Pesa em teu sangue a voz de
ignoradas origens
As florestas guardaram na sobra o
segredo da tua história
A tua primeira inscrição em
baixo-relevo
foi uma chicotada no lombo
Um dia
atiraram-te no bojo de um navio
negreiro
E durante longas noites e noites
vieste escutando o rugido do mar
como um soluço no porão soturno
O mar era um irmão da tua raça
Uma madrugada
baixaram as velas do convés
Havia uma nesga de terra e um
porto
Armazéns com depósitos de
escravos
e a queixa dos teus irmãos
amarrados em coleiras de ferro
Principiou aí a tua história
O resto
a que ficou pra trás
o Congo as florestas e o mar
continuam a doer na corda do urucungo*
Raul Bopp nasceu em Tupanciretã,
cidade do Rio Grande do Sul, em 1898, e morreu em 1984, em Porto Alegre. Formou-se em
Direito, Bopp, depois de longas viagens pelo Brasil e pelo exterior, seguiu
carreira diplomática. Sua obra poética é formada por dois livros: Cobra
Norato e Urucungo.
A poesia de Raul Bopp tem como
ponto de partida a pesquisa do folclore brasileiro, principalmente o amazônico,
e a investigação da nossa história.
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