terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Um linda crônica de verão

Qual é a sua praia?

Martha Medeiros

Ilustração de Fraga

Quando penso nos melhores momentos da minha infância, a memória me transporta para Torres. Foi lá que, menina, peguei muito jacaré com uma planonda de isopor, fiz castelos de areia, pesquei peixinhos que eram colocados em baldes, participei de piqueniques, deslizei pelas dunas, joguei frescobol. Dia de chuva era um desassossego, não havia gibi que fizesse o tempo passar, mas não chovia tanto naquela época: quase sempre o sol dava as caras desde o início de dezembro até o final de fevereiro, um esbanjamento de dias bons. Eu voltava das férias parecendo um pedaço de carvão, só apareciam o branco do olho e os dentes.

Hoje não pesco peixinhos nem deixo a pele desprotegida, mas é ainda na praia que sou mais eu. A proximidade com o mar me põe no meu devido lugar: não importa o que eu diga, faça, escreva – sou um grão de areia. É o que somos todos, o tempo inteiro, onde quer que estejamos: grãos de areia. Meu ego não se abala, inclusive concorda.

Falando em areia: há quem acredite que a praia ficaria mais perfeita sem ela. Misericórdia àqueles que não lembram como é relaxante sentar numa cadeirinha embaixo do guarda-sol e fazer curtos caminhos com o calcanhar, para frente e para trás, tendo uma caipirinha gelada em mãos.

Pode-se ter em mãos um livro também. Pois é, me sinto obrigada a incentivar a leitura, mas sendo perigosamente sincera: praia não é lugar para ler, a não ser que você esteja sozinha numa enseada esquecida por Deus. Aí, até recomenda-se, para dispersar os maus pensamentos. Mas em dia ensolarado e com gente em volta, não consigo prestar atenção numa única linha. Leio, leio, leio à beira-mar, e quando volto para casa releio, releio e releio as mesmas páginas.

Praia é ponto de encontro sem hora fixa pra chegar, sem convite impresso, sem répondez s’il-vou-plait. Balada aberta ao público, sem paredes, sem holofotes, o sorriso valendo como ingresso. Boca livre.

Praia é pra quem está de bem com a vida, embaixada internacional da liberdade, pátria do chinelo de dedo, passarela do biquíni, congresso mundial da tatuagem. O Brasil tem 8.000km de orla pra ninguém morrer de tédio e muito menos de rabugice.

Inferno emocional? Até isso praia minimiza. Quem já não deu uma choradinha em frente ao mar, num final de tarde, processando uma ardente dor-de-cotovelo? Você, eu, todo mundo, diante de ondas que avisavam: nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Para o bem e para o mal, um mantra.

As minhas, além de Torres: Bombinhas, Quatro Ilhas, Praia do Rosa e Ipanema. Me viram crescer, por dentro e por fora. Não há quem não tenha ao menos uma como cenário da própria história.

(Da Revista Donna de Zero Hora, janeiro de 2017)

*********

Torres, praia do Rio Grande do Sul;
Bombinhas, Quatro Ilhas, Praia do Rosa, praias de Santa Catarina;
Ipanema, praia do Rio de Janeiro.


Martha Medeiros é uma jornalista, escritora, aforista e poetisa brasileira.
Nascimento: 20 de agosto de 1961, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

A escritora gaúcha despontou como cronista, com um olhar atento sobre temas como cultura e comportamento. Com 23 livros publicados, entre ficção, poesia e coletâneas de crônicas, já soma mais de 1 milhão de exemplares vendidos e tem obras adaptadas para cinema e teatro. Entre seus títulos, estão: Divã, Doidas e Santas, Feliz por Nada, Liberdade Crônica e Simples Assim. Além das colunas no Donna e no primeiro caderno de Zero Hora, Martha escreve para o jornal O Globo.


Conselho às mulheres



Seis passos para gastar menos

1 → Conte com a internet para pesquisar promoções em diferentes redes e buscar cupons de descontos em sites de compras coletivas: há boas ofertas em estéticas e até spas.

2 → Mesmo que vá comprar em lojas físicas, pesquise antes na internet os valores aproximados dos produtos que deseja, para ter um padrão de preço e evitar gastar mais que o necessário.

3 → Antes de sair para comprar, anote no smartphone ou em um papel o que pretende comprar, e quanto gastará em cada item. Desta forma, reduzirá o risco do consumo por impulso.

