domingo, 26 de fevereiro de 2017

O casario que concorreu ao Oscar



O município de Antônio Prado, na encosta superior da serra gaúcha, tem sorte com o número nove. Em 1899, a colônia – na época, Quinto Distrito de Vacaria – foi elevada à categoria de vila e conquistou autonomia. Nesse mesmo ano, foi eleito o primeiro intendente municipal. Em 1929, Getúlio Vargas esteve na cidade, que demonstrou apoio ao futuro presidente do Brasil. A Revolução de 1930 se tornou um marco no desenvolvimento do município. Foram criadas as condições para, em 1946, se instalar o Moinho do Nordeste, a principal indústria moageira da região.

Uma das grandes preocupações dos diversos governos municipais foi relacionada com o transporte. A dificuldade de acesso ao município, cercado por rios e arroios, isolou Antônio Prado por muitos anos. Isso retraiu o comércio e favoreceu o êxodo da cidade. Mas as casas residenciais e comerciais construídas no início do século, com arquitetura típica italiana, permaneceram preservadas.

Em 1989, o município foi redescoberto. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou o maior acervo de arquitetura urbana em madeira da imigração italiana no Brasil. São 48 edificações de madeira e alvenaria que hoje formam o centro histórico de Antônio Prado. Esse conjunto de casas, com muitas janelas, porões e sótãos, se impõe há um século na Avenida Valdomiro Bocchese e na Avenida dos Imigrantes, principalmente. É um emocionante testemunho da formação da antiga colônia, fundada em 1886. O nome foi dado em homenagem a Antônio da Silva Prado, ministro da Agricultura que favoreceu a instalação de núcleos coloniais no Rio Grande do Sul.

Em 1999, outro ano com final nove. Antônio Prado está em festa. Todos os habitantes comemoram o centenário do município. Com exposições, concursos e provas esportivas, além da música e da comida típica, os pradenses mantêm intacta a herança deixada pelos primeiros imigrantes. O casario bem conservado foi cenário para O Quatrilho, reproduzindo Caxias do Sul em 1910. Quem aplaudiu o filme viu as casas do centro histórico e muitos habitantes como figurantes na produção que concorreu ao Oscar.*

O escritor José Clemente Pozenato, autor do romance que deu origem ao filme, é apaixonado pela cidade de Antônio Prado:

“Essa cidade teve a fortuna de preservar uma imagem que não existe mais em nenhum outro lugar. Com isso quero dizer que Antônio Prado não representou apenas Caxias do Sul: representou todas as cidades construídas com o sangue e o suor dos imigrantes e dos seus filhos por todas as montanhas desta região. É um papel que só pode ser invejado”.

Carlos Urbim,

no livro "Rio Grande do Sul - Um Século de História"

Fotos de Antônio Prado


Uma avenida de Antônio Prado 
transformada para ser a Caxias do Sul de 1910


Casario tombado em foto de Renê Hass


Antônio Prado atual, mantendo seu casario colonial

*O Quatrilho, filme de Bruno Barreto, foi filmado em 1995 e concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 1996, perdendo para a produção holandesa “Antonia”.



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