terça-feira, 20 de setembro de 2016

Lenço Colorado


Glaucus Saraiva


Pedaço de sol poente
no meu pescoço amarrado!
Velho lenço colorado
batido pelo minuano,
és um soluço de pano
que me brota da garganta.
Em meu peito se agiganta
um recalcado gemido
por ter enxergar decaído
na paisagem do presente,
como um pássaro doente
no seu último estertor
como as asas de um condor
que envelheceu de repente.
E nessa tristeza ingente,
como um gaúcho não chora,
faço soluçar a espora
pra traduzir minha dor.
Desde a velha “Maraghat”
- nas plagas do antigo Egito –
vinhas coloreando gritos
de liberdade e de guerra.
Voando de terra em terra,
cabresteando à sina estranha.
Te entreveraste na Espanha
entre mouros e cristãos.
E te arrinconaste, então,
pela “Maragateria”.
Foi de lá que a bizarria
de um destino oculto e vago
te arrastou para este pago
de virgem terra pampeira.
Chegaste – Oh! águia altaneira –
pressagiando pugilatos
com os primeiros maragatos
 que acamparam na fronteira.
E foi na aurora do pago,
como rubro sol nascente
que inspiraste à nossa gente
sua guerreira trajetória.
Foste o topete da História
da gauchada andarilha,
que nas peleias caudilhas
atado à lança guerreira,
te ostentou como bandeira
para pelear nas coxilhas.
Vieste de “Trinta e cinco”,
peleaste em “Noventa e Três”;
te insurgiste em “Vinte e Três”.


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