quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Túnica Inconsútil


A Santa Túnica Inconsútil de Nosso Senhor Jesus Cristo


*Inconsútil → não consútil, sem costuras (diz-se especialmente da túnica de Cristo); feito de uma só peça, inteiriço.

Quase todas as pessoas que compareceram à inauguração do Instituto na “Villa La Clairière” tomaram seus ônibus, no dia seguinte, dirigindo-se à cidade de Trier (Alemanha), onde formariam um grupo de peregrinos a fim de venerar uma das mais preciosas relíquias da Cristandade — a Túnica inconsútil de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Segundo o Evangelho de São João, as vestes de Nosso Senhor foram distribuídas entre os soldados romanos após a crucificação. Elas constavam de quatro peças. A túnica que o Salvador usava por baixo das outras peças do vestuário não foi cortada, mas dada a um dos soldados após sorteio: eles a estenderam no solo e lançaram sorte sobre ela. Não quiseram cortá-la, pois viram que ela era inconsútil, isto é, tecida de um extremo a outro sem costuras: “Quando crucificaram Jesus, os soldados repartiram as suas vestes em quatro partes, uma parte para cada soldado. Deixaram de lado a túnica. Era uma túnica sem costura, feita de uma peça única, de alto a baixo” (Jo 19,23-24). O Evangelho de São João narra expressamente este fato enquanto cumprimento de profecia feita no Antigo Testamento (Cfr. Salmo).

De acordo com a Tradição, deve-se a Santa Helena a vinda da Santa Túnica para Trier. A santa era mãe do imperador romano Constantino, o Grande. O fato é comprovado por fontes históricas do século XII que narram acontecimentos eclesiásticos medievais da cidade de Trier.

A Santa Túnica foi mencionada pela primeira vez em documento datado de 1º de maio de 1196, quando o arcebispo D. Johann I consagrou o altar-mor da catedral de Trier, nele encerrando essa preciosa relíquia. Com a conservação dessa relíquia o bispado de Trier superava o renome da abadia de Prüm, possuidora em seu tesouro, desde o ano de 752, das sandálias de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecidas pelo rei Pepino, o Breve.

Quando o Imperador alemão Maximiliano I veio a Trier, por ocasião da Dieta de 1512, pediu para venerar a Santa Túnica. O arcebispo D. Richard de Greiffenklau procedeu então à abertura do altar em presença do imperador, como também de muitos bispos e prelados. Depois da Santa Missa, celebrada em memória da falecida esposa do imperador, os cidadãos clamaram, ruidosamente, solicitando que a Santa Túnica fosse exposta à veneração pública. O capítulo da catedral preparou uma sacada, na fachada ocidental do templo, na qual várias exposições foram feitas aos habitantes e peregrinos. Estas exposições são atestadas por vários quadros daquela época, em madeira entalhada.

Até 1517 as peregrinações se sucediam anualmente. Por disposição do Papa Leão X, elas passaram a realizar-se de acordo com as determinações do Centro de Peregrinações de Aachen (capital do império carolíngio). Assim, o Centro estabeleceu os anos das peregrinações seguintes: 1524, 1531, 1538 e 1545. Por causa de confrontações bélicas e as tropelias desencadeadas pela eclosão do Protestantismo, a sucessão regular das peregrinações foi perturbada.

Por medida de segurança, a Santa Túnica foi conservada durante mais de 140 anos entre ‒ 1628 e 1794, com algumas interrupções ‒ na fortaleza de Ehrenbreitstein, perto de Coblença. Nessa mesma fortaleza, em 4 de maio de 1765, o bispo D. Johann IX Philipp de Walderdorff permitiu sua exposição solene, a qual recebeu numerosos peregrinos. O último arcebispo de Trier, D. Clemens Wenzeslaus, levou a relíquia para Augsburg, e de lá ela só voltou novamente para Trier em 1810.

Antiga menção literária da Santa Túnica pode ser encontrada no drama Orendel, narrado em versos, escrito por volta de 1190.

As condições da relíquia são hoje difíceis de determinar. O tecido atual está recoberto de camadas de diferentes materiais. Essas camadas são o resultado de precauções, as quais as autoridades eclesiásticas se viram obrigadas a permitir, a fim de melhor proteger a Túnica no momento das exposições. Os materiais são de idades diferentes e parcialmente danificados, fragmentados ou remendados. A parte central da peça é constituída de um tecido cuja forma e tessitura são imprecisas e perfuradas.

Uma comissão eclesiástica de inquérito – à qual pertenceram como peritos os clérigos Alexander Schnütgen e Stephan Beißel – qualificou o material castanho da preciosa relíquia como "linho ou algodão".

A diocese Trier descreve em seu Website, neste ano, a condição em que se encontra a relíquia, apoiando-se num relatório de estudos têxtil-históricos, nos seguintes termos: “A parte da frente da Túnica, tal como ela hoje se apresenta, é constituída de seda acetinada, de tule castanho e de tafetá esverdeado. Neste tafetá encontra-se uma camada de antigos fragmentos de tecidos interligados por cola vegetal. A parte de trás é constituída de tecido de seda acetinada, de tule castanho, de uma fina camada de gaze, de tafetá sedoso esverdeado, de uma camada de feltro e de outra camada suplementar de feltro e de gaze de seda. Supõe-se que fibras de lã constituem hoje, em parte desfeitas, o núcleo do tecido principal. A datação não pode mais ser precisamente determinada”.

No Website da diocese constava, em 2006, esta afirmação taxativa que melhor reflete a autenticidade da Santa Túnica: “Independentemente da questão da ‘autenticidade material’ da Santa Túnica, pode conter a verdade histórica desta o fato de os Cristãos venerarem há 800 anos a Túnica de Cristo como sinal da presença do Deus feito Homem na pessoa de Jesus de Nazaré. Isto é incontestável e esta ‘autenticidade espiritual’ é certamente mais importante do que qualquer resposta à pergunta: ‘A Túnica é propriamente autêntica?’”


Veja:

Revista Catolicismo

Postado por Oswaldo de Paula Garcia


Nenhum comentário:

Postar um comentário