O cantor Jorge Goulart, que morreu no
dia 17.03.2012, aos 86 anos, foi, em todos os sentidos, uma grande voz da
música brasileira: cheia, robusta, sonora. Um tenor para grandes distâncias,
como mostrava ao cantar “A Voz do Morro” (Eu sou o samba/ A voz do morro sou eu
mesmo, sim senhor..., de Zé Kéti), mas que podia reduzir-se a uma suave brisa,
quando uma canção como “Laura” o exigia (Laura, um sorriso de criança/ Laura,
nos cabelos uma flor..., de Braguinha e Alcyr Pires Vermelho).
Jorge era forte também no Carnaval. Lançou
desde “Balzaquiana” (Papai Balzac já dizia/ Paris inteira repetia/ Balzac tirou
na pinta/ Mulher, só depois dos 30, de Wilson Batista e Nássara), em 1949, até
“Cabeleira do Zezé” e “Joga a Chave, Meu Amor”, ambas de João Roberto Kelly com
parceiros, em 1965. No chamado tríduo, ia para a avenida puxar o samba do
Império Serrano. Já sua mulher, Nora Ney, era a cantora da noite por excelência,
quase uma "diseuse", dona de “Ninguém me Ama” e de fino repertório.
Filiado ao Partidão (PCdoB), Jorge foi
demitido da rádio Nacional em 1964. Mas o pior foi nos anos 90: um câncer
destruiu suas cordas vocais, obrigando-o a falar por um aparelho ligado à
laringe. Um golpe duríssimo para alguém com a sua exuberância vocal. Mesmo
assim, não perdeu o humor.
Só falei com ele uma vez. Mas bastou
para que me contasse, às gargalhadas, sobre a moça que acabara de ver na rua,
em Copacabana, e que lhe lembrou uma antiga namorada.
Cheio de dedos, ele a abordou:
‒ Minha filha, desculpe a
liberdade, mas você me recorda alguém que...
A garota o interrompeu:
‒ Eu sei. O senhor é o
Jorge Goulart. Suas fotos estão por toda parte lá em casa.
Jorge se empolgou:
‒ Exatamente! Imagino que a
pessoa que eu namorei seja... a sua avó, não?
E a garota, sem vacilar:
‒ Não. Bisavó!
Ruy Castro
Ah,velhos amores, recordações, o importante que marcou
ResponderExcluir