segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Missa Crioula



Para o meu sobrinho Pedro Monteiro Reisdorfer e ao
amigo Moacyr Brum – embaixador da cultura dos pagos.

Das Missões ainda sou filho
e camperear... ainda bem sei.
Às vezes, peço um auxilio
pra tosquiar, domar, marcar,
ou plantar meu próprio milho.
E não quero Lhe enganar
‒ ou olvidar o Seu brilho ‒
mas com a ida de mi madre
ficou este guacho, um filho,
sem oração e sem padre...
Ouço longe os campanários
sem meus joelhos dobrar.
E cada cantar dos canários
‒ sublime forma de orar ‒
é uma alma que gorjeia.
A mãe que cede o peito,
o lavrador que semeia,
e quem boleia de jeito
mantém a fé de mão cheia.
Não me tome por bruto
Se meu crer é canguçu
E o meu rezar diminuto...
A pioneira Paraguaçu
também ela fez assim
antes de ser a madona
começou sendo mirim...
E um mestre, bota-amarela,
lá das bandas d’Erechim,
disse ter alergia a vela,
o meu Senhor do Bonfim.
Por isto, agora, eu pelejo
sem pretensão ao perdão.
Cavalgando meu azulejo
e vendo a alba, já penso
estar olhando a um vitral.
Meu nariz sabe a incenso
‒ e o vento separa o trigal –
cortando como um relho...
E neste oratório rural
‒ diante do Patrão Velho
e mantendo as  mãos postas -
ouço as vozes de Belém
a ecoar com as respostas:
‒ Amém, amém... amém!

Feliciano Tavares Monteiro
Villa Catita - em 10 de setembro de 2016.


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