Especialistas consagraram nomes
esperados e incluíram algumas surpresas entre os 30 selecionados. Mas a palavra
final será do leitor.
Paulo César Teixeira
e Liza Souza
(Revista IstoÉ, de 1999)
E o prêmio vai para…
Guimarães Rosa → Médico e diplomata, João Guimarães Rosa
(1908-1967) fez da saga do homem rústico do interior de Minas (o escritor
nasceu em Cordisburgo) uma obra-prima da literatura universal. Em Grande
sertão: veredas, de 1956, revela minucioso conhecimento de plantas, bichos e
até da cartografia da paisagem sertaneja. O idioma peculiar dos personagens é
recriado até virar uma prosa quase experimental, próxima à poesia. 28 votos.
Mário de Andrade → Um dos principais nomes do Modernismo, o
paulistano Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945) adotou a narrativa
fragmentada e abrasileirou a prosa com expressões de cunho popular. Foi
contista e poeta, além de pesquisador de música e folclore. Escreveu Macunaíma (1928),
romance em que utiliza um mito indígena para sintetizar a essência do caráter
do homem brasileiro. 28 votos.
Clarice Lispector → Instrospectiva, de estilo marcadamente pessoal,
assim era Clarice Lispector (1925-1977), que tinha só dois meses de vida quando
veio da Ucrânia para o Brasil. Em sua obra, o esmagamento fortuito de uma
barata pode conduzir a uma reflexão angustiada sobre a existência de Deus,
assim como o enterro de um cão força o dono a meditar a respeito do sentimento
de culpa. 27 votos.
Carlos Drummond de Andrade → Um dos maiores poetas brasileiros de
todos os tempos, mineiro de Itabira (1902-1987), viveu a infância numa fazenda
e formou-se em
Farmácia. Em Belo Horizonte, fundou A revista, em 1925,
apoiando o Modernismo. Em 1933, mudou-se para o Rio, onde virou funcionário
público do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em A rosa do povo (1945),
engajou-se ao lado dos que lutam por um mundo justo e belo. Em Claro enigma (1951),
flagrou o vazio da vida, sem abandonar o humor. 26 votos.
João Cabral de Melo Neto → Nascido no Recife (PE), 1920-1999, é o
poeta do verso "nítido e preciso", como ele próprio define. Contrário
à ideia de inspiração, não tolera o sentimentalismo. Faz poesia de crítica
social, com destaque para Morte e vida severina, que virou peça de teatro
musicada por Chico Buarque nos anos 60. 25 votos.
Graciliano Ramos → Autor de Vidas secas e São Bernardo, alagoano de
Quebrângulo (1892-1953), foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL), em 1927.
Lançou-se escritor, aos 40 anos, em Caetés. Em 1936, acusado de comunista pelo
governo de Getúlio Vargas, foi preso em Maceió. A experiência foi relatada em Memórias do
cárcere (1953). 24 votos.
Érico Veríssimo → Durante décadas, era um dos raros escritores
brasileiros que conseguia viver do ofício. Gaúcho de Cruz Alta (1905-1975),
influenciado por Adous Huxley e Somerset Maugham, na primeira fase de sua obra
adotou técnicas do romance moderno (como a narrativa de diversas histórias
paralelas). A obra-prima, no entanto, é O tempo e o vento, romance épico sobre
a colonização do Rio Grande do Sul. 24 votos.
Manuel Bandeira → Um dos principais poetas do Modernismo, nascido
no Recife (1886-1968), peregrinou por casas de saúde para tratar de graves
problemas pulmonares, que se transformaram em poemas como Pneumotórax. Vou-me
embora para Pasárgada é um de seus poemas mais conhecidos. 24 votos.
Jorge Amado → Lirismo, sensualidade e crítica social marcam a obra
desse baiano de Itabuna, nascido em 1912-2001, um dos mais populares escritores
brasileiros. Dona flor e seus dois maridos e Gabriela se transformaram em
sucesso no cinema e na televisão. 23 votos.
Cecília Meireles → Carioca (1901-1964), sua obra reflete atmosfera
de sonho e fantasia. Embora tenha sido influenciada no início pelo simbolismo,
é apontada como a poetisa moderna, de estilo pessoal e inovador. 21 votos.
Nelson Rodrigues → (1912-1980) Pernambucano que escandalizou as
platéias do País com peças trágicas, protagonizadas por personagens
incestuosos, é também um escritor talentoso. Entre os romances (na verdade,
folhetins publicados em jornal e mais tarde editados em livros), destaque para
Meu destino é pecar (1944), A mulher que amou demais (1949) e Asfalto selvagem
(1960). 20 votos.