4 → Seja contida nos mimos: embora seja tentador presentear anfitriões em cada jantar e mesmo aniversários em um bar, eles saem caro e nem sempre são necessários.

5 → Gastos com baladas saem caro: faça um orçamento no início do mês com quanto poderá gastar em lazer. E, a cada saída, calcule um gasto máximo, proporcional ao seu planejamento.

6 → Não abra mão da boa e velha planilha: anotar todos os gastos, separando por grupo de consumo (alimentação, saúde, contar fixas etc.), facilita a visualização do que está drenando o dinheiro.

Quatro mitos

1. As mulheres compram por impulso → Mentira! Homens compram tanto por impulso quanto as mulheres, assegura a consultora Camila Bavaresco. Eles gastam mais do que deveriam em eletrônicos e gastam tanto quanto elas com lazer. Uma pesquisa da associação Brasileira de Shopings Centers mostra que os homens gastam 24% a mais do que as mulheres nos centros de comprar.

2. Mulheres não sabem investir → Claro que sabem. Por um lado, o hábito de investir é menos familiar às mulheres, no entanto, quando resolvem buscar aplicações elas se informam mais do que os homens, e tendem a tomar melhores decisões, diz Cássia D´Aquino, especialista em educação financeira.

3. Mulheres tomam mais dinheiro emprestado → Outra inverdade: as mulheres procuram menos os bancos do que os homens para pedir dinheiro emprestado. Conforme o Serasa Consumidor, 9,7% delas busca crédito nas agências, ante 11,3% deles. Por outro lado, elas buscam mais crédito consignado (com juros bem mais baixos).

4. Mulheres precisam que os homens as ajudem a controlar o dinheiro → As mulheres têm as mesmas condições dos homens de controlar seu orçamento e definir os gastos da casa, mas muitas vezes abdicam desta tarefa porque a consideram masculina, avalia Denise Damiani. Aquelas que rompem essa cultura costumam se descobrir ótimas administradoras e profissionais de sucesso.


(Em Finanças, caderno Donna, de Zero Hora,
de 28 e 29 de janeiro de 2017)




Segredo de Natal


Ivan Angelo*


Desde o Natal passado, a pequena Vivian guarda um segredo maior do que poderia acomodar, tanto que o dividiu em dois: esconde parte no coração e parte no cerebrozinho esperto. Não pensou nele o ano inteiro, nem poderia; na verdade esqueceu-o, mas no início de dezembro, ao perceber nas cores, nas luzes, nas músicas, na televisão, na escolinha, nos shoppings e no rebuliço geral os sinais de um novo Natal, o segredo voltou a deixá-la intensa, porque possuidora de um conhecimento que as outras crianças não tinham.

Na escolinha, coleguinhas diziam bem alto:       
                           
– Papai Noel não existe!

Como se soubessem do que estavam falando! Ouvi-los era a confirmação íntima de que só ela sabia o segredo. Se vinham dizer-lhe pessoalmente que Papai Noel não existia, iluminava-se poderosa, única, não conseguia esconder um quase sorriso de superioridade, e rebatia com firmeza:

– Claro que existe! Eu conheço ele.

Tanta segurança numa criança de nem 4 anos abala certezas. Os meninos, que confiam e desconfiam mais depressa do que as meninas, queriam saber detalhes, para decidir se tomavam nova posição nessa questão. Mesmo aquelas crianças cujas certezas vinham de pais que não estimulam mitos e encantos, mesmo essas ficaram acesas, atentas. Saber ou não saber é crucial na infância. Quem nada sabe subordina-se; quem sabe é general.

– Conhece ele? Como é que conhece, se ele não existe?

– Conheço e pronto – afirmou Vívian como se não pudesse dizer mais nada, como se tivesse chegado a um limite.

– Você viu ele? – perguntou umazinha, coadjuvante natural.

– Vi e vejo – confirmou Vívian, inabalável em sua segurança.

– Vê nada! Vê onde? Todos são de mentira – desafiou o mais atrevido, apresentando um dado concreto para desmentir a impostora.

– Sei muito bem que esses do shopping são de mentira. Não é desses que estou falando.

– De qual, então?

– Não posso contar – disse Vívian, e diante dos muxoxos de dúvida acrescentou com inquebrável ética: – Ele pediu para eu não contar. Disse que é o nosso segredo.

Entre crianças, estava explicado. Segredo é segredo.

