D. Pedro I por William Medeiros
Nos últimos anos, a imprensa em geral
tem dado grande destaque a uma série de escândalos particulares de diversas
personalidades no Brasil e no mundo.
Um desses descalabros prediletos pela mídia
é o chamado “golpe da gravidez”, que é praticado basicamente por belas jovens
de amplos dotes físicos, mas de estreita moral, e que procuram dormir com
atores, artistas, desportistas, enfim, qualquer figura endinheirada, com o fito
dela engravidar e cobrar na justiça milionárias pensões para seus rebentos,
claro, tudo devidamente amparado cientificamente pelo moderno teste de DNA.
Essas mães, mais preocupadas com o
dinheiro que vão embolsar, nunca pensam no que pode passar pela cabeça de seus
espúrios filhos quando crescerem, até porque nem lhes interessam esse pormenor.
O que importa é dar uma “facada” nas
finanças do incauto, que passa a pagar pensão não para os inocentes bebês, mas
para sustentar o luxo das impudentas mães.
Pois bem, poucos sabem que o
estratagema remonta, no caso brasileiro, a 1828; e o incauto, nesse caso, foi o
Imperador D. Pedro I, e quem pagou a conta, adivinhem? Foi o povo brasileiro!
Pudera, nosso primeiro monarca foi um
grande conquistador de corações e exímio fazedor de filhos, bastando dizer que,
em quinze anos de vida sexual ativa, D. Pedro I foi pai de 28 filhos, dez em
seus dois matrimônios e dezoito fora dele.
Até a
quituteira negra do Palácio de São Cristóvão teve a honra de uma gravidez real,
como também uma freira, na Ilha Terceira!
Entretanto,
o caso mais rumoroso e caro foi, sem dúvidas o de Dª Clemência Saisset.
Em 1828, a rua mais importante
do Rio de Janeiro era a do Ouvidor, local onde existiam as casas comerciais
mais refinadas da cidade, em geral de propriedade de franceses.
D. Pedro I, quando vinha de São
Cristóvão para o Paço da Cidade, na atual Praça XV, passava com sua carruagem
por ela e, com certeza, observava o animado comércio e, principalmente, as
modistas francesas ali estabelecidas, com as quais não poucas vezes teve casos
amorosos.
Ultimamente, sua atenção estava
voltada para a casa n°. 98, defronte à Rua Nova do Ouvidor (atual Travessa do
Ouvidor) um fino estabelecimento de modas e papéis pintados de Bernardo
Wallenstein & Companhia.
Mas sua atenção não era dirigida às
roupas ou papéis de parede ali exibidos, nem era a figura do solteirão Bernardo
ou de seu sócio, Pierre Joseph Félix Saisset, mas sim à bela figura da esposa
do segundo, Dª Clemência Saisset, née Mëes, modista e bela mulher de vinte e
cinco anos e já mãe de dois filhos, o último deles nascido em março daquele
ano.
D. Pedro I percebeu que a jovem lhe
correspondia e concebeu engenhoso plano para conquistá-la. Contratou Pierre
Félix para colocar papéis de parede em todo o Paço de São Cristóvão. Enquanto o
marido colocava os papéis nos salões imperiais, D. Pedro colocava-lhe chifres!
De certa feita, Pierre Félix retornou
mais cedo para casa e veio a encontrar D. Pedro I totalmente despido em sua
cama!
A esposa o convenceu que nosso
imperador havia sofrido uma queda de um cavalo defronte a casa, e Dª Clemência,
fazendo jus ao nome, o recolhera e despira (tudo no maior respeito, é claro...)
para aplicar uma massagem de socorro. O marido fingiu acreditar, pois logo
percebeu o quanto poderia lucrar com a situação. D. Pedro inclusive o autorizou
posteriormente a colocar uma placa na fachada da casa, indicando o negócio de
papéis pintados ser “Fornecedor da Casa Imperial”, motivo de muita gozação
entre os vizinhos.
Em novembro, Dª Clemência engravidou
de D. Pedro e, para o escândalo não aumentar, no dia 30 de dezembro de 1828 o
casal Saisset partia para a Europa, não sem antes ter todo seu negócio
indenizado a peso de ouro pelo Imperador, recebendo Dª Clemência, dentre muitos
presentes e dádivas, um saque de setenta e cinco mil francos e um título de
pensão vitalícia.
De
quebra, D. Pedro ainda prometeu pagar a educação do pimpolho com mesada régia, à
custa dos contribuintes. Em Paris, às seis horas da tarde do dia 23 de agosto
de 1829, à rua Bergère, n°. 17 bis; nasceu um menino, que passou a chamar-se
Pedro de Alcântara Brasileiro, oficialmente filho de Pierre Saisset, antigo oficial
de cavalaria francesa, de 32 anos; e de Dª Clemência Saisset.
Durante a gravidez da esposa, tanto
o Sr. Pierre, bem como Dª Clemência endereçaram muitas cartas ao Imperador e a
seus procuradores, todas tratando de dinheiro, é claro. Os Saisset depois se
mudaram para a Avenida de Sceaux, n°. 2, em Versailles, onde granjearam fama na
sociedade local, tendo o casal feito larga propaganda do filho tido com o
Imperador do Brasil, fato que o próprio Sr. Saisset alardeava como de grande
mérito. Costumava Dª Clemência exibir aos amigos e visitantes os presentes
oferecidos a ela pelo Imperador do Brasil, em especial um papagaio falante, bem
como toda a correspondência amorosa de ambos.
Entretanto, a renúncia do Imperador
ao trono do Brasil, ocorrida a 07 de abril de 1831, bem como a morte precoce de
D. Pedro, em Lisboa, a 26 de setembro de 1834 interromperam a remessa de
dinheiro ao casal, fato que não passou sem poucos protestos.
Após alguns anos, a Imperatriz
viúva, Dª Maria Amélia, concedeu uma pequena pensão à criança, por alguns anos.
Pedro de Alcântara Brasileiro foi
educado num dos melhores colégios de Paris, o liceu “Louis le Grand”, e se
bacharelou em letras.
Casou-se e foi pai de duas meninas,
indo afinal residir em San
José de Guadalupe, São Francisco, Califórnia. Em outubro de
1864 recebeu a notícia do falecimento da mãe, morta aos 61 anos.
Só então, por meio do advogado da
família, recebeu uma pasta de documentos e veio a saber que era filho do
ex-Imperador do Brasil.
Pedro de Alcântara enviou então uma
missiva ao seu meio-irmão brasileiro, nada mais nada menos que o Imperador D.
Pedro II, pedindo uma ajuda de custo para a educação de seus dois filhos, haja
vista que sua mãe, a finada Dª Clemência, havia torrado toda a fortuna da
família em luxos e superfluidades. O Imperador não retornou a correspondência e
o assunto morreu. Alguns anos depois, em 26 de agosto de 1877, quando D. Pedro
II esteve em Londres, um dos filhos de Pedro de Alcântara, o Capitão de Fragata
Ernest de Saisset tentou se encontrar com o Imperador,
sem sucesso. E tudo ficou assim.
Texto histórico: Internet
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