Paulo Sant´Ana
É muito comum a confusão entre
tristeza e a depressão. E uma não tem nada a ver com a outra.
A tristeza é
movida pelo tédio.
E a
depressão é movida pela dor.
Dominada ela
tristeza, uma pessoa aceita de braços abertos a alegria e o prazer.
Enquanto que, dominada pela
depressão, a pessoa rejeita terminantemente a alegria e recusa o prazer, a
menos que o prazer consista em vício.
A pessoa triste pode ser razoavelmente
sociável, pode ir tomar um chope com amigos, pode dançar até altas horas.
Já o deprimido, ninguém o arrasta
para qualquer festa, rejeita qualquer sociabilidade, sofre tremendamente se
tiver que trabalhar. Qualquer aproximação com outra pessoa é para ele um
martírio.
O triste tem esperança e sonha.
O deprimido está sem nenhuma
esperança, sente-se num beco sem saída, imagina que só poderia se libertar se
sua vida se extinguisse.
O triste ainda sai à rua no domingo à
tarde.
O deprimido não quer sair, encerra-se
no quarto e fica torcendo para que ninguém entre nele.
O deprimido não vai a nenhuma festa
nem frequenta nenhuma roda porque tem certeza de que estragará a festa ou a
roda com seu azedume.
O triste pode aproveitar a paisagem e
o sol.
O deprimido não enxerga nem a
paisagem nem o sol. Ele só olha para sua melancolia.
A tristeza está presente em um estado
mental sadio, normal.
A depressão é fruto de um estado
mental mórbido.
Se formos levar em conta o nosso
cotidiano, uma vida de trabalho, estudo, enfrentamento dos problemas
familiares, veremos que este clima é propício à tristeza.
Se considerarmos que a alegria se
manifesta pelo riso ou pela dança, há poucas horas de uma semana em que uma
pessoa normal não esteja triste ou então possuída de tédio.
Então, a tristeza se alterna com a
alegria. O triste se dispõe a ser alegre, a alegria depende de suas
circunstâncias.
Já o depressivo não atrai
para o aparato de suas sensações pessoais a alegria. Pelo contrário, a
esconjura.
O triste escora a sua tristeza nos
fatos ou ocasiões que o cercam.
Já o deprimido sustenta a sua
depressão nos seus pensamentos, nos seus raciocínios, na sua cabeça doente,
enfim,
O triste pode focar sua existência no
presente, o que lhe acontece hoje de ruim pode amanhã estar melhor.
Já o deprimido centraliza sua
existência no seu destino, que ele considera amargo, infeliz e irreversível,
sem remédio.
Nada tem a ver entre si a depressão e
a tristeza. Não são sequer parentes. O triste é uma pessoa viável, propício à
felicidade.
O depressivo está tomado de tal
amargor, que calcula que sua vida já chegou ao fim, deprime-o cada vez que
tenha de enfrentar esta sensação ainda vivo.
O triste é um alegre em potencial ou
em eventual.
O deprimido é um desistente.
Não há pessoas que mais careçam de
apoio afetivo e sentimental que os deprimidos. Eles têm de ser assistidos no
seu desespero, na tragédia brutal do seu sofrimento. E o pior é que muitas
vezes os deprimidos se fecham, não se deixam roer inteiramente pela dor e pelo
silêncio.
Peço o mais solene respeito para os
deprimidos.
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