Vívian vivera intensamente aquele segredo nos dias que se seguiram ao Natal passado. Sorria para o Papai Noel, que continuava em sua casa disfarçado de pai, sem que ninguém adivinhasse, e ele sorria de volta, confirmando, pensava ela, confirmando o compromisso. "É o nosso segredo", ele havia dito. Que poderia fazer senão calar-se maravilhada, se havia descoberto contra a vontade dele o seu mistério? Naquele mágico Natal passado, entre músicas e primos, quando recebeu das mãos do Papai Noel exatamente o presente que havia pedido e o abraçou, sentiu nele aquele cheiro bom de todas as noites, olhou primeiro intrigada, depois devassadora e inescapável, olhou o homem por trás dos óculos, da barba, do bigode, abriu os olhos de espanto e falou ainda presa ao abraço:

– Papai Noel, você é o meu...

– Psiu! Ninguém sabe! É segredo. É o nosso segredo!

Guardou com fervor o segredo. "Ninguém sabe" foram palavras mágicas. Então aquele era o Papai Noel de verdade! Ninguém sabe. Se alguém mais soubesse, se fosse uma coisa que todos soubessem, ele seria como os outros! E era em sua casa que ele vivia! Ninguém sabia, nem a mãe, nem o irmão, nem os primos, nem os amiguinhos da escola – só ela! O segredo inundou-a de uma responsabilidade enorme e de medo de se trair. Tinha de prestar muita atenção para não errar. Esteve tensa e cansada durante muitos dias, mas aos poucos esqueceu.

E então veio dezembro novamente, e trouxe de volta prenúncios de Natal e a responsabilidade insuportável. Não, não, não! Não queria viver aquilo de novo, decidiu. Pensou, secreta e maliciosa: naquele Natal, ia contar para todo mundo.


Do livro “Crônica Brasileira Contemporânea”, 
organização e seleção de Manuel da Costa Pinto


*Ivan Ângelo (Barbacena, 4 de fevereiro de 1936) é um jornalista, cronista e romancista brasileiro.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Livre



Decidi renunciar à civilização e seus descontentamentos. Deixo minhas posses para a financeira, minha conta bancária para o imposto de renda, meu seguro de vida e meu exemplo para a família e minhas dívidas para a prosperidade. Rasgarei, em ato público, minha carteira de identidade, minha carteira profissional, meu passaporte, meu atestado de vacinação, licença de motorista, meu título de eleitor, meu certificado de reservista e meu Cartão do Touring. Peço que minha carteira do INSS e meu cartão de CPF sejam queimados e as cinzas espalhadas ao vento. Que meu nome seja sumariamente riscado de todos os cadastros. Depois de dois milhões de anos, volto para o jângal, de onde nunca devia ter saído.

Empenhe-se meu relógio e leiloe-se minha coleção da “Play Boy”. Há um resto de Ballantine na cozinha, que deve ser dividido entre os amigos depois que eu me for. Meus vinhos para o Povo. Do guarda-roupas levo apenas o suficiente para chegar, com um mínimo de recato, até Manaus. Depois a nudez e a selva. Queime-se minhas três gravatas.

Meus livros? Queime-se todos. Não. Vou precisar de alguma coisa para ler no avião. Deixa um policial qualquer, não quero nem saber o título. Não, esse não. Levo, todos os meus livros, isso. Vou desaprender a ler assim que me instalar na minha clareira na Amazônia. Começarei com a “Crítica da Razão Pura” e irei desaprendendo, desaprendendo até a cartilha. Só serei livre quando Eva, a uva e vovó não significarem nada além de riscos pretos numa página branca, e aí queimarei a página. Com quê? É bom levar fósforo. Não sei se vou conseguir fazer fogo por fricção. Aliás, tem um livro aí que ensina a sobreviver na Selva. Esse é melhor guardar.

Vão pedir meus documentos para embarcar no avião. E se eu dissesse, simplesmente, “sou um ser humano sem nome e sem número, meu único documento é esta cara honesta?” Me prendiam, claro. Levo a carteira de identidade. A última concessão. Depois, a liberdade.

Já sei! Vou de carro. Sem parar. Desbravarei matas e pradarias com o meu temível Passat. O meu adeus à engenharia alemã. Irei largando peças e acessórios pelo caminho. Me despindo, simbolicamente, de camadas de civilização. Chegarei à selva montado num esqueleto de máquina, que enferrujará lentamente na umidade, enquanto eu reaprendo a andar sobre os dois pés nus. O homem, que sobreviveu ao dinossauro, certamente sobreviverá ao Volkswagem.

