terça-feira, 22 de novembro de 2016

O desaparecimento do diplomata sueco



Diplomata sueco Raoul Wallenberg ajudou dezenas de milhares de judeus a escapar do regime nazista e acabou preso em Budapeste em 1945

Budapeste, Hungria, 1945. O diplomata sueco Raoul Wallenberg é detido naquele ano por militares soviéticos que entraram na cidade perto do final da Segunda Guerra e nunca mais é visto.

Em 1957, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia informou que ele tinha morrido após um ataque cardíaco em 17 de julho de 1947 na prisão de Lubyanka, em Moscou.

A família do diplomata não acreditou nesta versão e passou décadas tentando descobrir o que realmente tinha acontecido.

Até que eles finalmente desistiram e pediram à Agência Tributária da Suécia para declarar Wallenberg oficialmente morto.

A agência atendeu ao pedido no fim de outubro de 2016, 71 anos depois do desaparecimento.

Mas Wallenberg não era um diplomata comum. Durante sua estada em Budapeste, ele ajudou milhares de judeus a escapar dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e sua história se transformou em lenda depois de 1945.

Mesmo sendo considerado o "Schindler sueco", ainda persiste o mistério sobre o verdadeiro destino do diplomata.

Resgate

Wallenberg nasceu na Suécia em 1912. Em julho de 1944 chegou a Budapeste, já ocupada pelos nazistas, para trabalhar como diplomata.

Naquele mesmo ano, ele começou os esforços para resgatar judeus.

Os alemães já tinham deportado quase 440 mil judeus da Hungria em apenas dois meses. A maioria deles tinha ido para o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia.

Wallenberg, então, começou a emitir documentos suecos que protegeriam seus portadores e evitariam que mais judeus fossem deportados. Com estes documentos eles iriam para a Suécia.

Antes da chegada de Wallenberg, a embaixada sueca em Budapeste já emitia documentos de viagem para judeus húngaros, que funcionavam como passaportes do país.

Rolf Broberg/Creative Commons


Memorial em homenagem a Raoul Wallenberg em Göteborg, na Suécia; diplomata foi declarado morto oficialmente no mês passado. (outubro de 2016)

Wallenberg decidiu modificar a aparência destes documentos, para dar um cunho mais oficial aos passes. Ele acrescentou as cores da bandeira sueca e colocou selos com a coroa sueca. Estes documentos ficaram conhecidos como os "passes de proteção" (ou "Schutzpass" em alemão).

Wallenberg negociou com o governo húngaro para emitir quase 5 mil destes passes. De acordo com a Fundação Internacional Raoul Wallenberg, o diplomata chegou a entregar três vezes mais do que 5 mil documentos.

Algumas pessoas faziam filas na embaixada sueca em Budapeste para retirar estes documentos de viagem, mas Wallenberg e os funcionários diplomáticos também distribuiam os passes pela cidade.

Uma testemunha relatou à BBC como o diplomata interceptou um trem cheio de judeus que estava prestes a sair de Budapeste com destino a Auschwitz.

Wallenberg subiu no teto dos vagões do trem levando um pacote de passaportes e começou a distribuir os documentos para mãos estendidas pelas janelas abertas.

O diplomata também comprou e alugou mais de 30 edifícios em Budapeste, incluindo hospitais, e colocou bandeiras suecas em suas portas. Desta forma, estes locais funcionavam como território neutro e pelo menos 15 mil judeus se refugiaram nestes prédios.

Wallenberg foi homenageado no Memorial do Holocausto, o Yad Vashem, em Jerusalém, como um dos "Justos entre as Nações".

Ataque cardíaco ou execução?

A teoria mais comum sobre o destino de Wallenberg é que ele morreu em uma prisão soviética.

De acordo com o jornal sueco "Aftonbladet", em 19 de janeiro de 1945, Wallenberg foi encarcerado em Lubyanka, em Moscou, acusado de espionagem.

O "relatório Smoltsov", incluído no ano 2000 em uma investigação de uma equipe de especialistas russos e suecos, informou que o diplomata morreu de um ataque do coração em sua cela no dia 17 de julho de 1947, quando tinha apenas 34 anos.

Mas documentos do serviço secreto soviético, a KGB, tornados públicos em 1991, indicavam que Wallenberg tinha sido interrogado em Lubyanka no dia 23 de julho de 1947, ou seja, seis dias depois da data divulgada pelo "relatório Smoltsov".

A mãe de Wallenberg, Maj von Dardel, e seu padrasto, Fredrik von Dardel, cometeram suicídio em 1979.

Em agosto de 2016, o Congresso Mundial Judeu citou um relatório no qual se alegava que Wallenberg tinha sido executado em 1947. A informação vinha dos diários de Ivan Serov, ex-diretor da KGB, publicados em junho de 2016.

'Morte em 1952'

Em novembro de 2015 a família de Wallenberg pediu à Agência Tributária Sueca que ele fosse oficialmente declarado morto. "Será considerado que ele morreu em 31 de julho de 1952", afirmou a agência.

Pia Gustafsson, funcionária da agência, explicou que a data foi escolhida por ser exatamente "cinco anos depois de seu desaparecimento, que se acredita ter ocorrido no fim de julho de 1947".

Este procedimento segue uma lei sueca que se aplica quando as circunstâncias da morte de uma pessoa não ficam claras, disse Gustafsson à BBC.

O jornal sueco "Aftonbladet" informou que a família do diplomata pediu que ele fosse declarado morto oficialmente para "deixar Raoul descansar em paz".

 *****

Fonte: Último Segundo - iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2016-11-14/
desaparecimento-schindler-raoul-wallenberg.html




Nenhum comentário:

Postar um comentário