Enquanto faço o verso, tu decerto
vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu
trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres
teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu
tempo.
Contempla o teu viver que corre,
escuta
O teu ouro de dentro. É outro o
amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não
me lês
Sorris, se do meu verso ardente
alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento,
desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser
perdido com os poetas.”
Irmão do meu momento: quando eu
morrer
Uma coisa infinita também morre.
É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro
não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço,
de tão vasto
Não cabe no meu canto.
(Júbilo Memória
Noviciado da Paixão (1974)
Poemas aos Homens do nosso Tempo - XVI)
Poemas aos Homens do nosso Tempo - XVI)
(Poesia: 1959 -
1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)
*Hilda Hilst (Jaú, 21 de
abril de 1930 ‒ Campinas, 4 de fevereiro de 2004)
foi uma poetisa, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. É considerada
pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa
do século XX.
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