Agora me dei conta de que vai ter espinhos no chão e coisa pior. Melhor levar um estoque de sandálias para os primeiros anos. E, quem sabe, um bom impermeável. Outra coisa: vou precisar de dinheiro para comida, gasolina e pneus no caminho. E minha licença de motorista. E, por via das dúvidas, carteira do Touring.

Então, vamos ver. Livros, fósforos, licença, Touring, sandálias, dinheiro... e só. Nada mais. Queime-se o resto. Vivi milhares de anos sem máquinas e roupas feitas, posso fazer o mesmo outra vez. Me bastam os dentes, o dedão opositor e a imaginação. Vou precisar do relógio, claro. E de uma bússola pra me orientar na selva até aprender a ler a direção nas estrelas e cheirar o vento. Depois, de culturas só me bastará o olfato.

Uma machadinha, um facão, e uma lanterna e um estoque de pilhas até que eu aprenda a enxergar no escuro. pregos e martelos para construir um abrigo. Um canivete suíço. E nada mais. Livre. Só comerei o que caçar e pescar com as próprias mãos. Beberei a água pura das vertentes. Cozinharei a carne e o peixe em espetos de pau-brasil. Vou precisar de sal. Umas latinhas de ervilha, um patezinho, e, muito importante: um abridor de latas. Puxa, e cerveja. E nada mais.

Um homem sozinho com sua fibra e seu poder criador. Só voltarei à civilização se precisar ir ao dentista. Outra coisa: rede de mosquito. E band-aid. Contarei os dias pela passagem do Sol e os meses pelas fases da lua. Aparelho de barbear, lâminas, loção. Me banharei na chuva. Sabonete, tesourinha para unhas. Aspirina. E pomada contra assadura.

Meu Deus, será que tem muita cobra?

Livre. Com uma televisãozinha portátil para não perder o futebol.

*****

Luís Fernando Veríssimo


Do livro “Crônica Brasileira Contemporânea”,
Organização e apresentação de Manuel da Costa Pinto.



domingo, 29 de janeiro de 2017

Grandes



Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida.

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que
com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.

Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!

Mais vale arrumar a mala.
Fim.

Álvaro de Campos

4-9-1930

Heterônimo de Fernando Pessoa

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Nelson Sargento e o idioma esquisito



O sambista mangueirense Nelson Sargento (no civil Nelson Mattos, com dois tês) é capaz de tiradas memoráveis, como nos versos que seguem:

“O nosso amor é bonito,
Ela finge que me ama,
E eu finjo que acredito.”

Ou ainda:

“Eu bebo demais por meu tamanho,
Arranjo brigas e sempre apanho.
Isso me faz infeliz.
Entro num boteco pra afogar a alma,
As garrafas, então, batem palma.
Me embriago, elas pedem bis.”

Mas todo esse talento, Nelson sempre lutou para conseguir gravar suas músicas. Um dia, ao procurar um produtor de gravadora, desses que mudam de gênero conforme a moda, ouviu uma sugestão que o deixou com a pulga atrás da orelha. O rapaz lhe disse que, para ser gravado, ele tinha que compor algo diferente. Não interessava a qualidade, tinha que ser diferente

Nelson foi para um botequim, pediu uma cerveja e ficou pensando em como fazer algo diferente. O tempo foi passando, a cerveja descendo, até que nasceu um samba realmente diferente, que foi batizado de Idioma esquisito.

Fui fazer meu samba
Na mesa de um botequim.
Depois de umas e outras,
O samba ficou assim:

Estrambonático, palipopético,
Cibalenítico, estapafúrdico,
Protopológico, antropofágico,
Presolopépipo, atroverático,
Batulitrético, pratofinâmbulo,
Calotolético, carambolâmbolo,
Posolométrico, pratofilônica,
Protopolágico, canecalônica.

É isso aí, é isso aí,
Ninguém entendeu nada,
Eu também não entendi.

Com o samba pronto, Nelson voltou à gravadora, cantou para o produtor e foi chamado de maluco. Mas, que era diferente, isso era.

Dizem que, no Japão, todo mundo achou normal.