Lygia Fagundes Telles → Paulistana de 1923, começou como contista
aos 15 anos, gênero em que se destacaria depois com Histórias do desencontro(1958)
e O jardim selvagem (1965). Escreveu também romances como Ciranda de pedra
(1955) e As meninas (1973). 18 votos.
Oswald de Andrade → Poeta, romancista e ensaísta que encarnou o
espírito rebelde do Modernismo (1890-1954), era antes de tudo um agitador
cultural. Inventou a Antropofagia – em vez de imitar, o melhor é devorar
criticamente a cultura das metrópoles. 18 votos.
Monteiro Lobato → Paulista de Taubaté (1882-1948), escreveu livros
infantis muito populares, como O sítio do picapau-amarelo, gênero que ele
considerava "vasto e nunca tentado" e que consolidou no Brasil. Seu
nome está ligado também ao personagem Jeca Tatu (arquétipo do homem puro do
interior, marginalizado e empobrecido) e a campanhas como a de busca de petróleo
em território nacional. 17 votos.
Vinícius de Moraes → Mais popular como letrista de canções da bossa
nova, esse advogado e diplomata carioca (1913-1980) destacou-se antes como
poeta. Até 1938, com Novos poemas, fazia poesia mística, e a partir de 1943,
com Cinco elegias, os versos chegaram mais perto do mundo material.16 votos.
Euclides da Cunha → (1866-1909) Como repórter, acompanhou a fase
derradeira da revolta de Canudos, em 1897. Suas reportagens foram reunidas em
livro, após sua morte, em Os sertões (publicado em 1902), obra fundamental de
denúncia das reais condições de vida no Nordeste. 16 votos.
José Lins do Rego → As lembranças de infância constituem a
matéria-prima da ficção do paraibano José Lins do Rego (1901-1957), que fez uma
série de romances sobre o ciclo da decadência da cana-de-açúcar, na Zona da
Mata nordestina. O principal título é Menino de engenho (1932). 16 votos.
Lima Barreto → Carioca (1881-1922), o pai era zelador de um
manicômio. Ele próprio foi internado, dependente da bebida. Não foi reconhecido
em vida, mas é admirado hoje como escritor de dramas humildes, ao qual não
faltou sarcasmo para retratar os meios políticos de sua época. 15 votos.
Machado de Assis → Para muitos, o maior escritor brasileiro de
todos os tempos. Nascido no morro Jumento, no Rio (1939-1908), filho de um
mulato e de uma lavadeira portuguesa, foi o primeiro presidente e um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Escreveu Memórias
póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1900).
14 votos.
Rachel de Queiroz → Sua obra revela a miséria do nordestino.
Cearense de 1910-2003, descendente de José de Alencar (uma das avós era prima
do escritor), é a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras
(1977). 14 votos.
Rubem Fonseca → Diz a lenda que todo autêntico carioca nasceu em
Minas. É o caso de Fonseca, de Juiz de Fora, em 1925. De estilo áspero e
contundente, escreveu Feliz ano novo (1975). 12 votos.
Mário Quintana → Poeta gaúcho (1906-1994), de humor sutil e fina sensibilidade,
morou a vida toda em hotéis de Porto Alegre, cenário e inspiração de sua obra. 10
votos.
Dionélio Machado → Esse gaúcho de Quaraí (1895-1985), escritor e
psiquiatra, em Os ratos (1935) descreve em minúcias a angústia de um modesto
funcionário público preocupado por não ter como pagar o leiteiro na manhã
seguinte. 10 votos.
Murilo Mendes → Mineiro de Juiz de Fora (1901-1975), integrado ao
movimento Modernista, compôs desde sátiras e poemas-piadas até versos de
inspiração religiosa. 10 votos.
Antônio Calado → Natural de Niterói (RJ) (1917-1997), foi
jornalista, teatrólogo e ficcionista. Sua obra mais conhecida é Quarup (1967),
romance sobre as mazelas políticas do País cujo desfecho se dá numa das mais
importantes festas de nossos índios. 9 votos.
Ferreira Gullar → Poeta maranhense de 1930-2016, fez parte do
movimento Concretista. Afastou-se depois para assumir uma postura de
engajamento político. 9 votos.
Ariano Suassuna → Dramaturgo, poeta e romancista, nascido em 1927 em João Pessoa (PB), sua
obra é marcada pela fé no catolicismo. Trouxe à tona as raízes árabes da
cultura popular do Nordeste. Faleceu em 2014. 8 votos.
Gilberto Freyre → 1900-1987. Sociólogo e escritor, é autor de Casa-Grande
& senzala, principal obra sobre as raízes étnicas do País. 8 votos.
Darci Ribeiro → 1922-1997, Antropólogo, educador e escritor, é um
dos políticos mais importantes do final do século. Projetou a Universidade de
Brasília e escreveu O povo brasileiro. 8 votos.
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