No set de filmagem de Os desajustados
(The misfits), em 1960, as lentes do fotógrafo Henri Cartier-Bresson flagraram
uma moça de ar melancólico e olhar distante. Cabisbaixa, nem parecia a
estonteante musa do cinema, que despertava a cobiça dos homens mais poderosos
do mundo com sua beleza irresistível. Altiva, nunca decepcionou diante das
câmeras. Mas os instantes precisos capturados pelo mestre da fotografia deixam
transparecer uma Marilyn Monroe que poucos conheciam. Seu brilho radiante
era, às vezes, só uma fachada para o público quando, na verdade, seu estado de
espírito era sombrio.
Em Cartier-Bresson: o olhar do século, o biógrafo Pierre
Assouline comenta este episódio da gravação de Os
desajustados:
Mesmo ao cobrir um evento muito bem
organizado, também acompanhado por vários colegas, Cartier-Bresson sempre
consegue tirar pelo menos uma foto com a sua marca pessoal. É o que acontece em
1960, quando John Huston filma “Os desajustados”, e seus fotógrafos da Magnum
revezam-se nas filmagens, dois a dois. Apesar do excesso e da superabundância
de imagens, tanto em qualidade quanto em quantidade, ele consegue tirar uma
foto de Marilyn sob os olhares dos demais, única por sua composição, sua ironia
e sua ternura. Talvez a atriz não estivesse totalmente alheia à magia do
momento. Durante o jantar da equipe, o fotógrafo coloca sua Leica sobre uma
cadeira vazia à sua direita. A atriz chega atrasada. Um olhar à máquina, outro
a Cartier-Bresson, o tempo de associar um ao outro e ele já tira proveito da
ocasião:
‒ Você
gostaria de me conceder sua bênção?
Marilyn esboçou um sorriso malicioso
e pronto... Ficou eternizado o instante daquele sorriso aberto, quase uma linda
risada, um instante decisivo captado num clic, num puro instinto.
L&PM Blog e
“Memórias do Anonymus Gourmet”,
de J A. Pinheiro Machado
de J A. Pinheiro Machado
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