco flores que, durante a
próxima hora, dão uma frutinha cada, que primeiro é verde, depois preta, depois
dourada.
→ No instante em que as cinco
frutas se tornarem douradas, cinco corvos brancos que estavam esperando na
montanha camuflados na neve vão mergulhar na árvore, arrancando gananciosamente
todas as suas frutinhas, e vão voar para longe, às gargalhadas.
→ Com suas próprias mãos, você
precisa capturar o menor destes corvos e forçá-lo a entregar a fruta (os corvos
não as engolem. Eles as carregam, cruzando todo o oceano, até o jardim de um
mago para depositá-las, uma a uma, na boca de sua filha, que só despertará de
seu feitiço quando tiver ingerido mil dessas frutinhas). Quando você tiver
obtido a fruta dourada, precisará deixá-la debaixo da língua e voltar direto
para a sua casa.
→ Durante a próxima semana, você
não poderá falar com ninguém, nem mesmo com seus entes queridos ou um policial
que te parar por excesso de velocidade. Não diga nada. Não durma. Deixe a fruta
quieta debaixo de sua língua.
→ À meia-noite do sétimo dia, vá ao
lugar mais alto de sua cidade (é normal precisar escalar telhados nesta etapa)
e, com a frutinha presa debaixo da língua, recite todos os versos do Ninho de
Mafagafos. Não deixe a fruta escapar da língua. Não erre nenhuma palavra
sequer, nem gagueje no Um ninho de mafagafa com sete mafagafinhos, quem
desmafagaguifar bom desmafagaguifador será.
→ Então, e só então, você poderá
engolir a fruta. Retorne à sua casa o mais rápido possível, pois você só terá
no máximo meia hora antes de cair em um sono pesado.
→ Ao acordar pela manhã, você
estará apto a organizar pensamentos e ideias no papel, e aí será um escritor.
Tradução de Guilherme
Tauil
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