(Do livro “Suíte Gargalhadas”, de Henrique Cazes)



Nelson Sargento (Rio de Janeiro, 25 de julho de 1924), nome artístico de Nelson Mattos, é compositor, cantor, pesquisador da música popular brasileira, artista plástico, ator e escritor brasileiro. Sua trajetória na música, na literatura e nas artes são suficientes para vários carnavais.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O melhor de Tom Jobim

Vinte álbuns de Antonio Carlos Jobim


(25 de janeiro de 1927 – 8 de dezembro de 1994)

O melhor de Tom Jobim

Dez grandes discos gravados por ele:

01 → The Composer of Desafinado, Plays 1963 – A estreia solo saiu pelo selo Verve, nos EUA, em um momento de alta da bossa nova por lá.


02 → Getz/Gilberto 1964 – Um “dream team” num disco impecável: Stan Getz no sax, João Gilberto no violão, Astrud Gilberto no vocal e Tom no piano.


03 → The Wonderful World Of Antonio Carlos Jobim 1964 – O prestígio nos EUA dá chance a Tom de gravar um disco com o lendário maestro Nelson Riddle.


04 → Wave 1967 – Este é o álbum que transformou Tom em sucesso popular nos Estados Unidos, chegando ao quinto lugar na parada de jazz.


05 → Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim 1967 – O encontro de duas lendas da música rendeu um dos discos mais cultuados do século 20.


06 → Tide 1970 – Com carta branca da gravadora americana, Tom entregou os arranjos a um conterrâneo talentoso, Eumir Deodato.


07 → Elis & Tom 1974 – Após dez anos na Philips, Elis ganhou da gravadora o presente: um disco com Tom. E daí veio a definitiva “Águas de Março”.


08 → Terra Brasilis 1980 – O álbum traz um disco de novidades no repertório e outro com várias reinterpretações de sua parceria de sua parceria com Vinicius.


09 → Passarim 1987 – O disco foi claramente uma tentativa de reaproximação com o público brasileiro, gravado com uma banda grande.


10 → Antonio Brasileiro 1994 – Foi lançado em 11 de dezembro de 1994, três dias depois de sua morte. O repertório tem um reconhecível traço de melancolia.


O melhor sobre Tom

Dez álbuns que prestam homenagens a sua obra


01 → Inútil Paisagem 1964 – Eumir Deodato tecladista fantástico, Deodato depois seria arranjador de um disco de Tom, “Tide”.

02 → Jobim 1970 – Victor Assis Brasil grande do jazz brasileiro, Assis Brasil (1945-1981) adaptou a música de Jobim ao saxofone.

03 → Ella Abraça Jobim 1981 – Ella Fitzgerald – Uma das gigantes do jazz, Ella (1917-19996) elegeu o repertório de Tom como seu favorito.

04 → Salena Sings Jobim With The Jobims 1994 – Salena Jones – A Americana gravou com Paulo, filho de Tom, e Daniel, neto.

05 → Gal Costa canta Tom Jobim 1999 – Gravado ao vivo, o disco tem 24 canções que praticamente mapeiam o essencial de Tom.

06 → Jobiniando 2001 – Ivan Lins – Entre versões respeitosas e inovações, Ivan Lins imprimiu toque pessoal ao repertório.

07 → Canção do Amor Demais 2003 – Olívia Byington – a voz aguda e educada de Olívia produziu um registro delicado das canções do compositor.

08 → Vanessa da Mata canta Tom Jobim 2013 – Vanessa da Mata – Registro em estúdio de projeto de shows que percorreu o país.

09 → Vinicius canta Antonio Carlos Jobim 2015 – Vinicius Cantuária – Ex-músico de Caetano, o cantor fez versões bem inventivas.

10 → Carminho canta Tom Jobim 2016 – Recém-lançado, traz a intérprete portuguesa de fado que colabora cada vez mais com brasileiros.

(Indicações discográficas de uma matéria de Thales de Menezes
 para da Folha de S. Paulo, de 22 de janeiro de 2017)


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Canastra



Canastra limpa (200 pontos)

O jogo de Canastra pode ser jogado com 2 ou 4 pessoas.

No jogo com duas pessoas você joga contra quem estiver sentado à sua frente.

No jogo com quatro pessoas são formadas duas duplas, seu parceiro senta-se à sua frente e os adversários, um à esquerda e outro à direita.

Jogadores → 2 ou 4 jogadores.

Cartas → 106 (Dois baralhos com o Curingão).

Definições

Jogos → são formados por 3 ou mais cartas do mesma naipe e na sequência (o Ás pode ser posicionado antes do 2 ou depois do K [Rei]).

