sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O Barão de Itararé em Porto Alegre



Barão na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, RS.

Foi numa casa de cômodos, localizada na Rua Uruguai quase esquina com a Rua da Praia, no centro da cidade, que Aparício Torelly (também usava Aporelly, 1895-1971) morou por mais tempo. Era um pequeno quarto de frente com sacada, localizado no segundo andar de um antigo casarão, que abrigava principalmente estudantes do Interior. As condições sanitárias não eram das melhores, tanto que o único banheiro ficava no andar de baixo. O quarto era dividido ainda com um companheiro, também estudante, o que não impediu Aporelly de riscar com giz as “peças”, limitando com invisíveis paredes a sala de visitas, sala de jantar, sala de estudos e o dormitório. Numa das paredes, demarcou com um risco um triângulo com a inscrição “espelho”.

Essas brincadeiras, evidentemente, não eram bem toleradas pelo dono da pensão, mesmo porque o atraso do aluguel crescia a cada mês, ignorando as cobranças do senhorio. Foi com surpresa dos moradores que, em certo dia, Aporelly anunciou que, no final da semana, se mudaria. Despejou seus poucos pertences numa carrocinha alugada e, empurrando-a pela Rua da Praia (hoje Andradas), passou pelo Largo dos Medeiros, subiu a General Câmara, a conhecida Ladeira, até chegar à Andrade Neves.

Aos conhecidos que encontrava àquela hora, explicava sorridente sua mudança.

E assim continuou andando e dobrando esquinas até chegar ao mesmo lugar, isto é, à pensão. Entrou por outra porta, recolocou suas coisas no mesmo lugar e, depois, foi deitar, para espanto do proprietário e dos companheiros, que nada entenderam. Desafiado a andar pela Rua da Praia de “pernas para o ar e cabeça para baixo”, para ganhar 100 réis, Aporelly contratou um automóvel, dirigido por um conhecido.

A seguir, baixando a tolda do carro, apoiou a cabeça no banco traseiro, ficando com os pés para o ar enquanto o veículo corria pelas principais ruas do centro da cidade. Surpresos, os transeuntes paravam para ver aquele insólito espetáculo, quando um policial resolveu interromper a brincadeira, dando voz de prisão ao engraçadinho.

Longe dos amigos influentes, outrora companheiros de boemia, sem dinheiro nem perspectiva, abandonou a faculdade de Medicina em 1918, pois dizia: “Medicina é um apostolado e não tenho vocação para apostolado nem para charlatão”.

Mudando-se para o Rio de Janeiro, fundou o jornal A Manha, conquistando fama e fortuna. Ao publicar um anúncio em seu jornal, escreveu: “Precisa-se de uma boa datilógrafa. Mas, se for mesmo boa, não precisa ser datilógrafa”.

(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora)

Frases do Barão de Itararé


 “Todo homem que se vende recebe mais do que vale.”

“O fígado faz muito mal à bebida.”

“O amor é cego, mas os guardas-civis, não”.

“O bacalhau é um peixe lavado e passado a ferro.”

“Este mundo é redondo, mas está ficando chato.”

“Há qualquer coisa no ar, além dos aviões de carreira.”

“As mulheres de certa idade nunca são de idade certa.”

“A primeira ação de despejo foi a expulsão de Adão e Eva do Paraíso por falta de pagamento de aluguel e comportamento irregular.”

“Este mês, em dia que não conseguimos confirmar, no ano 453 a.C., verificou-se terrível encontro entre os aguerridos exércitos da Beócia e de Creta. Segundo relatam as crônicas, venceram os cretinos, que até agora se encontram no governo.”

“Para este mundo ficar bom, é preciso fazer outro.”

“De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”

“A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.”

“Deus dá pente a quem não tem cabelo.”

“Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer.”

“O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.”

“Tempo é dinheiro. Vamos, então, fazer a experiência de pagar as nossas dívidas com o tempo.”

“Vamos deixar como está para ver como eu fico.”

“O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta.”

“Não é triste mudar de ideias; triste é não ter idéias para mudar.”

“Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.”

“O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.”

“Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.”

“Testamento de pobre se escreve na unha.”

“O caminho é sempre maior do que o caminhão.”

“Costureira decente não perde a linha.”

“Um mamão não lava o outro.”



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