Quando estava em Londres, para
onde fora deportado em 1969 pela Ditadura Militar, Caetano Veloso recebeu a
visita de Roberto Carlos, que cantou “As curvas da estrada de Santos” com ele.
Em seu livro Verdade Tropical, lançado em 2008, Caetano Veloso confessa que se
emocionou e chorou muito naquela ocasião. Impressionado com a emoção do amigo,
Roberto Carlos o homenagearia em seu disco seguinte com a composição “Debaixo
dos Caracóis dos Seus Cabelos”, em 1971.
Debaixo dos Caracóis
dos Seus Cabelos
(Roberto
Carlos/Erasmo Carlos/1971)
Um dia a areia branca
Seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos
A água azul do mar.
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E ao se sentirem casa
Sorrindo vai chorar.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,
Uma história pra contar
De um mundo tão distante.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante.
As luzes e o colorido
Que você vê agora,
Nas ruas por onde anda
Na casa onde mora.
Você olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente.
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,
Uma história pra contar
De um mundo tão distante.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante.
Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho,
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho.
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso,
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso.
Seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos
A água azul do mar.
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E ao se sentir
Sorrindo
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,
Uma história pra contar
De um mundo tão distante.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante.
As luzes e o colorido
Que você vê agora,
Nas ruas por onde anda
Na casa onde mora.
Você olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente.
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,
Uma história pra contar
De um mundo tão distante.
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante.
Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho,
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho.
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso,
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso.
Debaixo dos caracóis
dos seus cabelos:
por trás do romantismo havia um protesto!
por trás do romantismo havia um protesto!
Por Ricardo Ferreira
Bernardo
Mesmo sem nunca ter tido problemas com
a ditadura militar dos anos 60 e 70, o “rei” Roberto Carlos foi
genial ao compor uma música de protesto contra o regime político brasileiro da
época. Trata-se de “Debaixo dos
caracóis dos seus cabelos”, que com uma boa dose de romantismo passou
batida à censura e conquistou os corações das jovens apaixonadas. Até hoje
poucos conseguem perceber a verdadeira mensagem que a canção apresentava.
Para entendê-la, é preciso voltar até 1969, quando Caetano Veloso partiu
para o exílio em
Londres. Notadamente , suas músicas protestavam contra a
situação política brasileira do período em questão. Assim , em
1971, Roberto Carlos lançava “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”,
em homenagem ao amigo que se encontrava exilado na Inglaterra. Naquela época,
Caetano ostentava uma vasta cabeleira, daí o motivo do nome da música.
Romantismo à parte, várias passagens
da letra apresentam mensagens de protesto. Vamos a elas:
→ Janelas e portas vão se abrir,
pra ver você chegar e ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar. Mesmo longe,
ele jamais seria esquecido. “Em casa” seria obviamente o Brasil.
→ “Debaixo dos caracóis dos seus
cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante.” “Mundo tão
distante” também seria o Brasil, afinal, o cara estava do outro lado do
Atlântico.
→ “Você olha tudo e nada lhe faz
ficar contente, você só deseja agora, voltar pra sua gente.” “Voltar pra sua
gente” ou voltar para o Brasil. Era o desejo de qualquer exilado político.
→ “Um dia eu vou ver você
chegando num sorriso, pisando a areia branca, que é seu paraíso.” Seria o fim
da ditadura militar, que permitiria o retorno dos exilados ao país, fato que
teve início a partir de 1979.
Sorte que a censura da época era um
tanto burra, que não conseguia perceber certos protestos. E assim,
subliminarmente, Roberto Carlos fez uma boa crítica e ainda por cima agradou
seu público fiel, os apaixonados de plantão!
Obs: o mesmo governo militar que
motivou o protesto de Roberto Carlos, o transformou em "rei", pois
ele era um bom moço que não criticava explicitamente a política da época. Mas
isso é assunto para outra postagem.
O Pasquim publicou
uma carta dele enviada em 1969:
“As crianças inglesas são belas e agressivas. A rainha Elisabete está
pedindo aumento de salário. Eu não dependo disso tudo. Nada disso depende de
mim. O Rei esteve ontem aqui em casa e eu chorei muito. Se você quiser saber
quem eu sou posso lhe dizer: entre no meu carro, na estrada de Santos você vai
me conhecer”.
Sim, o rei era Roberto Carlos
que, de passagem pela cidade, visitou os jovens brasileiros. Mostrou sua nova
música, Nas Curvas da Estrada de Santos,
e deixou Caetano às lágrimas. O cantor da Jovem Guarda ficou tão condoído com o
choro do baiano exilado que, na volta ao Brasil, compôs para ele a canção Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos,
com Erasmo Carlos.
Em tempos de ditadura militar, a
letra não deixava explícito o exílio como tema, mas trazia versos lindíssimos
como Você anda pela tarde / E seu olhar tristonho / Deixa sangrar no peito /
Uma saudade, um sonho. Num vídeo, em gravação do programa Ensaio, Caetano
interpreta a canção, lembra da história e afirma: “Muitas vezes tive que
segurar o choro para cantar a música”.
Fantástico, sempre gostei dessa música, mas depois dessa revelação, pelo menos pra mim, foi muito inteligente, lendo a letra, realmente é o relato de quem está longe de sua gente e de sua terra amada. Mais uma vez agradeço a Almanaque Cultural Brasileiro
ResponderExcluirSempre gostei dessa musica, e se tratando da inspiração verdadeira do Rei Roberto Carlos, apaixonei mais ainda por ela.
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