 



Vale trinca → trinca é formado por 3 ou mais cartas de mesmo número, o curinga também pode ser utilizado.



Nas trincas, cartas de mesmo número, são válidos todos os naipes.

Curinga → a carta número 2, substitui qualquer outra carta de qualquer naipe. Cada jogo baixado na mesa aceita apenas um curinga. Se o 2 estiver ocupando a posição de carta 2, não será considerado curinga.


(O curiga 2 está colocado no lugar do 6)


(O curiga 2 está colocado no lugar do 10)

Vale o Curingão (Joker).


Monte → pilha de cartas que sobraram após serem distribuídas aos jogadores e ao morto.



Morto → são dois Mortos (duas pilhas de 11 cartas), cada time tem direito a apenas um e é concedido ao jogador que acabar com as cartas da sua mão.


Lixo → formado pelas cartas descartadas dos jogadores, todas as cartas do lixo são visíveis a todos os jogadores.


Canastra → jogo baixado na mesa formado por 7 cartas, existem dois tipos de canastra:

Limpa → jogo de 7 cartas ou mais sem utilizar o curinga.


(De Ás, que vale 1, até 8)

Suja → jogo de 7 cartas ou mais utilizando o curinga.


(O curiga 2 está colocado no lugar do Ás, que vale 14)

Uma canastra suja pode ser limpa caso o curinga utilizado for do mesmo naipe e a carta 2 não estiver posicionada.

Ações

Comprar    comprar uma carta do Monte ou todas as cartas do Lixo.

Lixo  carta descartada(s) pelo(s) outro(s) jogador(es). 

Baixar jogo → um jogo pode ser baixado na mesa permitindo que seu parceiro (se estiver numa partida de 4 jogadores) adicione cartas neste jogo.

Bater → Um jogador "Bate" quando acabaram as cartas de sua mão, existem 3 tipos de batida:

Direta → quando a última carta da mão é baixada na mesa ou inserida em um jogo, o jogador recebe o morto e pode continuar baixando jogos.

Indireta → quando a última carta da mão é descartada no lixo, o jogador só poderá utilizar as cartas do morto na próxima rodada.

Final → quando acabarem as cartas e o time já tiver pego o morto, esta batida encerra a partida.

Basta possuir uma canastra suja para poder bater.

Como jogar

O primeiro jogador deve comprar uma carta do monte (ou do Lixo).

Pode verificar se na sua mão existe algum jogo válido e se desejar pode baixá-lo na mesa.

Para terminar a rodada deve descartar uma carta, inserindo-a no Lixo.

A vez é passada para o jogador sentado à esquerda.

Contagem de pontos

Ao final da partida vence o time que fizer mais pontos, estes são contabilizados da seguinte maneira:

Batida Final → 100 pontos

Ás → 15 pontos

Curinga (dois) → 10 pontos

Curinga (joker) → 50 pontos

Do 3 ao 7 → 5 pontos

Do 8 ao K (Rei) → 10

Canastra suja → 100

Canastra limpa → 200

Canastra de Quinhentos → 500

Canastra Real → 1000


Acima, nas canastras limpas, na primeira sequência, à esquerda, vai de 4 até 10, totalizado 7 cartas sem o uso de curingas (2 ou joker); na segunda, à direita, há uma trinca de 7 sem uso de curingas (2 ou joker).

Nas canastras sujas, há o uso de curingas. Na primeira sequência, à esquerda, o curinga está colocado no lugar do 5; à direita, nas trinca de 7, foi colocado o curinga 2. Quem coloca o curinga, suja a canastra, que de 200 só vai valer 100 pontos.

Penalidades

Não pegar o morto: → 100 pontos.

Cartas da mão contam pontos negativos.

Regras Específicas

O jogo termina quando a última carta for comprada e não houver mais morto. Não importa quantas tenham ficado no lixo.

Quando só houver uma carta no lixo, não é permitido juntar e descartar esta carta na mesma rodada.

Resumindo:

Baralhos → dois de 52 cartas mais dois curingões, total de 106 cartas.

Jogadores → formado somente em dupla.

Disputa → formada somente com duas duplas.

Distribuição → quinze (15) cartas para cada participante.

Objetivo → Fazer canastras e pontos.

Um baralho de 52 cartas tem 4 símbolos (Espadas, Copas, Ouros e Paus) diferentes. Cada um desses símbolos representa um naipe. Cada naipe possui 13 cartas (A, K, Q, J, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2) que se repetem e, portanto, existem 4 Áses, 4 Reis, 4 Damas, 4 Valetes, etc.

