terça-feira, 21 de março de 2017

As Amargas, não...

(Parte II)

Álvaro Moreyra

01. Esqueci o berço, não esqueci o colo.

02. Passado, presente e futuro... Mais ou menos a mesma coisa. O tempo é uma invenção dos homens nervosos.

03. Eu também criei um mundo. E vi, também, que era bom.

04. Para fazer um céu basta uma estrela...

05. A eternidade é a vida de cada um. Na vida de cada um, quantas eternidades!

06. Uma coisa de Montaigne dá sempre prazer de repetir: “É uma perfeição absoluta, quase divina, saber gozar lealmente do seu ser”. Lealmente...

07. Uma criação inconveniente é a de fantasmas. Eles, depois, perseguem os criadores.

08. Por que será que a gente sempre fala na felicidade quando a noite vem caindo?...

09. Vida... Não, não há uma. Há tantas vidas! Romances. Comédias. No fim, somos a biblioteca de nós mesmos, o nosso repertório.

10. Como a imaginação desculpa a vida!

11. Escurece. O dia morre pensando no amanhã...

12. Nunca fiz um julgamento. Absolvi logo...

13. A maior prova de educação que uma pessoa pode dar é ouvir uma anedota conhecidíssima e dizer depois, às gargalhadas: ‒ Muito boa!

14. Provérbio chinês: ‒ Se não puderes evitar que o aborrecimento entre em tua casa, não lhe ofereças cadeira.

15. A ilusão, além do mais, nos torna melhores do que os outros homens.

16. Um assunto que interessa é o que faz o café esfriar.

17. Com alguns senhores a falta de assunto faz falar. Com outros, o assunto faz calar.

18. Nunca é tarde para ir mais longe...

19. A vida, afinal, só tem um lado. Mas esse lado é o outro...

20. Então como vai? – ótimo cultivando o meu diabetezinho ... – E havia doçura de verdade nas suas palavras.

21. Há os que se esquecem de lembrar, há os que se lembram de esquecer.

22. A alma não faz anos...

23. “Há tempo de rir, e há tempo de chorar.”, segundo Salomão. Há também, tempo de chorar de tanto rir...

24. Vivo de imprevisto, apesar de viver sem eloquência.

25. A beleza me dá sensações dolorosas. Entretanto. É o meu anestésico mais forte a beleza...

26. Desejamos tanto... e tudo está em nós...

27. Cruz e Souza agonizava. Nestor Vitor entrou pelo quarto, esbaforido, com um jornal na mão:
– Cruz, vê! – os que mais te atacavam enfim te fazem justiça! Eles não são maus!
E o poeta negro, morrendo:
– Eles não são maus... são burros...

28. Como é difícil ser o que se é!...

29. Exclamas: – Não quero mais nada neste mundo! – É o que estás fazendo...

30. Vejo que os cegos andam sempre sorrindo. Desconfio que os surdos são mais felizes...

31. 1939 – Preso há onze dias com outros “elementos perigosos ao regime”. Hoje entrou um espelho, aqui. Foi uma alegria: o cubículo se encheu de caras conhecidas...

32. Nunca um desejo me afligiu. A imaginação me deu tudo.

33. “Inocência” é a palavra mais bonita da nossa língua. “Você”, a mais gostosa. “Umbigo”, a mais engraçada.

34. Não nasci para chefe. Chefe manda. Eu peço. Peço que não me mandem.

35. Ouço os passos de todos os caminhos por onde andei...

36. Só os pobres sabem desejar...

37. Mais triste do que ter saudade é não ter do que ter saudade.

38. Esquecer não sendo possível, resta o consolo de lembrar.

39. Felicidade é conversa de noite chegando. Quando se acendem as primeiras lâmpadas, os jardins, as ruas, as mesas dos bares, os bancos das praias, estão assim de felicidade! Como se ela fosse uma coisa tida, pedida, recortada. Será essa a condição humana? Por que não falar na felicidade de manhã cedo, na hora em que se diz: – Bom Dia? – Bom dia, eis um começo ótimo de conversa.

40. Ora, o que é preciso é saltar da cama cantando, de boca alegre. E não ser contaminado depois. Há tristezas que andam por aí em plena atividade! E que aborrecimentos comunicativos!


Alvaro Moreyra nasceu em Porto Alegre, aos 23 de novembro de 1888. Radicou-se no Rio de Janeiro, onde faleceu em 12 de setembro de 1964. Quarto ocupante da Cadeira n° 21 da Academia Brasileira de Letras, provavelmente deveria considerar 13 de agosto um dia de sorte, pois foi nessa data que, em 1959, foi eleito para a ABL, na vaga do poeta Olegário Mariano. Tomou posse, daí a meses, na comemoração de seu aniversário: em 23 de novembro simultaneamente completou 71 anos e acedeu à imortalidade acadêmica.



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