O teu modo de viver,
criticá-lo a mim não cabe: não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe...
Você ‒ terceira pessoa?
Parece até brincadeira! Para mim ‒ ora, essa é boa ‒ você ‒ é sempre a primeira.
Eu, que já fui coroinha,
em alto e bom som proclamo: não troco qualquer raínha pela "coroa" que eu amo...
Se o amor é um sacrifício,
não duvides nem um pouco: iria até para o hospício, para amar-te como um louco.
Os teus cílios, tua cor,
tuas unhas, teus feitiços, e até mesmo o teu amor são todos eles postiços...
Joias desaparecidas
não se encontram nunca mais, mas as mulheres perdidas a gente encontra demais...
Se amor se paga com amor,
como diz ditado antigo, meu benzinho, por favor, acerte as contas comigo!
Dançou um baião-de-dois
num forró a Dona Inês, e nove meses depois o baião era de três...
E o alfaiate explicou,
com palavras ressentidas: ‒ Já que o senhor não pagou, tomarei outras medidas.
Um pau d'água renitente
diz, sobre o álcool: ora essa, se ele mata lentamente, não faz mal... Não tenho pressa.
Que a mulher tem duas caras,
isto não é mais segredo: a primeira mostra às claras, e a outra... de manhã cedo.
Peça por peça, uma artista,
na comédia, estuda à beça, entretanto, na revista, retira peça por peça...
No meio da rapaziada,
de cabeleira polpuda, até a própria piada é piada cabeluda...
Não há, no mundo, presente,
nenhuma coisa mais bela que o que Deus, onipotente, fez de uma simples costela...
‒ Estou esperando alguém!
Minha mulher me falou. Pensei que fosse um neném, mas era a sogra. Michou!
Quando conto uma piada,
não há riso que resista, porque a sogra, coitada, é sempre a protagonista.
Um garoto esfomeado,
tirando um caqui da cesta, exclamou compenetrado: ‒ Tomate metido a besta!
A piada é uma desgraça,
quando a graça não contém; a gente até acha graça, da graça que ela não tem. |
A cara da dona Rosa
tem tanto pé-de-galinha, que ela anda receosa do galo lá da vizinha...
Sobre a cova abandonada
do corneteiro Clemêncio, há uma corneta calada, que tanto tocou silêncio.
Para uma moça bonita,
perguntou certo paquera: ‒ É senhora ou senhorita? ‒ Senhorita, eu? Já era!
Se alguém me chamar de “pão”,
apesar de pitoresco, fico fulo e com razão: pão só é bom quando é fresco.
Há sempre um televizinho
no lar da viúva Aimée; mas já corre um burburinho de que ela não tem TV...
Diz o freguês, distraído,
ao garçom - que é de veneta: ‒ Não deixei nada esquecido? ‒ Não, senhor! Nem a gorjeta!
Fui contar à cozinheira
uma piada imoral e ela me disse, fagueira, que ainda faltava sal...
Um hospital de poesia
deveria ser montado, assim para lá iria o verso de pé quebrado...
‒ Vamos ao circo? ‒ disseste,
mas o encontro não se deu, pois o bolo tu me deste, e o palhaço banquei eu...
Quando passas no mercado,
um fruteiro que tem gosto, olha todo embasbacado para as maçãs do teu rosto.
Minha boca é a fechadura,
e o teu beijo a chave certa; só teu beijo, criatura, me deixa de boca aberta.
Seja de noite ou de dia,
quando por mim você passa logo eu digo: ‒ Ave Maria! Que moça cheia de graça!
Mexem contigo na rua,
piadas, ditos e graças, mas a culpa é toda tua, “mexes” demais quando passas.
Uma promessa ‒ que é fogo!
eu fiz à Virgem Maria: que, se eu ganhasse no jogo, nunca mais eu jogaria...
Amor é como pipoca,
sossegado no começo, mas se o fogo se lhe toca, vira a gente pelo avesso.
Acredite quem quiser,
se o meu casório malogra, eu abandono a mulher e caso com minha sogra...
A noiva fez tal dieta
para casar-se, afinal, que a sua turma, indiscreta, jogou-lhe arroz integral! |
Do Blog “Falando de
Trovas”
O maior portal de
trovas do Brasil, desde 2005
Jorge Murad nasceu no Rio de
Janeiro/RJ (antiga Guanabara) a 13 de abril de 1910, filho de libaneses: Murad
Sallum Lasmar e Maria Antun Lasmar. Foi ator, radialista, compositor,
humorista, trocadilhista, foi um homem de rádio, televisão e teatro com pleno
destaque, além de excelente trovador.
Como se não bastara, foi também
jogador de futebol, dos bons, tendo jogado com o célebre Leônidas da Silva, o
"Diamante Negro". Como compositor teve inúmeras melodias
carnavalescas de sucesso. No rádio manteve durante 28 anos o programa
"Pensão do Salomão".
No cinema, trabalhou em filmes
como "Alô, alô, Brasil" e "Estudantes", ao lado de famosos
comediantes. Trabalhou em mais dez deles. Livros, deixou cinco:
"Arak-said!", "Salomão a Varejo", "Anedotas de
Papagaio', "Humuradas" e "Anedotas da Guerra'.
Faleceu em 25 de abril de 1998.
Era irmão de Anís Murad, Magnífico Trovador. Como se nota, uma família com a
arte no sangue.
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