Baralho


Baralho é um conjunto de cartas de um jogo de cartas. Costuma-se também chamar de “baralho” um “baralho completo”, um conjunto de cartas com todas as combinações de números e naipes possíveis.

O baralho mais usado nos países de língua portuguesa possui 52 cartas, distribuídas em 4 naipes e em 13 valores diferentes. Os nomes dos naipes em português (mas não os símbolos) são inspirados nos do baralho espanhol (espadas (♠), paus (♣) (bastos em espanhol), copas (♥) e ouros (♦)), embora sejam usados os símbolos franceses. Cada naipe possui 13 cartas, sendo elas um Ás (representado pela letra A); todos os números de 2 a 10; e três figuras: o Valete, marcado com a letra J (do inglês Jack), a Dama, também chamada de Rainha, letra Q (de Queen) e o Rei, letra K (de King). Geralmente é dado o valor 1 ao Ás e às figuras são dados respectivamente os valores de 11, 12 e 13.

Alguns jogos também incorporam um par de cartas com valor especial, e que nunca aparecem com naipe, os Curingas.

História

O baralho foi inventado pelo pintor francês Jacquemin Gringonneur, sob encomenda do rei Carlos VI de França. Gringonneur desenvolveu as cartas do jogo de forma que representassem as divisões sociais da França através de seus naipes: copas para representar o clero, ouro para a burguesia (formada, sobretudo, por comerciantes), espadas para os militares e paus para os camponeses. A primeira versão tinha 78 cartas.

Mais tarde, atribuíram-se significados específicos às cartas com figuras, representando personalidades históricas e bíblicas. São elas:

Rei de Ouros - Júlio César, geralmente portando um machado que simboliza as legiões romanas.

Rei de Espadas - o rei israelita Davi.

Rei de Copas - o rei Carlos Magno.

Rei de Paus - Alexandre, o Grande.

Dama de Ouros - Raquel, filha do profeta Abraão.

Dama de Espadas - A deusa grega Atena.

Dama de Copas - Judite, personagem bíblica.

Valete de Ouros - sir Heitor membro da Távola Redonda.

Valete de Espadas - Hogier, primo de Carlos Magno.

Valete de Copas - La Hire, cavaleiro que lutou com Joana D’Arc.

Valete de Paus - sir Lancelot.

O curinga representa os jograis realizados nos antigos castelos. É a única carta remanescente do baralho original de 78 cartas.


Regras mais detalhadas

Descrição

O jogo é jogado com quatro participantes, formando duas duplas, devendo estar sentadas na mesa em posições alternadas.

Jogadores → 4

Baralhos → dois tradicionais de 52 cartas

Distribuição → 11 cartas para cada participante e dois mortos

Objetivo → Fazer mais pontos que a dupla oponente

Definições

Jogo → três ou mais cartas, ordenadas, do mesmo naipe.

Exemplo: 3, 4, 5 e 6 de Paus; 10, Valete e Dama de Copas. (O Ás vale acima do Rei ou abaixo do dois.) o número mínimo de cartas é três, mas podem ser descidas mais cartas simultaneamente, ou outras cartas serem acrescentadas no decorrer da partida.

Curingas → Os dois são utilizados como curingas, podendo substituir qualquer carta.

Exemplo: Dama-dois-Ás de Ouros; sete-sete-dois.

Batida → é acabar as cartas da mão.

Morto → só recebe o primeiro da dupla a bater.

Batida Direta e Batida Indireta → Batida direta é aquela em que o jogador esvazia a mão sem jogar fora. Pegará o morto e continuará a jogar, sem comprar carta. Batida indireta é aquela em que o jogador termina suas cartas, descartando uma. Pegará o morto, mas só poderá utilizá-lo na outra volta, quando for a sua vez de jogar.

Canastra → Jogo de sete cartas ou mais em sequência do mesmo naipe. Tem três tipos de canastra: "Limpa" (sem curinga), "Suja" (com curinga) e "De mil" (de ás a ás e sem curinga).

