História contada por
Efraim Halevy,
ex-diretor do Mossad
e figura-chave no Tratado de Paz
entre Israel e a Jordânia.
entre Israel e a Jordânia.
Participei recentemente de um evento
cultural na Áustria onde estava presente o advogado israelense Efraim Halevy,
uma figura central na política israelense das últimas décadas. Além de dirigir
o Mossad (o legendário Serviço Secreto de Inteligência de Israel) no período
entre 1988 a
2002, Halevy foi diretor do Conselho de Segurança de Israel, e também embaixador
de Israel junto à Comunidade Europeia. Sua rica biografia – sua participação
nas negociações que levaram ao Tratado de Paz entre Israel e Jordânia foi
fundamental – contrasta com a figura modesta e reservada que circulava pelo
hotel. Ouvi dele a história que conto a seguir.
Na década de 1980, o Mossad foi
incumbido de resgatar judeus etíopes que sofriam toda sorte de abusos e
privações no Sudão por conta da ditadura islâmica. Na época, Israel não tinha
relação com aquele país, e o grande número de pessoas a serem resgatadas não
permitia que a ação fosse rápida. A operação exigia entradas clandestinas
contínuas no território sudanês, com pistas de pouso e pontos de embarque na
costa sudanesa para os aviões e navios que levariam os judeus até Israel.
Estudando a situação, Halevy e sua
equipe descobriram numa região do Egito conhecida pela beleza de seus corais, a
80 quilômetros
da costa do Sudão, uma antiga vila de mergulho desativada. O plano foi então
elaborado. O governo israelense, usando o nome de uma empresa estrangeira,
comprou o resort abandonado e o reestruturou, num tempo recorde,
transformando-o num hotel cinco estrelas para amantes de mergulho.
Para resolver o sério problema local
de abastecimento de água, Israel enviou para o resort equipamentos de
dessanilização que passaram a servir também à comunidade. Assim, enquanto
aquela área se transformava no local mais irrigado da região, o hotel se
tornava uma coqueluche de verão.
Uma equipe com chefs de cozinha,
patisseurs, garçons, camareiras, porteiros, instrutores de mergulho,
eletricistas, jardineiros e diversos profissionais ultraqualificados
(poliglotas e sem nenhum sotaque, segundo Halevy) atendiam milionários,
artistas, políticos, esportistas e figuras do jet set internacional que se
hospedavam ali para ver de perto os corais mais lindos do mundo.
Ninguém jamais desconfiou que todo
aquele staff hoteleiro fazia parte do Mossad. Com passaportes falsos, eles
tinham jornada dupla: de dia serviam os turistas e ao cair da noite cruzavam a
fronteira do Sudão em caminhões camuflados, sabendo que se fossem pegos jamais
retornariam para casa.
A operação durou quatro anos. Noite após noite, dezenas de crianças, jovens, idosos, homens e mulheres eram resgatados e levados até aviões ou navios que os esperavam em pistas e pontos de embarque improvisados.
Um dia, Halevy recebeu a informação
de que a operação havia sido descoberta e que seu pessoal tinha somente quatro
horas de estadia segura no resort. Foi o tempo necessário para que Israel
enviasse as aeronaves para o local. Nessa noite, todos os profissionais que
trabalharam na operação voltaram para casa. Os equipamentos do resort foram
abandonados. Mas o saldo final foi um sucesso: 12 mil judeus etíopes foram
resgatados e puderam recomeçar uma nova vida em Israel.
IstoÉ Independente
Escrito por
Patrícia Melo é
escritora*
*Patrícia Melo (Assis, 2 de outubro de 1962) é uma escritora brasileira.
Escreve principalmente obras policiais, conhecida por seus livros dedicados a
analisar a mente de criminosos. É casada
com o maestro John Neschling.
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