O Jogo

O mão compra uma carta do baralho (monte constituído pelas cartas que sobrarem após a distribuição), verifica quais as combinações que pode fazer com essa carta e joga fora uma que não lhe interessa. Essa carta começa a lixeira, refugo ou cartas da mesa. Após jogar fora, jogará o segundo jogador à esquerda do primeiro e assim por diante, até que alguém termine a partida. Após cada compra o jogador poderá baixar uma combinação de cartas - jogo - antes de descartar (jogar fora) uma carta da sua mão. O descarte significa que ele acabou sua jogada e está passando a vez. O jogador não pode voltar atrás. Do segundo jogador em diante, existe opção entre a compra de uma carta do monte ou de todas as cartas da lixeira. O jogador que bater com as onze cartas iniciais, pegará as onze cartas de seu morto e o jogo continuará como antes. No jogo de parceria, cada morto corresponde a uma dupla. Se quem já pegou o morto tornar a bater, terminará a partida, mas para isso precisa-se de pelo menos uma canastra limpa. Se a outra dupla ou o outro jogador não pegar o morto, deverá descontar de seus pontos positivos os 100 pontos correspondentes ao morto, além das cartas que tem em mãos.

Contagem

Ao término da partida, somam-se os pontos na mesa, ou seja os valores das cartas baixadas, mais o valor extra das canastras. Deduz-se os valores das cartas que sobraram na mão. Para o jogador ou dupla que bateu, soma mais 100 pontos da batida e caso o outro jogador ou dupla não tenha pego o morto, diminui-se 100 pontos como penalidade.

Detalhe: Se um jogador comprar o morto por batida indireta e o adversário terminar a partida antes que chegue sua vez de jogar, o morto deverá ser pago, como se não o tivesse sido comprado.

Valor em pontos

Batida = 100 pontos.

Curinga (dois) = 10 pontos.

Do Oito ao Rei = 10 pontos cada carta.

Do Três ao Sete = 5 pontos cada carta.

Ases = 15 pontos cada.

Canastra Limpa = Vale 200 pontos.

Canastra Suja = Vale 100 pontos.

Canastra de 500 = Vale 500 pontos (De Ás a 2).

Canastra de Mil = Vale 1000 pontos (De Ás a Ás).

Definições

Baixar um jogo → Um jogo é formado por 3 ou mais cartas do mesmo naipe, ordenadas em sequência numérica. A sequência vai do 2 ao Rei (K). Você pode colocar o Ás antes do 2 ou depois do Rei. Se você possuir dois Ases, poderá colocar um antes do 2 e o outro depois do Rei. No decorrer da partida podem-se acrescentar mais cartas ao jogo.

Comprar o lixo → Para comprar o lixo, basta clicar sobre as cartas que estão no lixo. Todas as cartas que estiverem nesta área serão transferidas para a sua mão.

Morto → É o montante de 11 cartas que um jogador recebe quando acabam todas as cartas da mão. Se o jogo for de 4 jogadores, cada morto corresponde a uma dupla. Só pode pegar o morto, o primeiro jogador da dupla a acabar com as cartas da própria mão. Não é possível que a mesma dupla, ou o mesmo jogador, pegue os dois mortos. Caso as cartas do monte acabem, e haja algum morto na mesa, este será automaticamente utilizado como o monte.

Batida → É quando acabam as cartas de um jogador, sendo que este ou sua dupla já tenha pegado o morto. No caso de um jogo em que nenhum jogador tenha pegado o morto, só é possível bater quando os dois mortos virarem monte e as cartas da mão do jogador tenham acabado.

Batida Direta → É aquela em que o jogador acaba com as cartas da mão sem jogar nenhuma fora, ou seja, todas as cartas vão para jogos na mesa. Caso haja morto, o jogador irá pegá-lo e então continuará a jogar, sem comprar carta.

Batida Indireta → Ocorre quando o jogador termina as cartas da mão, tendo descartado alguma outra durante o jogo. Havendo morto, o jogador deverá pegá-lo, podendo jogar apenas na próxima rodada, quando chegar a sua vez de jogar.

Canastra → Jogo de sete cartas ou mais do mesmo valor ou em sequência, do mesmo naipe. Existem quatro tipos de canastra:

Canastra limpa – Sem curinga


Canastra suja – Com curinga


Canastra de quinhentos – De Ás a 2, sem curinga


Canastra Real (mil pontos) – De Ás a Ás, sem curinga


Obs. No caso das canastras sujas que usam o "2" como curinga, caso este "2" seja do mesmo naipe da canastra, esta poderá se tornar limpa, quando a carta que o "2" estiver substituindo for comprada, e se formada uma sequência completa a partir do "2".